CAPITULO 15

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ivan

O dia está insuportavelmente quente para uma manhã de primavera, mas perfeito para um sábado, a cidade está quase vazia, o que me faz imaginar que o clube esteja lotado, as piscinas disputadas e os bares abarrotados de pessoas implorando por um drink as dez da manhã.
Bem vindos a Monte Mancante, a cidade onde um dia de sol é celebrado como se fosse um feriado importante.
Ainda estou entalado com o que Cindy falou sobre eu nunca ir embora, a grande maioria das pessoas tem o sonho de ir embora do lugar onde nasceu, muitas dessas vão embora, por mil motivos diferentes e apenas uma pequena minoria fica por vontade própria, principalmente uma cidade tão pequena como Monte Mancante.
É verdade que tenho meus motivos que me prendem aqui, mas também é verdade que amo esse lugar, amo a liberdade de poder transitar pelas ruas quase vazias da cidade, amo como qualquer detalhe se torna um evento, como todos se unem quando algo importante acontece, como as amizades parecem mais fortes, como as pessoas valorizam as outras, talvez por ter tão poucas opções a sua volta, talvez por não estar sempre com tanta pressa para tudo.
Posso ser um idiota completo por valorizar algo que está tão escasso hoje em dia, mas amo meus amigos e sei que não suportaria metade das merdas que já vivi se não tivesse eles ao meu lado.
Assim como tenho certeza que minha amizade torna os fardos deles menores, e talvez por isso sejamos, como Stella sempre diz, maduros demais para nossa idade, é normal amadurecer diante de tanta merda como as que cercam os moleques de Monte Mancante.
De qualquer forma, amo essa cidade e amo viver aqui.
— Bom dia Beth. — digo enquanto ela abre o portão para que eu possa entrar, estaciono o carro ao lado da edícula, quando desço sou surpreendido por um abraço que faz minhas costelas protestarem e sem que eu perceba, solto um gemido que a faz se afastar.
— Eu te machuquei? — ela me olha assustada como se eu pudesse me partir ao meio.
— Não, só está um pouco dolorido. — Ergo a camiseta para que ela veja o hematoma que ainda estampa minha pele.
Beth coloca a mão na frente dos lábios enquanto olha para o machucado e desço a camiseta rapidamente para não a assustar.
— Nunca mais faça isso garoto. — Ela aponta o dedo em minha direção. — Você deu um susto enorme em todos nós, o pobre Nicolas quase morreu do coração lá naquele fim de mundo sozinho.
Olho para a oficina improvisada onde Rael passa o tempo livre quando não está trabalhando na cafeteria, ele está debruçado no seu carro, um Opala que era do seu pai e que ele trata como se fosse seu bem mais precioso.
Eu sei bem como é.
— E ele? — aponto o queixo na direção do Rael e ele parece sentir do que estamos falando, porque ergue o rosto e nos observa. — Deixa eu adivinhar, pela sua cara feia deve estar tão furioso quando seu amigo.
— Você sabe como é complicado para eles.
— É tô sabendo, mas também sei que eles tornam tudo ainda pior.
Caminhamos pelo amplo jardim da casa deles, Greta está dormindo debaixo de uma arvore, o cheiro de bolo recém saído do forno se espalha por todo o lugar, é quase magico de tão bom.
— Quem está na cafeteria?
— Em uma manhã linda dessa ninguém quer perder tempo comendo bolo e tomando café, devem estar todos no clube.
— Provavelmente.
— Deixa eu ir lá, depois te trago um pedaço de bolo.
— De chocolate. — digo antes dela se afastar e caminho até onde Rael está.
Iron Maden explode as caixas de som, as batidas pesadas vibrando no chão onde ele está, Rael se apoia no carro ainda aberto, com os braços cruzados na frente do peito, as sobrancelhas arqueadas enquanto ele me observa se aproximar.
— Vivo. — ergo meus braços e sorrio, Rael me dá um leve menear de cabeça e puxa uma ferramenta que está sobre a sua mesa de trabalho.
A vantagem de estar perto de Rael é saber que ele não vai te encher de sermão desnecessário, ele te olha e já basta.
— E ai como está, aponto para o capô aberto, tentando mudar de assunto.
— O de sempre.
Certo, ele deve estar mesmo bravo, mas algo me diz que não tem absolutamente nada a ver com o meu acidente e sim com a visita que ele fez a Nick
—  A Beth disse que você foi ver o rabugento do meu irmão.
— É, eu fui.
— Ele foi babaca com você? — pergunto.
— Ele foi o Nick.
— O que sobrou dele.
— É.
A conversa se encerra e sei que esse é um assunto difícil para eles dois, minha relação com meu irmão não foi a única que ficou abalada depois do que aconteceu, a amizade deles também nunca mais foi a mesma depois do acidente de Nick, a morte do Matteo e embora eu sinta muito, posso compreender o quão doloroso é para eles estarem perto um do outro.
A vida as vezes sabe como ser cruel com pessoas que não merecem, gostaria de saber onde está o equilíbrio dessa merda toda.
Caminhamos até onde estacionei a Hilux, não preciso dizer muito, imagino que Nicolas tenha falado sobre os barulhos que ele ouviu na última vez em que estive lá, Rael entra no carro, liga o motor, acelera até acordar Greta, depois desce, abre o capô e pede que eu faça o mesmo acelerando toda vez que ele sinaliza, passamos boa parte da manhã debruçados sobre o carro, ajudo-o entregando peças e fazendo tudo o que ele pede, um trabalho tranquilo que me distrai. Algo que venho precisado bastante ultimamente.
É fácil ficar ao lado de Rael, diferente de Nuno que não consegue ficar com sua boca fechada nem um instante, com ele não preciso falar e seu silencio não me constrange, ao contrário, passamos horas calados, ao som dos rocks pesados e barulhentos que não consigo compreender porque ele gosta tanto de deixar tocando enquanto trabalha, mas que preenche todas as lacunas vazias da minha vida, ao menos por enquanto.
E pela primeira vez me pergunto se é isso que ele faz, usar a música como um escudo protegendo-o do barulho de tudo aquilo que ele não é capaz de lidar.

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⏰ Última actualización: May 28, 2022 ⏰

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