CAPITULO 10

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Nuno

Olho pela janela da pequena cafeteria que fica na Avenida Guido D’Agostinni em homenagem ao meu avô e um dos fundadores da cidade, não é a mais bonita, nem mesmo a maior, mas com certeza é a mais movimentada da cidade e também a minha favorita, venho aqui desde que era criança, a lembrança do bolo com chocolate quente são uma das mais fortes da minha infância.
Ivan sai do banheiro secando as mãos na calça jeans, seu cabelo tá molhado e esquisito e penso por um instante se devo ou não avisar, mas esse é o Ivan e sinceramente ele não liga muito para essas coisas.
— E ai. — ele senta no banco a minha frente e retira o celular do bolso, observo seus dedos se movendo rapidamente na tela, provavelmente marcando de encontrar alguém na Boca do Diabo, a clareira onde vai ser a festa de hoje. — Tem certeza que não quer ir?
— Tenho, tô de boas hoje. — Baixo o olhar para o guardanapo em minhas mãos e começo a picota-lo.
— A Cindy já está lá. — ele diz ainda digitando. — Tá perguntando se você não vai.
Cindy é nossa amiga desde que me lembro, linda, loira, arrogante, rica, mimadinha, é o sonho de consumo de metade dos homens dessa cidade. A outra metade ela já pegou.
— Sem chances.
— Ela disse que a Gabi tá perguntando de você. — ele ergue seus olhos da tela.
— Ivan... — olho para meu amigo implorando mentalmente para ele nem começar, para minha sorte ele parece entender e desiste de tentar me fazer sair essa noite.
— Ah que merda, você também é foda viu. — ele resmunga enquanto passa a mão no cabelo piorando a situação que já estava ruim.
O problema é que apesar de saber que vai ser legal, que a maioria dos meus amigos estarão lá e de as chances de me dar bem essa noite são grandes, eu não estou no clima para festas. Principalmente a parte em me dar bem.
Gabi é linda e gostosa pra caralho, mas o sexo foi tão morno que em alguns momentos tive a sensação de estar sozinho na cama. Nossa química foi tão ruim que demorei uma eternidade para gozar e quando tudo acabou, cada um se vestiu em silencio, saímos do quarto como se fossemos dois estranhos e desde então tenho evitado encontra-la, sinceramente não sei como agir quando vê-la novamente. Sei que parece meio covarde da minha parte mas que se foda, não tô dando muita atenção para isso no momento, não fui e nem serei um babaca com ela, apenas não tô pronto para esse encontro, não por enquanto.
Tento ignorar esse fracasso, todos os dias digo a mim mesmo que tudo bem não ter dado certo, nem todas as pessoas conseguem sentir a mesma conexão uma pela outra, não significa que um de nós tem algum problema, só não temos química.
Tudo bem, talvez eu esteja com algum problema, deve ser o estresse e a ansiedade pelas coisas que estão por vir, ando agitado e dormindo mal e tenho certeza que isso está influenciando meu desempenho. Tenho certeza que é isso, é só uma fase, vai passar. Não tem absolutamente nada a ver com uma tal garota que me fez enlouquecer apenas com as suas mãos em um beco escuro.
Não, absolutamente nada a ver.
— Certo, então vou indo. — Ivan se levanta, mas continua olhando para mim com uma cara de piedade que está me fazendo ter vontade de soca-lo.
— Vai lá, divirta-se e se cuida.
— Tem certeza que vai ficar bem aqui sozinho?
— Sim, você sabe que vou e não tô sozinho. — aponto para o salão cheio e meu amigo me mostra seu dedo do meio.
— Certo... — ele olha para o balcão, depois olha para o lado de fora no instante em que mais um carro para na frente da cafeteria.
— Se manda caralho. — Resmungo e ele finalmente começa a se mexer.
— Qualquer coisa me liga. — Ele diz mesmo sabendo que não vou ligar, eu morreria antes de encher o saco do meu amigo por uma besteira.
Ivan acena para Beth que está no caixa e bagunça os cabelos da garotinha que está pulando no meio do salão antes de abrir a porta da cafeteria. Lá fora um grupo de pessoas estão se preparando para sair, conheço a maioria deles, já sai com duas das garotas que estão sentadas no capô de um Ix35, em uma noite normal eu estaria lá com eles, com um baseado na boca e uma garrafa de vodca na mão, mas hoje não, hoje só quero ficar aqui, comer meu pedaço de bolo, tomar o chocolate quente, mesmo estando uma noite fresca e ficar sozinho com meus pensamentos.
Hoje é dia de lembrar.
— Noite animada. — Beth diz pouco tempo depois, enquanto vemos os carros se afastarem e o silencio inundar a rua a nossa frente.
— Sexta feira né.
— Pois é, algumas coisas não mudam nunca. — Ela sorri enquanto empurra o prato com o pedaço generoso de bolo na minha frente. — Será que eu errei alguma coisa nessa receita? Não me recordo a última vez em que você não comeu um bolo meu.
— Você não erra nunca, o problema sou eu. — Admito.
— Esse problema tem a ver com garotas ou o motivo é o dia de hoje?
Pego um pedaço do bolo e coloco na boca, como disse, está delicioso, mas parece areia quando desce por minha garganta.
— Nenhum dos dois, você sabe, já faz tanto tempo.
— Sim, seis anos é bastante tempo quando se é tão jovem.
Balanço a cabeça concordando com ela, seis anos e mesmo assim a dor parece igual, como se nenhum dia tivesse passado, imagino que para ela não seja tão diferente, acho que perder alguém que se ama nunca é simples, nunca passa, nunca.
Conversamos mais um pouco sobre dor, saudade, lembranças, ela me faz rir quando conta algo do qual eu não me lembrava sobre ele e o tempo passa sem que eu me dê conta. Rael, seu filho, se junta a nós, a cafeteria vai se esvaziando aos poucos, até que sobram apenas eles e eu.
— Acho que vou indo. — Digo me levantando.
— Deixa eu pegar o bolo da sua mãe. — Beth também se levanta e vamos até o balcão.
— Aqui está. — Ela me entrega a sacola e dessa vez nem tento pagar, ela se recusa a receber meu dinheiro no dia de hoje, é seu jeito de me dizer que ela sente muito e eu agradeço.
As vezes tudo o que a gente precisa é saber que alguém zela por nós.
Despeço-me dos dois e saio.
Mais uma noite.
Mais um ano.

NUNOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora