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Eu não gosto de você, não quero mais te ver
Por favor não me ligue mais
Eu amo tanto você, sorrio ao te ver
Não me esqueça jamais
Eu não gosto de você, sorrio ao te ver
Não quero não te ver jamais
Eu pareço com você, no espelho está você
Não me enlouqueça mais


Nathan torceu o nariz de leve ao reconhecer a letra da música. Olhou para Miguel, e o garoto torceu o nariz de volta ao perceber a careta.

"Se você falar mal de Baco Exu do Blues, a gente vai terminar aqui e agora." Miguel ameaçou.

Nathan só conseguiu sorrir com o termo terminar. Como se eles tivessem um compromisso para terminarem.

"Não é o meu tipo de música, mas reconheço que é bom 'pra caralho." decidiu responder sincero.

Miguel permitiu um sorrisinho antes de fechar a porta do quarto às suas costas. O quarto ficava no segundo andar, tão amplo quanto a cozinha ou a sala, com paredes de um tom bem claro de amarelo e quadros pendurados entre pôsteres de bandas e filmes.

Viu também um quadro idêntico ao de Marina na sala, com o garoto negro de cabelos azuis escuros e o aquário ao redor da cabeça.

"Você já perguntou 'pra sua mãe o que significa?" Nathan questionou apontando para o quadro realmente curioso. Miguel se aproximou sorrindo graças à pergunta.

"Ela pintou 'pra mim no meu aniversário de quinze anos. É meio que uma idade importante para mexicanos."

"Para garotas, né? Quinceañera e essas coisas?"

Miguel riu.

"Isso não tem nada a ver com festa de debutante, Nathan." Miguel retrucou risonho. "É meio que a idade oficial que você deixa de ser criança, e a adolescência é só uma preparação dolorosa para a vida adulta." o tom de Miguel ficou mais baixo, assim como seus olhos caíram ao observar o quadro. "Esse quadro representa o que eu superei da minha infância. É tipo uma lembrança do que eu sobrevivi e venci no final."

"Como assim?"

Em vez de responder, Miguel sentou-se no assento branco embutido com a grande janela no seu quarto. Ana Júlia o seguia fielmente, deitando-se no colo do garoto sentado. Sorrindo delicadamente, cheio de amor pela cadela, Miguel moveu Ana Júlia para que Nathan tivesse espaço de se sentar ao seu lado, caso quisesse.

Ana Júlia ficou claramente indignada com isso, mas se contentou em resmungar baixinho e aceitar. Ela fugiu junto com os dois das crianças e dos outros familiares no andar de baixo, quando eles conseguiram se desvencilhar após o almoço.

Nathan percebeu que Anaju fazia questão de andar sempre à frente, como se para mostrar a real dominância no território, enquanto observava todos os seus movimentos de perto.

Ok, a cachorra não ia gostar mesmo dele, hem?

Nathan ainda conhecia o quarto enquanto andava até sentar-se ao lado de Miguel. Ele tinha duas estantes de madeira escura, uma do lado da outra, cheias de livros, ambas largas o suficiente para tamparem uma parede inteira, ao lado da cama de casal com lençóis brancos e bagunçados.

A escrivaninha de Miguel era feita da mesma madeira escura, com três prateleiras por cima com bichos de pelúcias, fotos, action figures, cadernos e outras decorações. A superfície da escrivaninha transbordava em papéis, livros pesados, materiais escolares e cadernos, com um notebook perdido e pedindo por socorro ali no meio, conectado nas caixinhas de som que permitiam que ouvissem a playlist calma e alternativa de Miguel.

Peixes Fora do Aquário (✔)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora