PRÓLOGO

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"capitulo sem correção ortográfica"

Quatro anos atrás...

Ainda estou jogando vídeo game, mesmo que eu tenha dito a minha mãe que desligaria a duas horas atrás, já passa da meia noite e amanhã cedo tenho aula, de acordo com a minha mãe, crianças precisam ter no mínimo oito horas de sono.
Não sei qual verdade devo contar primeiro para ela.
Que não sou mais criança ou que não tenho quatro horas de sono ininterruptos a algum tempo. Na verdade, desde o acidente do Nicolas.
Já não consigo mais sentir meus polegares, meus olhos estão começando a arder e preciso piscar quando a imagem começa a ficar nublada, Nuno foi embora a uma hora, quando sua mãe chegou em casa.
E enquanto eu tento passar por uma horda de zumbis lentos demais para um viciado em jogos que já zerou esse umas cinco vezes, ouço o som que me faz mentir para minha mãe e jogar a meta de sono da organização mundial da saúde para a merda.
Estico minhas costas quando ouço o barulho da porta sendo aberta, levo uma mordida e solto um palavrão quando desvio do desgraçado, porque de repente me sinto agitado,  ouço seus passos, sempre tão sutis, enquanto ela caminha até sentar no sofá, atrás de mim.
— Tá precisando de um jogo novo. — Cindy diz enquanto me vê entrar em uma sala e pegar todos os itens que já decorei onde estão.
— Eu gosto desse.— digo,  desejando que ela não note que minhas mãos estão tremendo.
— Esses sons me deixam nervosa.
— Coloca o fone. — respondo sem me virar para olhar para ela.
Cindy resmunga alguma coisa, mas não ligo, ela adora reclamar, faz parte de ser a Cindy, ela reclama do meu cabelo, do jogo, da música, das minhas roupas, até mesmo da minha letra ou da forma como escrevo. Reclamar é seu hobby, principalmente reclamar de mim.
Ela se inclina para pegar o fone que está na mesa, ainda falando do jogo e é nesse momento que sinto, quando seu braço encosta no meu, quando o cheiro do seu cabelo alcança meu nariz, quando meu coração dispara no peito.
Respiro fundo e mantenho os olhos na tevê, corro para me livrar de um monstro que tenta me pegar, me concentro em cada fase do jogo, em todos os zumbis, no som mórbido dos seus gemidos, na aula de matemática que terei logo cedo amanhã, em qualquer coisa que me faça não pensar na garota que sempre vi como minha amiga até a noite de ontem.

***

Você já tomou um choque? É horrivel, a sensação de formigamento nas pontas dos dedos, o tremor pelo corpo inteiro, o coração disparado no peito, a tontura... é tudo tão rápido que mal se consegue notar e ao mesmo tempo é lento o suficiente para que você sinta cada parte do seu corpo reagir a corrente elétrica.
É assim que acordo quase todas as noites, os médicos chamam de Terror Noturno, mas acho que eles devem estar malucos, eu não tenho medo de nada, quer dizer, não tenho medo de escuro, nem nada disso. Meu único medo é de perder as pessoas que amo, foi o que disse ao psicólogo logo quando Nicolas voltou para casa, foi o que disse ao medico maluco da semana passada, nada de Terror Noturno, isso é medo de perder alguém enquanto eu durmo. Um jeito idiota do meu coração dizer que se importa com alguém, só isso.
Então agora estou aqui, sentado na minha cama, respirando fundo, tentando fazer meu coração idiota parar de acelerar como se eu tivesse acabado de tomar um choque e dizendo a mim mesmo que está tudo bem, ninguém morreu, ninguém está no hospital, meus pais estão no quarto ao lado, Zach está na sua casa, Nick está no quarto do andar de baixo, Nuno está na casa ao lado e Cindy... por coincidência, está ligando para mim nesse exato instante.
— Oi. — digo tentando não parecer alguém que teve um terror noturno.
Ela demora a responder, ela sempre faz isso, mesmo que eu já tenha pedido para não fazer, eu odeio, me deixa nervoso.
— Cindy?
— Posso ir ai? — ela pergunta baixinho, o que é ridículo porque ela sabe que não precisa perguntar.
— Claro.
— Tá.
Então ela desliga e levanto correndo para colocar um shorts e esperar por ela, sento na janela e fico olhando para o fim da rua, vejo ela vindo, seus cabelos loiros espalhados por seus ombros, os braços cruzados na frente do corpo, os pés descalços como se ela tivesse fugido de alguém.
Vejo ela se aproximar, abrir a porta da frente e entrar, minha mãe colocou sua digital no código de segurança a alguns meses atrás e ela não precisa mais de chaves para abri-la, então continuo sentado, agora olhando para a porta, sentindo que meu coração ainda não recuperou o ritmo normal, ao contrário, parece prestes a escapar pela boca, ansioso para que minha amiga abra a porta e entre, algo estranho porque não é a primeira vez que ela vem aqui, então não sei porque estou assim.
A porta se abre e Cindy entra, ela parece com frio e me levanto indo até ela.
— Está tudo bem? — pergunto agora bem perto, perto o suficiente para sentir o cheiro do seu shampoo, eu adoro ele.
Cindy balança a cabeça ainda sem falar nada.
— Cindy, aconteceu alguma coisa?
Ela nega.
— Então porque você está descalça? — aponto para seus pés como se ela não tivesse notado.
— Eu tive um pesadelo. — ela diz bem baixinho e sinto vontade de abraça-la, mas não me movo.
— E saiu correndo por causa de um pesadelo? Que medrosa. —  brinco, mas ela não sorri, e Cindy sempre sorri.
Ao invés disso ela ergue seus olhos castanhos e me encara por baixo dos seus cabelos desarrumados, eles parecem brilhar na noite escura e silenciosa, fecho meu punho em meu peito, massageando, desejando que meu coração pare de ficar assim acelerado ou vou ter que tomar remédios e não quero.
Então, como se nada tivesse acontecido, Cindy passa por mim e vai até minha cama se sentando no meio dela e puxando o gibi que eu estava lendo antes de dormir.
— Você ainda tá lendo essa coisa chata?
Franzo o cenho sem entender nada e cruzo os braços em frente ao meu peito, me dando conta só então, que estou sem camiseta.
— Não fala mal das minhas coisas, você sabe que não gosto.
— Você não gosta de nada Ivan,
— Nem você pelo visto. — me defendo e ela ergue um ombro só com desdém.
— Gosto do que é bom.
— Então porque está aqui?
— Já disse tive um pesadelo. — ela joga o gibi de volta a mesa de cabeceira e pega o controle da tevê. — Podemos ver um filme?
— Amanhã a gente tem aula,
— A gente tem aula todo dia, podemos ver um filme?
— Meus pais estão dormindo.
— Não quero ver seus pais, quero ver um filme.
Ela começa a zapear os canais ignorando completamente o que estou dizendo, sei que meus pais não se importariam de ver Cindy aqui, ela e Nuno são como meus irmãos, passamos tanto tempo juntos que as vezes me esqueço que não somos parentes de verdade.
Subo na cama ao seu lado e ajeito os travesseiros enquanto espero ela se aquietar.
— Achei! — ela diz quase em um grito afoito.
— Ah não Cindy, esse não.
— Esse sim, eu amo esse. — ela se deita ao meu lado, os cabelos se espalhando por todos os lados, uma mecha atrevida caindo em meu peito, fazendo com que eu sinta como se tivesse tomado um novo choque, dessa vez mais potente, mais assustador, e muito mais inexplicável. Tenho certeza que dessa vez não tem nada a ver com terror noturno.
Puxo meu gibi e continuo de onde parei enquanto Cindy assiste Dirty Dancing pela zilhonesima vez, eu já decorei as falas dessa porcaria, para minha total e absoluta vergonha, e não compreendo o que ela tem com esse filme, esse cara nem ao menos é bonito, e eu já perguntei para minha mãe, só para garantir que eu não estava falando bobagem.
Em algum momento acabamos adormecendo, eu com o gibi no peito, Cindy enquanto sorria e repetia as falas dos personagens. Meu sono é leve e sinto quando ela retira o gibi e se aproxima.
— Boa noite Ivan. — Ela sussurra com os lábios tão pertos que desperto quase imediatamente. Abro os olhos e encontro minha amiga pairando sobre mim, seus cabelos como uma cortina, nos envolvendo. Sua respiração lenta e suave, sua boca, a mesma que me irrita com sua chatice e reclamação diária, parece mais bonita, mais interessante, mais...
— O que você está fazendo Cindy? — pergunto quando ela se aproxima um pouco mais.
— Olhando para você.
— Isso é esquisito.
— Você é esquisito.
— Então porque você está olhando para mim?
— Porque eu gosto de esquisito.
Estou confuso, muito mais do que quando joguei aquele jogo de RPG com Nuno, ou quando o médico disse que o Nick estava vivo, mas não estava bem. Mais confuso do que já estive em toda a minha vida e quando ela se inclina e coloca a sua boca sobre a minha, sinto que confuso não chega nem perto do que estou sentindo nesse momento.
Então beijo minha amiga, sentindo o sabor da sua boca, a estranheza de uma língua dentro da minha, a sensação esquisita que seu beijo causa em meu corpo, beijo minha amiga sem fazer ideia de como beija-la, mas sabendo que preciso beija-la desesperadamente, como se eu sempre soubesse disso, só não compreendia o motivo.
Beijo-a até que sinto que beijar não é o suficiente, então beijo mais, e mais, e mais, beijo sem pressa, beijo sua boca e seu corpo, beijo até partes que não sabia que podiam ser beijadas, continuo beijando-a até sentir que beijar não será mais suficiente.
E então continuamos.

***

— Ivan. — ela me chama e jogo o controle no chão porque não consigo mais me concentrar em nada. Tudo o que penso é no que fizemos ontem, e em como me senti esquisito e assustado hoje. — Precisamos conversar. — ela se esgueira até sentar ao meu lado, a sua perna roçando na minha, seu cheiro... tão diferente do cheiro de ontem a noite.
Não quero conversar, tenho medo de que ela diga algo que me magoe, que diga que não gostou ou que se arrependeu, eu não me arrependi e agora tá tudo confuso e esquisito, mas eu não trocaria por nada.
— Você contou para alguém? — pergunto ainda sem coragem de olhar para ela, a voz esquisita e baixa.
— Eu não, porque contaria?
— Sei lá.
— Você contou?
— Não.
— Nem para o Nuno?
— Para ninguém.
Ela sorri, ao contrário do que achei que faria, e imagino que ela tenha gostado também ou não estaria sorrindo.
— Ótimo. — ela se vira de frente para mim, agora sua perna esquerda está inteira em cima do meu colo, seu joelho pressionando lá, e não consigo me mover porque de repente me lembro da sensação que tive quando fizemos aquilo e meu corpo começa a se agitar novamente.
E ela nota.
— Você gostou? — ela pergunta, mexendo no cabelo enquanto meu corpo endurece  e sinto minhas bochechas esquentarem porque não consigo controlar isso.
— Foi legal.
— É, foi legal.
Agora meu coração idiota começa a acelerar e minha respiração tá esquisita, e seu joelho continua lá e ele está duro, como na noite passada.
— O que acha de fazemos de novo? — ela propõe enquanto move seu joelho e olho para a porta, como se alguém pudesse aparecer a qualquer momento e visse o que estamos fazendo.
— Agora?
— Sim.
Passo minha língua sobre os lábios, sentindo uma vontade louca de beija-la novamente até estar em cima dela de novo, dentro dela, em volta dela.
E sem pensar muito,  nos beijamos.
Exatamente como na noite anterior.
E repetimos por quase todas as noites.
Por quase todos os meses.
Por dois anos inteiros.
Nos beijamos enquanto nos descobrimos, nos beijamos enquanto aprendemos a não ter vergonha do que estávamos fazendo. Nos beijamos enquanto nossos corpos cresciam, enquanto eu aprendia o que ela gostava, enquanto descobríamos coisas novas, enquanto eu percebia que amava estar com ela, e continuamos nos beijando enquanto adormecíamos um dentro do outro, nus, exaustos de se esconder do mundo, mas felizes em saber que esse momento era só nosso.
E continuamos nos beijando enquanto me tornei homem e a fiz mulher, nos beijamos enquanto aprendemos todas as formas de amar, nos beijamos até o dia em que percebi que eu não precisava de remédios para dormir, nem para o terror noturno, nem para o meu medo de perder ninguém. Porque eu tinha a minha melhor amiga e seu beijo e seu corpo eram a minha cura, a minha salvação, a minha loucura, a minha paixão.
Então continuei beijando-a, até o dia em que não a beijei mais.

************************************

OOOOOLLLAAAAAA PESSOALLLLL!!!

O que vocês não me pedem que eu não faço????
Aqui está ele, o prólogo do nosso loirão e da nossa bitch, o início de uma história de amor linda e dolorosa mas que roubou meu coração.
Espero que ela roube o de vocês também.

Então não deixem de curtir e comentar muito para que eu saiba o que acharam.
Chamem as amigas, compartilhem o loirão por aí, vamos encher os próximos dias de muito amor, esses meninos estão precisando!

IVAN (capa provisória)On viuen les histories. Descobreix ara