[17] O DILEMA DE SER A ÚLTIMA A ENTENDER TUDO

544 107 113
                                    

Culpabilização
Ser mulher em uma sociedade machista é sentir culpa por tudo: por não querer transar, por não estar arrumada, por ter sido estuprada, . A culpabilização é o processo de ser culpada por todas essas coisas (e por muitas outras). Por exemplo: se uma mulher é estuprada e dizem que ela 'estava pedindo', dizemos que a vítima foi culpabilizada.

 Por exemplo: se uma mulher é estuprada e dizem que ela 'estava pedindo', dizemos que a vítima foi culpabilizada

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Eu não quero ver ninguém.

Antigamente, não querer ver ninguém era normal. Atualmente, não querer ver alguém é sinal de que você está a um passo de ser diagnosticada com um dos transtornos presentes nas quase mil páginas do manual psiquiátrico que alunos de Psicologia são obrigados a estudar. Bom, pelo menos eu deveria estudar. Mas minha cama e Dear White People é muito mais interessante que Psicopatologia.

E é por isso que estou praticamente reprovada na matéria.

Como consigo tirar notas tão ruins numa disciplina que só preciso abrir o livro e copiar os sintomas na prova é uma coisa que ninguém consegue entender.

— Eu não sou obrigada a ver você sentir pena de si mesma – Cat diz, cruzando os braços e parando na porta do meu quarto. – Sai dessa cama e vai dar, Kartini!

Mostro o dedo do meio para ela, que revira os olhos para mim.

— Será que é proibido ter um dia ruim na vida? – resmungo.

— É – Bruno diz aparecendo sabe-se lá de onde e como, já que não atendi nenhuma ligação dele nas últimas horas –, quando você namora um cara maravilhoso como eu.

— Eu não lembro de ter começado um namoro com você.

Bruno dá um sorriso enorme e eu rosno para mim mesma ao perceber como raios ele é tão bonito. Devia ser crime um branco ser gostoso desse jeito, mesmo quando insiste em manter o coque samurai que sempre me fez desacreditar na humanidade.

— Parece que nem da cama você vai precisar sair para dar, hein? Que piranha sortuda – Catarina resmunga e bate a porta antes que eu possa reclamar.

— Quem abriu a porta pra você?

— As portas sempre se abrem para mim – ele dá de ombros.

Jogo a almofada nele, que desvia e ri, pulando na cama ao meu lado. É ridículo eu me pegar rindo, também, porque em outro lugar essa frase me faria querer vomitar. Talvez eu esteja mesmo mal. Talvez eu devesse mesmo ser diagnosticada segundo algum transtorno do DSM que está amparando o notebook enquanto a série se desenrola a minha frente.

— Que é que tá pegando, gata? Tu fugiu de mim a semana toda. Até parece eu no final do meu ex-relacionamento.

— Fazer isso não é nada legal, sabe?

Ele dá de ombros e um sorriso de canto que quase, quase mesmo, o deixa angelical.

— Vamos lá, tá rolando uma intervenção massa na praça que é a sua cara. Por que tu tá enfiada nesse quarto?

DespadronizadasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora