1.01: Daqui em diante, um novo horizonte

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Central Park, Nova York, Estados Unidos

22 de agosto de 2025

Boa parte dos jovens sonha com a universidade ao fim do colegial, em especial pelas festas e pela liberdade de viver longe dos pais, longe de onde nasceram e viveram. Para muitos, é a chance de começar sua história do zero, em um lugar que ninguém se conhece, construindo uma carreira para iniciar a fase adulta.

Para muitos, as festas e irmandades são a melhor parte de entrar para a universidade. Para outros, como Caleb e Johanna, as coisas são um pouco mais peculiares.

— Tem um centauro atravessando a ponte e vindo para cá.

— Está armado, Caleb?

O rapaz estreitou os olhos verdes, enquanto a garota lia Orgulho e Preconceito calmamente.

— Não.

— Então não me importo. Caso ele faça contato, diga-o para não atrapalhar a minha leitura.

Ele riu, deixando de lado a criatura mitológica. É fascinante ao jovem notar que as pessoas não têm conhecimento do mundo místico ao seu redor, alheias à magia inerente que rege o universo. Caleb não sabe o que as pessoas veem enquanto o centauro atravessa o Central Park, calmamente. Uma pessoa normal? Um homem em cima de um cavalo? Nada?

Talvez seja a maior dádiva da humanidade, e, ao mesmo tempo, sua grande maldição: desconhecer o próprio mundo em que habitam.

Para jovens como Caleb Zobrist Bishop e Johanna Folkestad, a presença do centauro é tão natural quanto os táxis amarelos cruzando a Quinta Avenida, ainda que costumem ser agitados e inconstantes. Alguns usam a palavra "selvagens", ou "bárbaros", coisa que Johanna abomina por destacar a inteligência natural dessas criaturas. São só indomáveis, de acordo com a ruiva.

De todo modo, o centauro em questão se jogou no lago, brincando com os peixes. Um homem moreno de pele bronzeada, cabelos curtos e barba cheia, tronco e braços fortes e pelagem castanha. Poderia ser um universitário no final do curso, mas estava mais preocupado com o lago do que com as provações humanas.

Ele ouviu um grupo de meninas perto deles comentando sobre a ansiedade com o início das aulas. Pelo visto, as quatro eram calouras de Columbia, que começará seu ano letivo na próxima semana.

— Não somos tão diferentes deles.

— Tirando o fato de sermos semideuses que matam monstros e protegem o Véu das entidades malignas que buscam a aniquilação do Universo — Johanna disse, sem tirar os olhos do livro.

— Faz eras que não temos preocupações com entidades malignas!

— Nunca se sabe quando o inimigo está à espreita.

Johanna e otimismo nunca estavam juntos na mesma frase, a não ser que houvesse uma partícula de negação ali no meio. Bem diferente de Caleb, que exalava uma energia contagiante de fé e alegria. Dizem que os opostos se atraem, e essa é uma constante na relação Bishop-Folkestad, melhores amigos desde os onze anos.

Enquanto as crianças humanas passam a infância e adolescência em escolas de bairros, as semideusas iniciam os estudos místicos em colégios internos, nas regiões em que os seus panteões originários apresentam diásporas. Assim que terminam o colegial, costumavam seguir pelo mundo, aproximando-se dos deuses a quem compartilham sua linhagem sanguínea, lutando ao lado desses na defesa do Além-Véu.

Hoje, no entanto, semideuses como Caleb e Johanna possuem a oportunidade de ingressar em uma universidade própria, e é por isso que o garoto insistiu para que passassem aquela tarde de sábado no Central Park. É o último dia deles em Nova York, antes de começar o ano letivo.

Universidade St. JuniperWhere stories live. Discover now