[7] O DILEMA DAS RELAÇÕES FAMILIARES

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Consentimento
Consentir é dizer 'sim' para algum tipo de envolvimento sexual, do beijo à transa, tendo plena vontade, por livre escolha e compreendendo todas as consequências desse envolvimento. Uma menina bêbada e quase desmaiando, por exemplo, NÃO tem a capacidade de consentirnada. 

— Raden – a voz do meu pai soa primeiro do que sua imagem aparece na tela, e eu paro de grifar a frase do texto no meio, sorrindo para meu computador

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— Raden – a voz do meu pai soa primeiro do que sua imagem aparece na tela, e eu paro de grifar a frase do texto no meio, sorrindo para meu computador. Raden é como ele me chama, porque é o título de aristocrata da garota que deu meu nome, uma feminista da Indonésia que lutou por melhores condições educacionais, principalmente para as mulheres. Meu pai tirou a barba e agora está só com um bigode, gigante, como do Leminski, e isso me faz rir – O que foi?

— Seu bigode, Pássaro Azul.

— Eu sabia que você ia comentar sobre isso – revira os olhos, e passa a mão pelos bigodes – Mas eu fiquei gato, não é?

— Minha mãe já viu?

— Não – ele coloca a mão na boca, como se fosse contar um segredo – Ela ainda não chegou do Plantão e eu fiz isso tem pouco tempo. Você é a primeira a ver.

— Me sinto honrada – sorrio – Mas mamãe vai surtar, você sabe, não é?

— Meu corpo, minhas regras.

Eu rio, de novo, e pela primeira vez desde a festa de ontem, sinto meu coração perder um pouco de peso e consigo respirar com mais facilidade. Meu pai arqueia a sobrancelha para mim e passa os dedos outra vez pelo bigode.

— Você está bem?

Forço um sorriso, tentando passar tranquilidade. Sei que não convenço meu pai, porque ele cerra os olhos e se aproxima mais da tela, como se quisesse se aproximar mais de mim.

Meu pai é a pessoa que melhor me conhece no mundo. Nunca consegui mentir para ele, porque ele sempre desconfiava de alguma coisa e me fazia tantas perguntas que eu me confundia e acabava confessando. Não me lembro de nenhuma vez que ele brigou comigo, por isso. Todas as vezes que ocorreu, ele apenas me dava um sorriso e dizia:

— Toma cuidado com suas palavras, Raden. Não se joga palavras ao vento, e mentiras são exatamente isso.

Ele mantém o cenho franzido enquanto espera minha resposta. E eu dou um suspiro longo, fechando os olhos.

— Fui numa festa ontem e não acabou muito bem – confesso, por fim.

Não era como se eu fosse mesmo esconder dele. Na verdade, estava esperando por nossa hora de facetime justamente para contar. Eu sabia que, se meu pai não me compreendesse, ninguém mais conseguiria. E eu precisava conversar com alguém que iria me ouvir, sem nenhum julgamento.

— Devo me preocupar com gravidez indesejada ou doença sexualmente transmissível?

— Ai, deusa, não! – me encolho na cadeira – Com certeza, não.

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