CAPITULO 1

347 61 93
                                    

*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ivan

Viver em Monte Mancante é estar cercado de tudo o que o dinheiro pode comprar, e não ter nada.
Parece meio dramático, principalmente vindo de mim, um cara considerado bonito, que tem tudo o que quer, prestes a terminar o ensino médio, com sua vaga garantida nas melhores universidades do mundo, só escolher.
Mas acredite em mim, o que digo é verdade, eu sou a prova viva de que dinheiro pode agir como um lembrete sádico da vida, rindo na tua cara e dizendo
“Ei você, é você ai sentado nessa montanha de dinheiro sem poder fazer porra nenhuma! Então, quem é o esperto que manda nessa porra mesmo?”
Pois é, eu ouço isso todos os dias, e todos os dias eu ergo minha mão e mostro meu dedo do meio para ela, não tô nem ai se ela quer me foder ou se acham que não vou consegui, muito menos para o que pensam de mim, eu tenho um proposito nessa vida, e não tem absolutamente nada a ver com a faculdade que vou cursar ou com a próxima viagem de férias da família Schwertner.
A porta se abre e vejo minha mãe, usando um longo de seda, com seus cabelos e maquiagem prontos para essa noite, ela segura o smoking que acabou de chegar e seu sorriso é tão grande que eu começo a sorrir.
— O papai já te viu? — vou até ela e pego o meu traje da noite antes de deixar um beijo em seu rosto.
— Ele está lá embaixo conversando com o Antônio, você sabe, ele está bem nervoso hoje.
— Tô ligado.
— Já falou com o Nuno?
— Já, mil vezes desde ontem a noite, se ele sobreviver a essa noite tenho certeza que viverá mais uns mil e quinhentos anos.
— Pobrezinho, Violeta está lá tentando acalma-lo.
— Mãe, o Nuno só vai se acalmar quando essa noite acabar.
Ela sabe disso, assim como sabe que todos nós, filhos, netos, bisnetos dos fundadores, odiamos os holofotes que colocam sobre nós, como se fossemos uma espécie de realeza do Brasil, todos os nossos passos são vistos, comentados, admirados, julgados, criticados, amados, odiados, todo o nosso futuro é preparado, esperasse demais de nós, e se esquecem que somos apenas meninos e meninas tentando sobreviver as mudanças dos corpos, as explosões de hormônios, aos corações partidos e todas as merdas emocionais que fodem as nossas cabeças.
— Eu vou lá chamar o seu pai, não podemos nos atrasar, você vai com o Nuno?
— Não sei, talvez.
Ela sai do quarto me deixando sozinho, coloco o smoking sobre a cama, pego o celular e tiro uma foto, postando no grupo e iniciando uma conversa que não tenho a menor intenção de participar. Deixo meu celular vibrando sobre o traje que deve valer mais do que um carro popular e me dirijo ao banheiro, para um banho longo, na esperança de ficar o mais relaxado possível, essa noite vai ser longa.
Sou um cara vaidoso, gosto de me arrumar, de cuidar do meu corpo, de saber que as garotas olham para mim, me desejam, gosto do poder que há em saber que mexo com as mulheres, mesmo as mais velhas. Que quando passo, elas me olham, pensam em como seria ficar comigo, que se derretem quando sorrio para elas.
É isso que os garotos de Monte Mancante fazem.
Eles exploram todos os limites, dirigem carros extravagantes antes mesmo da maioridade, dão festas de milhões, bebem até desmaiar, administram empresas de gente grande, têm jatos particulares, estudam na maior escola da américa latina, tem seus futuros programados para serem os maiores, os melhores, os mais bonitos, mais bem sucedidos, mais felizes.
Somos o sonho de todo garoto e o desejo de todas as mulheres.
Somos a herança dos fundadores.
Uma. Merda. De. Uma. Grande. Balela.
Quando olho para o espelho não vejo nada diferente dos outros garotos, sou apenas um moleque querendo viver a vida o mais intensamente possível, fingindo ser o que não sou, desejando a aprovação dos adultos, o respeito dos amigos, o amor de uma garota.
Enrolo a toalha em torno do meu quadril enquanto saio do banheiro e entro no quarto, meu telefone não para de vibrar desde a hora que acordei, na verdade desde ontem enquanto estávamos organizando a festa de verdade, aquela que acontece debaixo das barbas dos adultos que não ligam para o que seus filhos fazem porque acreditam que seu dinheiro pode comprar tudo.
Passo a mão no aparelho e vou até o espelho, faço uma foto exaltando meu abdômen e coloco a # da festa, publico e jogo o celular de volta na cama, ignorando as notificações, se meu amigo não estivesse prestes a desmaiar de tanto nervoso, já estaria aqui arremessando um travesseiro em mim e me xingando.
“Qualquer dia você vai arrumar um jeito de trepar consigo mesmo” é o que Nuno sempre diz quando posto uma foto exibicionista, ele odeia minhas fotos e apesar de entre nós dois, ele ser o verdadeiro exibicionista da turma, odeia fazer esse tipo de coisa, e pelo jeito odeia que eu faça também.
Nuno é meu melhor amigo, nossos irmãos eram melhores amigos e nossos pais ainda são melhores amigos, as vezes não sei ao certo se amo Nuno ou se me acostumei a amar aquele italiano insuportável, o fato é que ele faz parte da minha vida, desde que nasci, assim como Cindy.
A única diferença é que eu já tentei deixar de amar a Cindy e infelizmente foi um fracasso.
Nuno não sabe, talvez nunca vá saber, mas quando fiquei sabendo de seu lance com a Cindy, vi ali uma chance de me curar do sentimento sufocante que nutro por nossa amiga, talvez se eu visse meu melhor amigo beijando a garota que amo, talvez se eu soubesse das merdas deles, talvez... talvez... talvez...
Não funcionou, só me machuquei mais, me torturei, tornei nossa relação difícil, ataquei as pessoas mais especiais da minha vida, por não ser capaz de dizer a verdade, e agora ele tá chateado comigo, ah se ele soubesse que foi usado. Com certeza ele não aceitaria meu punho em sua cara como fez.
Ele não merece isso, de verdade, Nuno é um bom amigo, divertido, irritantemente de bom humor, ao menos quando o assunto não é o seu pai ou Matteo, ele sempre está pronto para o que der e vier e sempre aguenta meu mau humor como se fosse o certo a fazer.
Irritar Nuno D’Agostinni é meu hobby favorito, algo difícil de se conseguir, mas que no ultimo ano ganhei uma concorrente a altura, nossa professora de Literatura.
Stella conseguiu fazer o impossível, destruiu a sanidade do meu melhor amigo, pegou a porra do coração dele e esmagou com suas mãos elegantes e delicadas, e depois pisou com a ponta dos seus saltos no que restou dele.
Resultado, Nuno está completamente apaixonado por ela.
Acho que isso deve ser algum defeito no nosso DNA, homens tendem a perder a cabeça por mulheres que os maltratam. Acreditem já procurei pesquisas cientificas a respeito disso, não achei, talvez eu escreva uma e publique, quem sabe eu ganhe um prêmio Nobel.
Coloco a calça e vou até o closet escolher o sapato quando ouço o telefone tocar, só existe uma pessoa nesse mundo que me liga e não é o meu pai. Volto correndo para o quarto e atendo no terceiro toque.
— Achei que já tinha ido, ia desligar. — Nicolas meu irmão diz do outro lado da linha.
— Não, tô começando a me arrumar. — me jogo na cama encarando o teto e calculando mentalmente o tempo da ligação, a ultima durou longos 45s. um recorde.
— É, então...
Respiro fundo e peço a Deus paciência, mais notificações chegam e me pergunto o que Nicolas acharia das minhas fotos sem camisa se visse uma, não preciso pensar muito, ele me daria um sermão sobre ser um cuzão que terminaria com um tapa em minha cabeça e meia hora de trabalhos forçados no seu rancho.
Esse é meu irmão.
—O Zach pode chegar ai em vinte minutos, seu smoking ainda está pendurado no seu antigo quarto. — digo para quebrar o silencio, mas ele sabe de tudo isso, todos os anos temos essa estranha conversa que não leva a lugar nenhum e todos os anos termina do mesmo jeito. Nada.
— Só liguei pra dar um oi e mandar um abraço para o idiota do Nuno, dezoito né?
— Isso, dezoito, finalmente.
Claro que o idiota mais convencido de Monte Mancante faria aniversário no dia do fundador, a festa mais importante da cidade e provavelmente, de todo o circulo de magnatas do país. Mas esse ano ele está ainda mais nervoso do que o normal, com certeza culpa da nossa professora, claro.
— Conseguiram convencer o Rael de ir?
— Eu não convenço nem o meu irmão, como vou conseguir arrastar a mula empacada do Rael para algum lugar? — digo, Nick ri e sorrio com o som da sua risada, é algo raro e que mesmo agora quase um adulto, ainda me sinto feliz em ver ele sorrir. Certas coisas não mudam nunca mesmo.
— Tá certo, divirtam-se e cuidado com a festa dos moleques, eles estão cada ano mais imprudentes e bom, você sabe, eu me preocupo.
— Pode deixar, valeu. — passo a mão em meu rosto em busca de algum resquício de barba enquanto penso se devo pressioná-lo ou não. — Nick, você sabe, ela ainda está lá, esperando por você.
Ouço meu irmão respirar fundo e sei que não é justo fazer isso com ele, mas preciso que ele reaja e se o único sentimento for remorso, então que seja.
— É eu sei.
— Todos estamos esperando.
— Não vou voltar Ivan, eu já disse.
— Vamos continuar esperando.
— Ela vai desistir, todo mundo um dia cansa de esperar por quem não quer voltar.
Suas palavras são amargas demais e sinto meu peito doer com a verdade delas.
— Eu nunca vou desistir.
— Veremos.
Um silencio esquisito depois nos despedimos e desligo o telefone com a mesma sensação ruim que sinto sempre que nos falamos. É como se Nicolas ansiasse por isso, para que todos desistam dele, sua namorada, sua família, seus amigos, ele quer isso e está trabalhando para conseguir a sua tão sonhada solidão. A única coisa que ele não sabe é que estou acostumado a amar pessoas que não me querem por perto, sou especialista nisso e não estou nem um pouco afetado por sua teimosia.
Eu gostaria de ter ele aqui conosco, essa festa é tão dele quanto de qualquer um dos fundadores, mas aprendi que nem sempre temos aquilo que queremos.
Na verdade, ao longo da minha vida, descobri que quase nunca temos aquilo que realmente queremos.
Essa é a parte chata de ser Ivan Schwertner.
Levanto e termino de me vestir, pego o celular que continua fervendo com tantas mensagens, abro a foto e leio algumas das mensagens, a maioria são meus amigos me zuando, mas tem muita garota elogiando e se oferecendo para fazer coisas que deixariam a minha mãe assustada, leio tudo fingindo que não estou procurando a única mensagem que eu gostaria que estivesse aqui, mas que sei que nunca estará porque para ela sou invisível.
#Partiu!
É o que escrevo no fundo preto, dando início a enorme quantidade de stories recheados de risadas, musicas, bebidas e amigos  que farei hoje, a noite está só começando e no que depender de mim, só vai terminar quando o dia nascer e eu estiver bêbado demais para pensar em todas as merdas que o dinheiro de Monte Mancante não é capaz de pagar.

************************************

Olá pessoal!!!
Conforme combinado, aqui está o capítulo!!!! Vamos lá conhecer um pouco mais desse loirão rabugento e lindo.

E quem já leu Nuno, fala para mim aqui, você se lembra dessa festa?

Beijos e até mais

IVAN (capa provisória)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora