Capítulo 8

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Edwin se encontrava mais quieto do que o normal. Já estava me acostumando com os momentos de introspecção, principalmente quando ele se via envolvido com problemas do trabalho — e da Nação. Porém, ainda mais voltado aos próprios pensamentos, me obrigou a permanecer calada apenas observando ocupar-se com alguns papéis espalhados sobre a mesa de seu escritório em Kent.

Ele parecia à espera de algo. Eu só não sabia exatamente do que.

— Vou preparar um chá para a gente — comentei.

Ele levantou o olhar num curto movimento e sorriu, parecendo se dar conta da minha presença na sala, como se, por um momento, tivesse se esquecido de que eu estava lá.

— Seria providencial, minha esposa.

— Estou tentando cumprir meu papel de auxiliadora com diligência. — Me levantei e, solene, levei a mão até o coração. — Afinal, não é para isso que servem as princesas? Além, é claro, de acenar e sorrir. — Terminei acenando e sorrindo para o grupo de pessoas invisíveis do outro lado da sala. Caminhei até um Edwin sorridente e beijei seu rosto. — Volto logo.

Andar pelos corredores de Kent me dava uma sensação diferente de quando fazia o mesmo em Hawis. Apesar do esplendor e grandeza do Palácio, eu conseguia me sentir em casa, afinal, fora ali onde eu vivenciei dias tão preciosos, conheci Edwin e me preparei para viver ao lado dele. Eu também conseguia permanecer mais perto de meu marido, às vezes apenas fazendo companhia a ele no escritório enquanto trabalhava. Além, claro, da presença de Samovier, agora ocupando o cargo de governanta que se esforçava para me agradar e deixar tudo o mais aconchegante possível.

Ao chegar na cozinha, ainda havia um pouco de estranheza na expressão das ajudantes novatas que não esperavam uma Princesa invadindo o local, com certa constância, para preparar ela mesma a comida. Não que fizesse isso em todas as refeições, me agradava a ideia de ter os cardápios, principalmente do almoço, elaborados pelo chefe, mas, cozinhar me dava uma impressão de estar desempenhando meu papel de esposa, algo mais próximo do que minha mãe me ensinou com seu exemplo.

A líder das cozinheiras se aproximou, disponibilizando-se a me ajudar. Após pedir para providenciar os ingredientes e o recipiente para o chá, ela retornou da dispensa com todos os itens. Preparei a infusão e permaneci conversando com as meninas sobre assuntos diversos, como livros. Quando ficou pronto, pedi que levassem até o escritório e retornei na frente.

Qual não foi minha surpresa, encontrei Esra sentando no lugar exato onde eu estava antes.

— Quando a saudade bate, ele sempre volta — recitei o ditado popular de Cibele, e não poderia ser mais relevante, já que a origem era uma referência ao que uma de nossas Princesas do passado dizia sobre as viagens solitárias do marido.

— Cunhadinha — Esra se levantou —, espero que tenha me incluído no chá. Soube por fontes confiáveis que você prepara os melhores de Cibele.

O sorriso contido de Edwin entregou quem era o delator. Não que houvesse algo de mais nos meus chás, era só o efeito do amor.

— Sempre preparo um pouco a mais.

Esra apertou minha mão e me auxiliou com a cadeira ao lado dele. Quando nos sentamos, ele cruzou as pernas e os braços. Notei, em cima da mesa, uma pasta vermelha que não estava ali antes de eu sair. A curiosidade aguçou meu desejo de pedir informações, mas evitei ser muito expansiva com meu cunhado nos fazendo companhia.

— A Anne sabe? — Esra dirigiu a pergunta para o irmão.

Edwin balançou a cabeça em negativa e me lançou um rápido olhar antes de responder.

Amor Real 3 - ConfiarWhere stories live. Discover now