CAPÍTULO 14

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Cindy

Estou tremendo, minhas mãos não conseguem parar, minhas pernas balançam descontroladamente e minha garganta parece prestes a se fechar.
Acho que estou tendo uma crise de pânico.
Encaro a porta esperando que ela se abra, faz só alguns segundos desde que ela disse que estava descendo, mas sinto como se fosse muito mais.
A porta finalmente se abre e Maddie aparece na minha frente.
— Desculpa te atrapalhar. — digo, sentindo meu lábio inferior tremer. — Se quiser eu posso ir embora. — continuo, implorando para que ela não faça isso.
— Cala a boca e entra logo. — ela diz,  o rosto sereno e tranquilo enquanto segura minha mão e me puxa para dentro.
— Eu não sabia para onde ir e...
— Tudo bem, não precisa dizer nada, vem comigo.
Maddie me leva pela mão atravessando a ampla sala de estar e subindo as escadas, passamos por três portas fechadas antes de chegar a que imagino que seja o seu quarto, não consigo prestar atenção em nada além do cheiro dela que está impregnado no ar e na foto bonita que está ao lado da sua cama.
— Você está com fome? Quer beber alguma coisa? Um chá?
Nego com a cabeça me sentando em uma poltrona confortável, Maddie retira a pilha de livros do chão e se senta a minha frente ainda segurando minhas mãos.
— Quer conversar?
Nego mais uma vez, porque não sei o que eu poderia falar sem começar a chorar.
— Tudo bem, tudo bem, pode ficar aqui o tempo que precisar. — ela aperta suavemente minhas mãos e balanço a cabeça, sentindo as lágrimas pinicarem meus olhos. — Vou buscar agua, você pode ficar um pouco sozinha?
— Sim. — sussurro e ela se levanta saindo do quarto.
Levanto e caminho por ele, os braços em volta da cintura, o coração pesando uma tonelada, uma vontade louca de ligar para o Nuno e falar “eu tentei, eu tentei falar com ele, não deu certo”.
Engulo o nó em minha garganta e paro na frente de um mural de fotos, olho algumas reconhecendo a família de Maddie, seu cachorro, Levi, há até uma comigo e Stella em uma noite de meninas a algum tempo atrás, e então eu o encontro.
Os braços em volta dos ombros de Nuno e Maddie, os cabelos bagunçados naquela desordem que é tão dele, os olhos apertadinhos em um sorriso que deixa suas covinhas em evidencia. Ele parece tão feliz, leve, bonito.
Eu não estou na foto.
Talvez seja por isso.
Estico meus dedos trêmulos até tocar uma mecha rebelde de cabelos, se eu fechar os olhos ainda posso sentir a textura, ainda posso lembrar do hematoma se formando, inchando seu rosto perfeito, ainda posso sentir o gosto amargo do medo em minha garganta.
Eu não fecho os olhos.
Não ouço a porta se abrir, mas sinto quando Maddie se aproxima e para ao meu lado.
— Ei, está tudo bem, você não acha melhor se sentar? — ela me abraça e caminha comigo até que estejamos na sua cama onde me deixo sentar.
Meus olhos estão nublados, minha cabeça dói e não consigo respirar. Abaixo minha cabeça entre as pernas e tento respirar, foi uma péssima ideia ter vindo até aqui, mas era isso ou correr atrás de um pobre garoto e usa-lo como a escrota sem coração que ele me acusou de ser.
Ou pior... me deixar ser usada da pior forma possível, como venho fazendo.
Flashes das suas mãos sobre mim, da sua voz em meu ouvido, do seu corpo pesado sobre o meu me fazem sufocar. Fecho os olhos com força, desejando poder voltar no tempo e dizer não,  poder mudar quem sou, apagar minhas lembranças, todas elas.
Coloco as mãos em meus ouvidos, apertando com força, quando um gemido escapa dos meus lábios.
— Respira. — Maddie diz, suas mãos delicadas e firmes estão segurando meus braços, como se temesse me deixar cair, sem saber o quanto eu desejo cair.
— Eu não consigo. — digo, a voz abafada pelo pavor.
— Só respira. — ela pede e tento puxar o ar.
— Não dá... — engasgo com as lágrimas que agora desabam no chão sem cerimônia.
— Shhh, vamos respirar juntas. — ela diz, mas o ar não vem e sinto seu corpo se aproximando, me envolvendo em um abraço desengonçado, mas que de alguma forma, tem um efeito tranquilizador enquanto ela respira comigo.
Ficamos um tempo assim, deitadas na cama, abraçadas, respirando em sincronia, seus braços em volta do meu corpo, suas mãos entrelaçadas nas minhas, uma camisa de força humana, capaz de me manter lucida enquanto a pior crise da minha vida vai embora, levando com ela o tremor, a dor, a culpa, deixando comigo o vazio que sempre fica quando tudo acaba.
— Você é boa nisso. — digo me afastando um pouco e me virando para ficar de frente para ela.
— Minha mãe as vezes obriga a casa inteira a fazer meditação, aprendi a respirar direito.
— Sua mãe é legal.
— Ela é, mas não conte para ela, gosto de fingir que é difícil ser sua filha as vezes.
Sorrio mais por educação, eu adoraria fazer qualquer coisa com minha mãe, não me importaria se fosse meditar. Droga, eu não me importaria nem mesmo se fosse para  escalar o monte Everest, desde que ela estivesse ao meu lado, que ela me enxergasse que compreendesse que eu a quero ao meu lado.
Maddie não sabe a sorte que tem, mas não serei eu a dizer isso para ela.
— Eu sei que você não quer conversar, mas se precisar falar, eu estou aqui, prometo ficar quietinha e só ouvir.
— Sua mãe te ensinou isso também?
— Um pouco, mas na verdade toda apaixonada por livros é um pouco ouvinte, já ouvi histórias suficientes para saber que as vezes as pessoas só precisam de alguém que as escute.
— Eu não sei porque liguei para você.
—Talvez você não tivesse muitas escolhas em uma sexta a noite. — ela sorri, um pouco tímida.
— Você sabe que não é verdade, eu tinha muitas opções.
— Então talvez você saiba porque ligou para mim.
— Acho que eu precisava de uma amiga de verdade.
— Então talvez você tenha ligado para a pessoa certa. — seu sorriso se espalha e sinto meu coração ficar um pouquinho mais leve.
Respiro fundo sentindo meu peito se encher esvaziar em um suspiro dramático, fecho os olhos e por um segundo acho que isso tudo é uma grande bobagem, mas então Maddie volta a segurar minha mão.
— Eu sou uma boa ouvinte Cindy. — ela sussurra e então começo.
— Eu vi o Ivan morrer, bem na minha frente. — digo ainda de olhos fechados, relembrando tudo pela enésima vez. — Vi seus lábios escuros, sua pele clara quase transparente, vi seus cabelos espalhados pelo chão frio, vi minha vida inteira passar por mim e ser levada com ele para um lugar onde eu não o alcançava. Foi horrivel.
— Eu sei. — ela sussurra, mas é mentira, ela não sabe, e nunca vai saber, porque seu adorável Levi está bem, ele nunca vai se colocar em perigo dessa forma, porque ela nunca vai machuca-lo.
— Eu faço mal para o Ivan. — admito em voz alta.
— Não é verdade, você o adora.
— Eu disse que faço mal, não que não gosto dele. Uma coisa é diferente da outra.
Maddie parece refletir por um momento, como se tentasse entender o que estou dizendo.
— Ele te disse isso?
— Ele me disse coisas horríveis, mas todas eram verdadeiras.
— Ele tá magoado.
— Eu sei. — olho para o desenho da colcha enquanto assimilo suas palavras.
— Talvez tudo isso sirva de lição, uma segunda chance.
— Nós não temos mais chances, eu acabei com todas.
— Você teve medo dele morrer sem saber o que sente por ele?
— Não, eu tive medo de viver em um mundo onde ele não sorri mais para mim.

IVAN (capa provisória)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora