Capítulo 23

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Sentada na poltrona mais confortável do quarto, eu orava após o encontro com o pastor Bonnie. Ele sugeriu não interromper os momentos de aconselhamento, que aconteciam mesmo à distância, fazendo uso dos recursos tecnológicos para darmos continuidade às reuniões pastorais. As videochamadas não eram a mesma coisa de uma conversa ao vivo, mas funcionavam bem.

A cada sessão eu me perguntava por que havia demorado tanto em procurar ajuda para lidar com minha perda. Eu reconhecia, é claro, o cuidado de Deus comigo e Oliver. A graça dEle me ajudou a passar pelos dias maus. Mas o Senhor instituiu uma família da fé aqui nesse mundo e ela também servia como apoio nos momentos difíceis.

Era bem verdade que o pastor Bonnie tinha algo diferente. Ele me conquistou com sua piedade aparente e sua sabedoria, além da insistência em pastorear uma ovelha necessitada. Os outros pastores que tive eram amáveis e acolhedores, mas eu preferi me isolar em minha dor e eles acataram meu desejo sem esforço. Mas eu decidi que não viveria mais no passado. A oferta de ajuda vinha em boa hora e eu a agarrei sem pestanejar.

As conversas nem sempre eram fáceis, mexiam em pontos sensíveis e ainda dolorosos, mas eu via resultado. Naquele dia em questão, ele me aconselhou a colocar em oração diante de Deus meus temores, e assim o fiz. Depois de algumas lágrimas, me sentia mais leve. E foi nesse momento que Edwin entrou no quarto.

— Está tudo bem? — questionei, estranhando a presença dele. Era para estar em uma reunião com o Rei e os irmãos.

— Sim — ele respondeu com um sorriso e tirou o paletó, depois a gravata. — Já acabou a chamada?

— Acabou. O que você está fazendo?

Edwin descalçou os sapatos e com um sorriso passou a desabotoar a camisa.

— Tenho uma competição.

— Uma competição? Agora? Como assim?

Ele entrou no closet, por isso sua voz ficou abafada quando me respondeu algo relacionado a cavalos. Levantei e fui até o encontro dele para tentar desvendar o mistério. Meu marido mudava as roupas sociais por algo bem diferente do que eu estava acostumada a ver.

— Roupa de montaria — ele explicou.

— E por que você está colocando essa roupa para uma competição?

Ouvimos batidas na porta. Ele me orientou a abri-la e receber as botas dele. O funcionário que cuidava do vestiário de Edwin me entregou o calçado, então levei até o closet.

— Vai me explicar? — perguntei depois de entregá-lo.

— Claro! — Ele se sentou no puf e começou o trabalho de calçar as meias. — Meu pai recebeu um convite muito especial. O ministro Morgan apresentará seu novo neto em uma cerimônia particular, seguida de uma comemoração. Como papai não pode ir — ele calçou as botas —, pediu para que um de nós assumíssemos o seu lugar.

— E você aceitou, não é? — questionei e recebi em troca um olhar súbito. — O que foi? Ele é um dos suspeitos. — Abaixei o tom da voz. — E não concordamos que nos aproximarmos deles era uma boa oportunidade para tentar descobrir algo?

— Ah, não! — Ele negou com a cabeça. — Não vale a pena o desgaste. Uma coisa é tê-lo por perto aqui, em ambiente seguro. As comemorações dele são regadas de bajulação a si mesmo e se vangloriando das conquistas da família dele. Vai por mim, Anne, não vale a pena.

Ele se levantou e aproveitou o fato de eu estar perto para deixar um beijo nos meus lábios. Depois, ajeitou a camisa e me encarou.

— Como estou?

Amor Real 3 - ConfiarWhere stories live. Discover now