Amor Real 3 - Confiar

Capítulo 3

Milena carregava ao menos quatro livros, enquanto Rachel segurava outros três, contudo, ainda assim eu não estava satisfeita, buscando por uma obra específica.

— Não seria aquele o que você está procurando? — Milena apontou com a cabeça para uma das prateleiras a nossa frente. — Ao lado do livro azul.

Segui com o olhar na direção indicada e sorri quando reconheci o título.

— Lendas e histórias de autoria desconhecida — li em voz alta tirando o livro do lugar onde ele repousava sem ser incomodada há muito tempo. — É este mesmo.

Um traço de alívio atravessou o rosto da minha assessora e Rachel sorriu. Avaliei a capa e contracapa vermelha da obra, apreciando o conjunto da tipografia em harmonia com o arabesco e, satisfeita, caminhei acompanhada das duas pela grande biblioteca de Hawis até o lugar onde mesas e cadeiras nos aguardavam.

Inquieta após vários dias improdutivos no Palácio, resolvi me render ao encanto da biblioteca. Eu precisava fazer algo ou ficaria louca antes de podermos retornar para Kent e iniciar com as nossas obrigações oficiais. Já tinha tentado várias outras atividades, como estudar um pouco mais sobre protocolos, mas, ainda assim, sentia-me entediada. Foi Rachel quem sugeriu uma ida até a biblioteca e quando eu acatei a ideia, pedi as duas para me acompanharem, já que não gostaria de ficar sozinha.

— Eu não pensei que sentiria tanta falta de ter uma responsabilidade — confessei colocando os livros na mesa.

— Elas chegarão logo. Há murmúrios por aí de que o Príncipe Elliot não pretende se manter distante do poder por muito tempo — Rachel comentou deixando os livros que ela carregava ao lado dos meus.

— Não são murmúrios. — Sentei na cadeira e espalhei os livros na mesa à minha frente. — Ele realmente não vê a hora de assumir o governo.

Era verdade. Desde quando recebeu alta hospitalar para ser transferido para a enfermaria do Palácio, o herdeiro alegava estar recuperado e sem necessidade de todo o cuidado médico que continuava recebendo. Mesmo sendo uma situação delicada que exigia observação, a surpreendente melhora o fazia crer estar pronto para lutar numa batalha se fosse preciso. E, de fato, a não ser pelos hematomas e vários pontos na cabeça, nada na postura de Elliot denunciava ter estado tão próximo da morte poucos dias antes.

Eu havia o visto no domingo, logo quando o Príncipe e o Rei chegaram ao Palácio. Meu sogro convocou toda a família para uma reunião íntima, sem esquecer de citar meu nome e exigir minha presença. Sensibilizado, embora ainda abatido e expressando sentir muita dor física, fez questão de celebrar um pequeno culto a Deus, em gratidão ao livramento. Eu me emocionei, bem como a Rainha e Cloe. A atmosfera daquele dia me lembrou muitos momentos que eu havia vivido com meus pais e Oliver. E foi nessa reunião que testemunhei com meus próprios olhos as atitudes de Elliot.

— Ele bombardeou Edwin de perguntas. Se não fosse a intervenção da Rainha, ele teria exigido um relatório político completo. — Abri o primeiro livro e suspirei, descansando minhas mãos em cima. — Sinceramente, eu vou gostar muito se ele assumir o governo logo. Quero voltar para Kent.

E ter meu marido por mais tempo e com menos preocupações, essa era a verdade.

— Eu sei e entendo o seu desejo — Milena falou após se sentar na cadeira ao meu lado —, mas me deixe comentar como o Príncipe Edwin tem se mostrado um excelente chefe de estado. Mesmo em tão pouco tempo, ele se manteve centrado e conseguiu resolver os problemas de cabeça erguida. Sei que ele não fez isso sozinho, mas foi admirável como lidou com a situação estando tão envolvido pela preocupação com o pai e o irmão.

Ouvir Milena elogiando Edwin fez meu sorriso se abrir se uma orelha a outra.

— Ele é maravilhoso mesmo. Dei muita sorte, eu sei. — Notando o olhar romântico de Rachel, que facilmente se deixava levar por histórias de amor, eu dei uma risadinha. — Mas, Edwin tem seus defeitos. Comecei a ter dificuldade com o jeito racional dele em horas em que deveria ser menos diplomático, e mais sensível.