Capítulo 22 - ADMDA

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Luís Fernando dos Santos Bianchi.

Eu estava tão impressionado com o talento que Leone transmitia naquele palco, não parceria aquele garotinho tímido e meigo. Ele estava selvagem, feroz e ousado. A sua voz estava impecável, principalmente as coreografias sincronizadas com os dançarinos. E mais uma vez, ele havia me surpreendido. Agora ele estava deitado ao meu lado, extremamente apagado e com certeza cansado, depois de meses e meses ensaiando, estudando e trabalhando. Eu até queria dar um tempo de folga para ele, mas é muito orgulhoso e teimoso e acabou recusando. Mas também, me alegrava porque sempre estava disposto para o trabalho mesmo cansado e estava longe de ser interesseiro. Tanto que quando estamos em minha empresa, ele faz questão de me chamar de senhor, e eu acabo ficando puto com isso.

Ele dormia tão tranquilamente, sua respiração estava intensa, ele precisava desse repouso. Eu o analisava e sorria involuntariamente. Havia passado com por tanta coisa, enfrentando tantos absurdos, racismo, assédio, homofobia... fora que havia sido abandonado pelos pais. E sinto que ele precisava de mim. Precisava do meu apoio, da minha força, da minha proteção e eu prometo por mim mesmo que eu serei seu escudo.

O puxo mais para mim, confortando seu corpo ao meu, sua pele estava em uma temperatura morna, apalpo sua bunda e deixo minha mão por cima dela, deixando Leone em meu peito. Cheiro seus cabelos pretos visivelmente cacheados e estavam cheirosos, aliás, ele tinha um cheiro doce de que me excitava de tanta delicadeza.

O corpo de Leone estava meio mole, poderia ser cansaço, já que ele doou toda energia que tinha para o projeto.

— Amor? — Deslizo meu polegar no rosto do menor com delicadeza, o acordando devagar.

— O que houve, Nando? — Ele diz em um tom sonolento, já que havia acabado de despertar.

— Você está se sentindo bem? Seu corpo está tão leve...

— Estou um pouco indisposto, fraco... por quê?

— Ouça Léo, você precisa de alimentar, não comeu nada desde ontem quando terminou de performar, a sua apresentação foi pesada, você precisa se alimentar.

— Hmm, eu estava cansado, Nando. Também não estava com fome, por isso não me alimentei. Só quero descansar.

— Mas vai comer, Leone, estou falando sério. — Disse firme e rígido.

— Mas eu não estou com fome. — Ele disse em uma voz manhosa e fofa.

— Mas pequeno, não quero que essa sua fraqueza piore, precisa se alimentar, nem que seja uma maçã. Aliás, vou preparar uma vitamina de banana com aveia para você, entendido?

— Tá bom...

— Fica aqui descansando, que eu vou preparar, volto logo. — Depositei um beijo em suas madeixas e fui até a cozinha e preparei uma vitamina de banana acompanhada de algumas frutas, bastante nutritiva.

Volto para os aposentos e ele havia voltado a dormir. Suspirei não querendo acordá-lo, mas eu não poderia deixar que ele não se alimentasse. Por via das dúvidas, busquei no contato de Henrique no telefone e liguei.

— Alô, Henrique? Bom dia, desculpa te incomodar mas você pode me ajudar com uma coisa?

— Oi Luís, bom dia! Não me incomoda não, o que houve? Aconteceu alguma coisa com o Leone? — Ele questionou preocupado.

— Bom, ele não comeu quando terminou de se apresentar, nem quando voltou para casa. Eu acordei ele e senti que seu corpo estava mole. Mas ele disse que estava se sentindo fraco, também. Preparei uma vitamina de banana mas ele voltou a dormir. O que faço?

— Acorde ele novamente. Olha, vou ser bem breve com você... Leone, ele não se alimentava direito porque já foi gordinho e sempre estava fazendo bulimia e sempre desmaiava no trabalho e na faculdade.

— Mas agora que ele começou a malhar nunca mais aconteceu, já tem um ano que ele se alimenta bem. Mas não é legal deixar ele sem comer, dê a vitamina para ele.

— Nossa, eu não sabia que Leone tinha problemas com o corpo, ele nunca me contou...

— É um assunto bastante delicado para ele, Nando, o compreenda. Só não deixe acontecer de novo.

— É... — Olhei para trás, vendo Leone adormecido. — Vou fazer isso, vou dar a vitamina para ele. Obrigado por me contar, Henri. Até logo.

— Tchauzinho, Nando.

Ao encerrar a ligação, senti uma sensação estranha ao saber que Leone além de ter sido expulso de casa, ter sido assediado e sofrido racismo, ainda tinha essa para completar a coleção de tristeza dele...

Me aproximei dele novamente, o tocando delicadamente para despertar.

— Leo, vamos, acorda... Já preparei a vitamina, depois você volta à dormir.

Ele desperta relutando, o entrego a bebida e vejo ele beber aos poucos.

— Eu não quero mais. — Ele havia me devolvido o corpo com metade do líquido.

— Mas você vai beber, Leone! Anda, bebe! — Ele me encarou sem entender e bebeu toda vitamina.

— Pronto.

— Bom menino. — Digo, colocando o copo na bancada ao lado. Volto para cama e o abraço.

— O Henrique me contou que você teve sérios problemas com seu corpo... eu sei que não deveria ter tocado no assunto e entendo por você não me contar. Mas quero que saiba que pode dividir seus pesos comigo.

Ele me encarava assustador. — O que ele disse?

— Disse que você já foi gordinho, que você forçava o vômito, que desmaiava na faculdade e no trabalho, e que depois que você começou a malhar você havia parado.

Ele olhava para os lençóis que estavam na cama, envergonhado, engolindo seco. Eu seguro suas mãos em um gesto de confiança.

— Pode se abrir comigo... ele não me contou por mal, mas sim, porque se preocupa com você.

— Eu já fui gordinho, minha infância inteira, teve uma vez que foi o meu aniversário de oito anos e eu tinha uma consulta com o pediatra justamente nesse dia. Ele me ofendeu me chamando de folga de poço, baleia fora d'água e outras piadas gordofóbicas. — Eu estava calado, apenas o ouvia com total atenção.

— Depois disso, eu não consegui comer nem o meu bolo de aniversário de tão triste que eu fiquei. Quando cheguei na adolescência eu comecei a fazer o ato da bulimia. E quando fui expulso de casa, emagreci mais ainda, chegando a pesar quarenta e quatro quilos.

— Aí me zoavam por estar magro, ou seja, ofendido por ser magro, ofendido por ser gordo. Hoje eu gosto do meu corpo e só ouço elogios sobre ele porque infelizmente precisei entrar em um padrão de corpo, para parar de receber críticas.

— Mas eu amo todos os corpos, do mais magro ao mais gordo. E nada disso importa, porque corpo não passa disso, corpo. Mas ainda sim, é um assunto bastante delicado para mim. Desculpa por não ter contado. — Ele se aproxima e me abraça.

— Não tem porque pedir desculpa, meu anjo. Estou aqui para o que você precisar, eu prometo que não vou deixar ninguém te maltratar, eu prometo.

Nos abraçamos e deitamos juntos novamente, já que era sábado e nós não iríamos trabalhar, aproveitamos o dia para descansar e curtir.

Continua...





A DIFERENTE MANEIRA DE AMAR - (Romance gay)Where stories live. Discover now