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Ohhh boi.

Nathan não teve coragem de se erguer e ir embora, não teve coragem de fazer nada. Ele acabou ficando ali tentando recuperar os vários caquinhos de vidro do espelho da dignidade quebrado pelo o chão, amaldiçoando-o com mais sete anos de azar, o tempo mínimo que levaria para esquecer aquela situação horrível da sua cabeça.

Resultado: Não estava nada bem quando a porta da sala foi aberta. Nathan se ergueu, no impulso de correr dali no pânico, mas acabou se bloqueando mais uma vez ao ver Miguel o procurando e o achando, indo até ele em seguida.

Ele não foi o único a sair: Todos da sua sala faziam o mesmo, olhando, rindo e comentando de Nathan.

Miguel o distraiu de todo o seu desespero social entrando em seu campo de visão com uma expressão preocupada. Não irritado, indignado ou coisa do tipo, apenas preocupado.

Ele usava uma calça skinny negra, tênis allstar cor de sujo, e uma blusa longa, chegando até o meio das suas coxas, larga vermelha em que estava escrito: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Por que se você parar pra pensar na verdade não há a a a."

Era bom saber que, independente da merda da situação, Nathan continuava considerando Miguel fofo, como quando ele pareceu um bebê emburrado no parque e pediu desculpa por ter lhe comprado um sorvete. O que vinha depois sua mente não se estendia tanto para considerar.

"Hããã..." Miguel soou muito inteligente, sem saber o que dizer. "Posso te ajudar?"

Nathan abriu a boca, mas não teve tempo de falar.

"Maldonado," a professora assustadora parou na frente dos dois, olhando diretamente para Nathan e fazendo o coração dele perder uma batida. Como assim ela sabia seu nome? "posso entender por que você está invadindo a minha sala durante uma prova, sendo que o seu curso fica do lado do campus?"

ESSA PROFESSORA ME CONHECE. ELA SABE O QUE EU FIZ NO VERÃO PASSADO.

Nathan disse para si mesmo não entrar em pânico, enquanto já estava em pânico. Até mesmo Miguel parecia confuso e assustado por ele.

"Eu... Huh..."

Nathan não tinha como se salvar ali. Não tinha.

"Desculpa, Rosacruz, a culpa foi minha." Miguel tomou as rédeas da situação por Nathan. "Eu pedi para ele me ver, mas eu não falei que estava em prova e muito menos que não tinha acabado ainda."

Provavelmente esse foi o momento que Nathan se apaixonou igualzinho a donzela em perigo pelo o cavalheiro no cavalo branco.

Miguel poderia levá-lo para cavalgar em qualquer momento.

"Então agora você subitamente usa o celular na minha aula, Miguel?" a tal de Rosacruz (que tipo de sobrenome é esse?) exclamou, debochada e venenosa demais para o gosto de Nathan. "Eu não me lembro de ter visto isso."

"Foi antes." Miguel insistiu, sem largar a mentira nem por um instante. Ele parecia ser bom nisso. "E por isso deu tão errado. Como você disse o curso dele fica do outro lado, então é a primeira vez do Nathan aqui. Ele está muito arrependido."

Miguel olhou para Nathan, e enquanto sua voz era doce e mediadora para acalmar a professora, seu olhar era furioso e imperativo, o ordenando a, pelo menos, fazer a sua parte ali. Nathan o obedeceu na hora:

"Eu 'tô." ele assentiu que nem idiota. "Eu não 'tô nem conseguindo falar sobre, professora..."

"Você nem se lembra de mim, não é?" Rosacruz semicerrou ainda mais os olhos, provando para Nathan que era possível. Miguel olhou Nathan, depois olhou Rosacruz, e depois Nathan de novo, como a plateia de um jogo de Ping Pong acompanhando a bolinha. "Ah, eu nem sei por que eu me importo." ela suspirou de forma pesada e cruzou os braços. "O seu cérebro é menor do que a bola que você fica jogando para um lado e para o outro naquela vergonha de time de basquete."

E foi com isso, com esse comentário, que Nathan a reconheceu:

"Dona Rosa!" exclamou surpreso.

Miguel o olhou como se Nathan tivesse criado uma segunda cabeça que falava mais besteira do que a atual.

Rosacruz grunhiu.

"Eu já falei mil vezes para você e para aquele bando de trogloditas pararem de me chamar assim. Agora, é melhor não tornar essas visitas um hábito." ela começava a assumir um tom absoluto. "Não sei o que há entre vocês dois, mas o Miguel é um dos meus melhores alunos, e eu não quero que o influencie."

Nathan teve que se focar em controlar uma risada nasal, completamente debochada e um tanto eufórica, por conta do que ela dizia. Ele ainda estava em pânico e envergonhado, mas agora de forma bem mais controlada graças à ajuda de Miguel e o fato de lembrar quem Rosacruz era.

Se risse, seria de nervoso pela a professora automaticamente ter relacionado os dois em algo romântico e não em amizade, como era o comum a se fazer quando se colocava dois garotos na mesma imagem.

Rosacruz voltou para a sala, provavelmente para pegar as suas coisas e fechá-la, e foi nesse momento em que Miguel e Nathan ficaram, finalmente, sozinhos.

"O que foi isso?" Miguel tinha as duas sobrancelhas arqueadas de tanta confusão.

Então Nathan pode solar o riso. Ele riu do mesmo jeito que você ri quando passa por uma situação difícil dificilíssima que tinha certeza que não iria sobreviver e sair vivo.

Era riso de euforia, felicidade e quase nada de alívio. Mais tarde, Nathan realmente precisava parar e repensar o que estava fazendo da sua vida. Ah, mais tarde ele levaria uns bons socos da vida pela a vergonha que havia passado ali.

"E ai," Nathan finalmente conseguiu falar. "quer tomar um sorvete?" 

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora