CAPITULO 1

1.6K 151 64
                                    

*** capítulo sem correção ortográfica ***

Sons, cheiros e cores se misturam e me cercam, para todos os lados que olho há uma cacofonia de sensações entorpecendo meus sentidos, me deixando tonta, confusa e arrependida.
Acabo de levar um pisão em meu pé, tento me esquivar, mas não tenho muita escolha, olho em volta em busca de um espaço onde eu possa me sentar, mas nem mesmo o chão é uma opção, o lugar está abarrotado de gente, corpos suados, coloridos, agitados, animados, quentes... quentes demais para o meu gosto.
— Preciso beber alguma coisa. — Continuo minha busca, agora por algum ponto de venda de bebida, mas não vejo nada além de um mar de pessoas, até onde a vista alcança.
— Tem certeza? Se sair daqui dificilmente vai conseguir voltar e a próxima atração vai começar a qualquer instante. — Roger, um dos amigos do namorado da minha irmã diz olhando para o pulso, muito provavelmente por força do hábito já que não faz ideia de que horas vai começar a tal da atração. Encaro a antiguidade destoante do resto do mundo em seu pulso e me obrigo a sorrir gentilmente.
Todo professor de história tem um relógio de ponteiro clássico no pulso, foi o que ele me disse a primeira vez que nos vimos, em um dos encontros malucos que minha irmã arruma para mim sempre que ela pode.
Mês passado era um violonista alemão que estava de passagem pelo Brasil para um concerto gratuito em São Paulo, mas ele se comportava como se fosse a orquestra alemã tocando para a rainha. Arrogante e loiro demais para meu gosto.
Antes desse, fui em um encontro às cegas com um cara que ela me fez conhecer em um desses aplicativos de namoro depois de me dar um sermão sobre a vida ser curta demais para eu não experimentar algo do tipo. Aceitei mais para ela parar de falar do que qualquer outra coisa.
Na foto o rapaz parecia uma versão mais humilde do Clark Kent, meio tímido e bem bonitinho se diminuísse a quantidade de gel no cabelo. Ao vivo eu mal conseguia conectar o indivíduo que só falava de si mesmo com o cara da foto, eu nem tinha certeza se o seu cabelo era mesmo daquela cor ou se o cara pintava. Sinceramente não sei qual o problema das pessoas com sua própria aparência. E nem o da minha irmã com a sua necessidade de me arrumar um namorado.
A verdade é que eu estou bem assim sozinha, mas para Suzy estou começando a agir como uma professora de literatura centenária, o coração consumido pelo amor proibido, trágico ou sofrido dos romances que preenchem cada vez mais espaço na minha casa. Sua missão, além de conquistar uma aliança no seu dedo anelar da mão esquerda, é me arrumar um homem, de preferência um como os romances de banca, que me faça gritar palavras obscenas e que não me deixe com o coração partido no dia seguinte.
Preciso dizer que ela está mais próxima de conquistar o anel no dedo.
— Tenho sim. — Respondo para Roger que se balança para a frente e para trás exageradamente tentando parecer descolado. — E eu nem gosto muito dessa banda. — Minto porque na verdade eu nem ao menos sei qual banda vai tocar. — Acho que vi a Suzy ali atrás. — Aponto para um lugar qualquer, vou me encontrar com ela.
— Tudo bem então, vou ficar bem aqui para a gente não se perder. — Ele parece tão feliz que me sinto mal por não estar me sentindo igual.
Entenda, Roger é legal, inteligente e embora não seja bonito, gosto do seu sorriso, ele faz com que seus olhos se fechem e deixe ele com um ar de menino, mas é só. Nem uma fagulha, nada, é como se eu tivesse acabado de reencontrar um irmão perdido.
Triste eu sei, mas é a verdade.
Começo a abrir passagem entre as pessoas tentando encontrar o caminho até a tenda que eu tinha visto, a multidão parece ter triplicado com o passar das horas e à medida que o show principal se aproxima as pessoas se amontoam cada vez mais perto do palco dificultando a locomoção.
Um idiota me agarra pela cintura e beija minha boca, é um beijo rápido, provavelmente uma aposta que o imbecil acaba de ganhar porque um grupo de outros idiotas pulam e gritam enquanto encaro o cidadão que acaba de colar seus lábios desconhecidos nos meus. Me sinto de volta a sétima série e tenho certeza que o cérebro desses imbecis parou de se desenvolver mais ou menos nessa época.
— Desculpa, eu precisava fazer isso.  — ele ergue as mãos na frente do corpo enquanto se afasta com um sorriso presunçoso nos lábios.
Bonito, mas não... definitivamente não.
Digo a mim mesma que não foi nada demais, ele parece tão feliz que me pego sorrindo enquanto toco meus lábios com a ponta dos dedos e volto a caminhar  relembrando as palavras de Suzy quando atravessamos os portões do festival hoje mais cedo “ você tem que prometer para mim, que ao menos hoje você vai viver, sem pensar em nada, sem amanhã, sem porquês, sem rótulos, apenas viva como se fosse o último dia da sua vida.”
Preciso dizer que o último dia da minha vida está longe de ser legal, mas eu ainda estou tentando fazer o que ela pediu.
Depois de me espremer entre mais uma dezena de estranhos, avisto a tenda bem na frente, um aglomerado de pessoas se amontoam diante do caixa, braços estendidos, desesperados para serem notados, células trocadas por latas de cerveja, copos de água e refrigerante. Um caos tão grande que me faz pensar o que diabos as pessoas veem de tão interessante num lugar como esse.
Olho desanimada para a guerra em busca de algo que aplaque minha sede e o calor quando sinto, diante de toda a confusão, um par de olhos me observar, a princípio não me importo, muito provavelmente deve ser mais um idiota com cérebro atrofiado, tento me encaixar na multidão, sou empurrada por um grupo de pessoas que não se dá conta da garota pequena atrás deles  e dou um passo para trás decidindo que não estou com tanta sede assim.
Nesse momento sinto o olhar dele novamente sobre mim, ele parece se encaixar perfeitamente nisso tudo, o caos a sua volta não o incomoda, o som da batida eletrônica que ecoa ao fundo parece combinar com o ar presunçoso que ele tem no rosto, apoiado na lateral da tenda, com uma lata de cerveja na mão, um cigarro nos lábios que se movem lentamente em um sorriso meio torto quando nota que o estou encarando.
É um sorriso debochado, até mesmo um pouco pervertido e o olhar, é o olhar de quem acaba de ser pego fazendo algo errado, mas que não liga, na verdade até mesmo gosta.
Um olhar confiante demais para um rosto tão jovem, tranquilo demais para um lugar tão caótico, bonito demais para ser ignorado.
Pigarreio e desvio o olhar sentindo meu rosto aquecer e dando graças a Deus por estar escurecendo rápido, assim ele não pode ver o efeito do seu sorriso safado em mim, mas ele parece notar porque seu olhar ainda está fixo em mim enquanto ele retira o cigarro dos lábios, como quem retira a camisa.
— Você está bem? — ele apoia um pé na parede e descarta a cinza no chão enquanto faz a pergunta, seus movimentos são tão confiantes que me pego hipnotizada pela forma com que os objetos se encaixam tão perfeitamente em seus dedos longos.
— Sim.  — Respondo rapidamente sem dar ao meu cérebro a chance de pensar duas vezes.
O rapaz olha na direção de onde o idiota que me beijou está e me sinto subitamente envergonhada ao pensar que ele viu o beijo, quando ele volta a olhar para mim, seus lábios não parecem mais tão largos sem o sorriso.
— Tem certeza?
— Absoluta. — ergo um pouco o rosto sem compreender o motivo para que eu esteja tão na defensiva, ele parece estar tentando ser gentil, mas sinto-me incomodada, mesmo que ele nem ao menos tenha se mexido, apenas me observa, como se esperasse que meu rosto entregue algo mais que minhas palavras.
Olho mais uma vez para a tenda e decido que está na hora de dar o fora, perdi a vontade de enfrentar essa manada de búfalos por causa de um copo de água, principalmente com esse estranho me encarando dessa forma.
Passo a mão na nuca sentindo os fios soltos começarem a grudar na minha pele úmida e um desconforto na boca do estômago, imagens do sofá do meu apartamento invadem minha mente e a garrafa de agua gelada, gratuita e confiável que está na minha geladeira me faz desejar chorar.
talvez minha irmã tenha razão, preciso sair mais, eu já não sei mais como agir em um ambiente que não seja minha casa ou o meu trabalho, principalmente se for na presença de um cara bonito.
— Preciso ir. — digo já me afastando, mesmo sabendo que ele não perguntou nada e me sinto uma idiota sem graça,  o rapaz move a cabeça em um aceno discreto e volta a colocar o cigarro nos lábios. O brilho da ponta ilumina seu rosto dando a ele um ar sombrio que faz com que o ar escape dos meus pulmões.
Eu sou tão patética...
Dou meu volta e estou prestes a caminhar em direção ao lugar onde imagino que deixei Roger, espero que Suzy e Xavier já estejam de volta, a multidão parece ter triplicado e dou apenas alguns passos quando as luzes do palco se apagam, gritos ecoam por todos os lados, uma avalanche de corpos passam por mim, todos desejando estar mais perto da banda que começa a entrar, cada um em sua posição e quando o vocalista envolve o microfone em suas mãos  e grita um boa noite São Paulo com sua voz rouca, sinto o chão sob meus pés estremecer.
Essa não... nunca mais vou conseguir voltar para lá.
Dou mais alguns passos para trás enquanto olho hipnotizada a banda envolver as milhares de pessoas em sua energia, não sou fã deles, mas preciso admitir, os caras sabem o que estão fazendo.
A multidão começa a pular com os primeiros acordes da canção, sou empurrada mais uma vez, me obrigando a me afastar até que sinto minhas costas se chocarem com um corpo, me desequilibro e sou amparada por mãos fortes, dedos ágeis que se cravam em minha cintura com força impedindo-me de cair.
— Cuidado.  — ele sussurra em meu ouvido, sua voz parece suave diante da cacofonia a minha volta e o calor do seu hálito causa um arrepio estranho em meu pescoço suado.
Encolho-me e sinto seu sorriso em meu pescoço, não me viro, sinto na forma arrogante com que seu sorriso se espalha por minha pele, na forma confiante com que seus dedos se alojam em minha cintura, no cheiro de cerveja e cigarro em seu hálito,  que eu já sei quem é,  mesmo sem ver, porque por mais estranho que pareça, eu ainda sinto seu olhar arrogante sobre mim.

************************************

Olá pessoal!!!!
E aqui estamos nós para mais uma história.
Confesso que estou um pouquinho mais ansiosa que o normal com essa história.
Nuno chegou como uma avalanche em minha vida, roubou meu sono, meu coração e vem causando um impacto imenso na minha vida.
Desde o primeiro dia em que citei esse livro que a ansiedade por ele só aumenta, e agora finalmente está aqui.
Espero que se apaixonem por Nuno e Stella.
Não deixem de comentar e de dar a estrelinha.
Beijos e bom fim de semana a todos

NUNOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora