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Um travesseiro de fronha branca o acertou em cheio no meio do rosto.

O susto e a dor causada por ter sido acertado onde já estava machucado fez com que Nathan voltasse à realidade, saindo do transe que entrou por conta do puro cansaço que sentia. Cansaço esse acumulado da semana inteira, assim que era uma hora da manhã de uma sexta feira – também conhecido como o único momento em que Nathan conseguiu tempo para respirar, tendo chegado à sua própria casa com Roger há pouco tempo.

Decidiu que Roger dormiria na sua casa, pois não estava em condições de levá-lo embora. O que não era incomum entre eles, considerando que voltavam juntos toda vez que podiam – se não dormiam na casa de Nathan, dormiam na casa de Roger.

"Que porra é essa." Nathan resmungou sem realmente questionar, tocando o próprio rosto e se arrependendo amargamente por conta da dor que sentiu. "Qual a necessidade dessa merda?" agora perguntava.

Roger o olhava feio.

"Eu estou falando com você há minutos e só agora eu descobri que você 'tava me ignorando todo esse tempo."

"Eu não te ignorei." Nathan resmungou sem forças. Roger continuou apenas o olhando, sem acreditar em Nathan nem por um segundo. "O termo correto é morrer por dentro. Mesmo assim, precisava me bater? No meu rosto fudido, ainda por cima?"

Roger revirou os olhos.

"Foram minutos falando que nem idiota e mais outros minutos te chamando à toa. Tudo que me restou foi te bater." Roger soou exasperado. "Você é tão protagonista de fanfic que me dói, sabia? Quando é você falando por horas dos seus problemas, eu te escuto. Mas se eu começo a falar de mim mesmo, cadê o retorno? Você tem a audácia de olhar para a minha cara e falar que morreu por dentro."

Nathan não conseguiu controlar e acabou rindo do drama de Roger, sem forças para se irritar com qualquer coisa. Roger ficou escandalizado.

"Eu não fiz de propósito, chorão." Nathan suspirou realmente cansado. Ele esticou o corpo e todos seus ossos estralaram. Roger franziu o cenho, mortificado com o barulho. "Eu estava ouvindo e simplesmente desliguei." Nathan voltou a olhar para Roger. "Tanto que eu lembro que você estava falando sobre a feminazi..."

"Mônica." Roger corrigiu, ainda de cenho franzido. Nathan grunhiu, deixando as costas caírem sobre a cama.

"Tanto faz. O que importa é a compreensão na comunicação, não é? Você me compreendeu bem."

"Não é assim que variação linguística funciona e você sabe."

Nathan grunhiu de novo.

Houve um instante de silêncio e, então, Nathan percebeu a cama afundando ao seu lado. Com dificuldades para sequer se mover agora que finalmente deitou, Nathan virou o rosto e abriu os olhos, vendo Roger deitado de barriga para cima encarando o teto.

Infelizmente quando criança ele colou no teto aquelas estrelas que brilham que foram febre nos anos noventa para crianças de classe média. Só quem tem essas merdas sabe que elas não descolam nunca mais, e apesar de odiá-las agora, continuavam no mesmo lugar – encarando-o de cima para baixo como se estivessem o julgando por ter se tornado uma decepção.

O quarto de Nathan era muito branco. As paredes, o teto, os móveis de plástico que eram praticamente atemporais.

A casa toda dele foi construída e decorada com a intenção de ser branca e neutra, e a obsessão de limpeza dos pais reinava por todos os cômodos – inclusive o dele. Eles não contratavam ninguém para limpar – seus pais eram contra esse tipo de trabalho. Acreditavam que, para se ter uma boa relação com a própria casa, você precisa limpá-la.

Peixes Fora do Aquário (✔)Where stories live. Discover now