Capítulo 14

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Por meia hora a xícara de chá à minha frente permaneceu intacta. O líquido se encontrava frio e meu coração angustiado. 

John aproveitou nossa reclusão na cozinha para sair com a pequena Sara, com uma desculpa qualquer sobre comprar frutas, mas eu sabia que ele tinha feito isso para me dar privacidade — e talvez poupar a filha de ouvir a Princesa chorando.

Phoebe foi muito sábia ao me dar espaço, sem desperdiçar tempo com conversas triviais, apenas estando lá, como uma boa companhia. Por vezes uma vontade súbita de chorar me acometia e eu colocava para fora as lágrimas. Depois, me acalmava e só conseguia pedir desculpas por estar atrapalhando.

— Já lhe disse, Alteza, não é nenhum incômodo. Nossa casa está aberta para você ficar o tempo necessário.

— Anne — murmurei de cabeça baixa. — Acho que já usufrui de liberdade o suficiente para dispensarmos qualquer formalidade. — Funguei e limpei o rosto com a costa da mão.

— Anne.

O sorriso dela era bondoso e verdadeiro. Constatar isso me fez querer chorar outra vez. Phoebe retirou a minha xícara da mesa, dispensou o líquido na pia e retornou com uma louça nova.

— Tome um pouco de chá, eu insisto. Vai ajudar a se acalmar. — Ela me serviu com a bebida quente outra vez.

Constrangida, aceitei a sugestão e tomei um gole, mas meu estômago fez questão de alertar que não estava disposto a receber nada.

— Você deve estar me achando uma menina boba. — Meus dedos contornaram o pires sobre a mesa.

— Não, você está enganada — ela garantiu. Depois, sentou na cadeira ao meu lado e me olhou com afeto. — Sei que não temos nenhuma intimidade e sou quase uma desconhecida para você, mas, se precisar conversar ou desabafar, estou à disposição. É evidente que eu compreendo sua situação; como Princesa, tem uma imagem a zelar, contudo, pode confiar em mim. Nada sairá daqui.

O discurso dela me fez lembrar dos alertas e conselhos que recebi sobre a importância da minha posição e como eu seria cobrada por me expor. Porém, naquela altura, já não me importava com isso.

— Você é jovem ainda. E eu conheço sua história — ela disse e eu franzi a testa. — O quê? Toda Cibele teve curiosidade de saber quem era a nova Princesa, de onde ela veio, a qual família pertencia. E a minha Sara tem um interesse especial em você. — Ela sorriu, aquele sorriso materno do qual eu tanto sentia falta. — Assisti várias reportagens e fomos privilegiadas com relatos do John sobre sua estadia no Palácio. Eu ainda precisei ir na escola para esclarecer e confirmar o "boato" que minha pequena estava espalhando sobre ter ganhado um livro seu.

Depois de tanto choro, Phoebe conseguiu me arrancar um sorriso, ainda pequeno, mas que teve efeito sobre minhas emoções.

— Ela foi a primeira a me chamar de Princesa. Guardo o desenho até hoje.

— Sara é sonhadora, e o que você fez foi muito importante para ela. Nossa menina, benção do Senhor em nossa vida. Sempre desejou ter uma irmã para dividir as brincadeiras, mas esse não foi o plano de Deus para nossa família. Acabou se refugiando nos livros. — Um pontinho de algo parecido com sofrimento marcou a expressão dela por poucos segundos. Então, voltou a sorrir. — O que acha de lavar seu rosto agora? Você parece melhor. Ficaremos mais confortáveis na sala.

Phoebe me levou até o banheiro e me entregou uma toalha de rosto limpa. Me inclinei sobre a pia e analisei minha face vermelha e olhos inchado através do espelho. Há tempos não tinha uma crise tão forte. Enfrentar meus temores não era fácil e uma vozinha interior me lembrava em quem eu deveria buscar auxílio.

— Ah, Senhor. Sei que sabe como me sinto e as palavras me faltam agora. Por favor, me dê graça e me auxilie, porque estou perdida. Preciso de Ti! Preciso do agir do Senhor em meu coração.

Amor Real 3 - ConfiarTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang