[11] O DILEMA DAS APARÊNCIAS

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AUTOCUIDADO:

   Recusar se envolver é uma forma de autocuidado. Quais as conversas você decide participar, quais assuntos você escolhe discutir, são inteiramente à sua discrição. "Você sabe que o primeiro ato de autocuidado para nós como pessoas negras pode estar em reconhecer que nós merecemos ser atendidos em primeiro lugar? Visto como humano? Especialmente as mulheres negras." (Trudy Hamilton)

O dia bonito de Ponte Belo estava zombando com a minha cara

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O dia bonito de Ponte Belo estava zombando com a minha cara. Só isso explicava o céu azul que quase chegava a fazer meus olhos doerem. Eu estava furiosa e não fiquei muito mais feliz quando vi qual era a comida do dia no Restaurante Universitário. Feijoada não era um prato muito legal para veganos. Mas, ao menos, a opção para vegetarianos não estava tão ruim...

Estava procurando um lugar para sentar, porque aquele horário era o pior para decidir almoçar, quando a mão de Vênus balançou no ar, chamando minha atenção. Eu abri um sorriso e caminhei até ela, só me dando conta de quem estava ao seu lado tarde demais para recuar sem parecer muito arrogante ou mal-educada.

A garota de cabelos avermelhados também não parecia muito contente com minha aproximação, mas, como ela também estava na metade de seu prato, não tinha para onde correr.

Certo, tudo bem. Definitivamente, hoje não era um dia para eu ter saído da cama.

— Queria mesmo falar com você – Vênus disse, antes de se sentar. – A reunião do C.A é uma hora, né?

O C.A. Merda.

Eu sufoquei um grunhido e larguei a bandeja vermelha com mais força do que deveria sobre a mesa. A garota ao lado de Vênus deu um pulo e eu resmunguei, vendo o pouco de suco se derramar em volta do prato.

— Maravilha! – Deixo meu corpo cair na cadeira, em frente minha amiga.

— O que aconteceu? – Vênus cerra os olhos para mim. – Eu soube que você teve um encontro sexual ontem, não deveria estar melhor?

— O que? Como você soube tão rápido?

Ela se limitou a dar de ombros, cutucando sua comida.

— Acabei de sair de uma entrevista de estágio. Na empresa de seu namorado.

— Na empresa da família do meu namorado, você quer dizer – ela me corrige. – O que você foi fazer lá? É isso que a nossa professora de psicanálise estava querendo dizer quando tentou explicar pulsão de morte? – Ela encarou Isabella.

— Não faço ideia do que ela queria dizer – ela resmunga, sem parar de encarar sua comida.

— Era um estágio legal.

— Numa empresa? – Vênus volta a me encarar.

— Não exatamente. Era uma vaga para um posto clínico, dentro da empresa. Parecia legal.

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