CAPITULO 2

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Cindy

Olho para meu  Zuhair Murad pendurado ao lado do espelho francês do século XVI que decora meu closet, ele faria inveja a qualquer garota da minha idade, não,  a qualquer mulher. É um modelo exclusivo, desenhado especialmente para mim por um dos mais renomados estilistas da atualidade, um presente da minha mãe no meu ultimo aniversário que chegou em uma elegante caixa preta com meu nome escrito em ouro e todas as frescuras possíveis para esconder a realidade que nem mesmo ela é capaz de suportar admitir.
Ela não estava aqui.
A caixa está jogada no canto do quarto, um pedaço amassado e não escondi meu sorriso de satisfação quando vi. Um pouco infantil eu sei, mas não pude evitar.
Termino de me maquiar e arrumar meu cabelo, ao contrário da maioria das garotas, gosto de me preparar sozinha, salões cheios e barulhentos, cheiro de café, croissants e fixador me enjoam, além do mais, ninguém sabe moldar meu cabelo como eu e sinceramente, me sinto um pouco incomodada quando tenho pessoas assim tão perto de mim.
Geralmente pessoas sóbrias perguntam demais.
Coloco o vestido e me sento para calçar as sandálias, pego o celular e verifico as notificações, está lotado delas, o grupo da festa clandestina está bombando, esse ano com certeza vai ser maior que a do ano passado e se bem me lembro, para mim foi uma catástrofe, acabei saindo com dois caras comprometidos e foi um caos ter que lidar com as namoradas enganadas e traídas, porque no fim das contas a culpa sempre é da garota que assediou os santos, e nunca o contrário.
“Porque uma garota com uma roupa dessa sai de casa procurando isso mesmo”
“Onde já se viu, não respeita o namorado alheio?”
“Como pode! Está mostrando a bunda, deve ser desespero”
“Depois ainda quer se fazer de santa”
“Essa ai? dá pra todo mundo, uma vadia.”
“ A culpa é dela”
“Vagabunda”
“Puta”
“Fácil”
“Barata”
Mulheres... ainda somos nossas maiores inimigas. Infelizmente o discurso ainda é muito bonito só no papel mas está longe da vida real.
Esse ano prometi que não vou beber, ao menos não tanto. É uma promessa difícil de cumprir quando sei que estarei ao lado de Ivan durante toda a noite, sentindo seu olhar sobre mim, enquanto interage com outras garotas, sorrindo e expondo aquela covinha irritante, e eu faço o que sei fazer de melhor, eu fijo que não morro toda vez que estamos perto e que eu tenho que agir como se ele fosse qualquer um. É quase uma sessão de tortura estar perto dele sem usar nada que nuble meus pensamentos. A sobriedade é meu maior carrasco.
Termino de ler a conversa e abro as redes sociais, já está lotada de fotos sobre o evento do ano em Monte Mancante, garotas exibidas disputando quem está com o vestido mais caro, mas famoso, mas curto, quem tá com a barriga mais sequinha, quem tem o maior silicone. Deus, as vezes é tão cansativo ser mulher em uma cidade onde parece que estamos em uma competição de beleza eterna.
Ivan acaba de postar uma foto sem camisa que já está lotada de comentários, seu físico está cada dia mais incrível, ele adora se exibir por ai e faz isso com frequência, algo que não combina em nada com seu humor de merda, mas que faz a alegria de muita gente. Babaca ridículo convencido.
Olho todos os comentários em busca de um especifico, Solana, a mulher com quem Ivan tem um caso de vez em quando, ela é discreta e nunca comentou nada, mas sei que ela vê, assim como eu e boa parte dos moradores de Monte Mancante, ela gosta de admirar o seu brinquedinho se exibindo por ai e só de pensar nisso me sinto enjoada. Fecho tudo e jogo o celular dentro da Lana Marks  que separei para essa noite, preciso parar com isso, é doentio ficar stalkeando Ivan dessa forma. Me concentro em terminar de me arrumar e quando volto a me olhar no espelho estou satisfeita com o que vejo, pernas longas e bronzeadas, um vestido minúsculo que faria muitas modelos passarem fome para caber, cabelos sedosos e macios, e uma maquiagem perfeita que esconde as sardas que tanto detesto.
É isso ai Cindy!
O telefone toca dentro da cloach e a vontade que sinto de ignorar é tanta que preciso respirar fundo e me lembrar que não sou mais criança, não adianta mais bater o pé, fazer bico, cruzar os braços, nunca adiantou, ela nunca se importou com infantilidades.
Puxo o aparelho e aceito a ligação, retiro o brinco e coloco-o no ouvido enquanto desço as escadas.
— Pronto?
Má Cherie.
— Oi mãe, estou saindo. — tento não parecer áspera, mas falho miseravelmente.
— Eu queria tanto estar ai, mas meu voo atrasou e você sabe, já que eu não chegaria a tempo de participar do evento, achei melhor não ir.
— Eu sei mãe, seu secretário me disse hoje cedo quando me ligou.
— Cindy, você não imagina a loucura que está por aqui, acabei de sair de uma reunião nem sei que horas são, estive ajustando os últimos detalhes e...
Paro de ouvir depois de alguns segundos, já sei tudo o que importa, ela não veio e nem ao menos fingiu estar com saudades, ou se importar comigo, nem mesmo se estou indo bem na escola, ou porque tomei aquelas advertências, ela acha que dou conta de tudo sozinha, ou finge que acha, para não se sentir tão mal consigo mesma, tudo o que importa para Marie Fontanelle é se tornar uma das maiores estilistas dos últimos tempos, ela quer ser tornar algo como Coco Chanel, inesquecível.
— Uhum, que bom mãe. — digo enquanto destravo meu carro e entro.
— Ah o vestido, serviu? Disse a Jordie que mandasse o menor número.
— Perfeitamente.
— Eu sabia! — ela diz como se entrar em um  Zuhair Murad tamanho XP fosse algo digno de uma troféu. — Depois me mande uma foto, quero ver como ficou.
— Você poderia ver ao vivo se fosse realmente importante. — digo quando bato a porta do carro nos fechando dentro dele. E me arrependo imediatamente.
— Como?
— Preciso ir mãe, a gente se fala depois, beijos. — desligo a chamada sentindo meu coração disparado no peito, inclino-me para a frente tentando me acalmar, mas tudo o que consigo pensar é que acabei de desligar o telefone na cara da minha mãe.
Espero alguns instantes segurando o celular junto ao peito, desejando que ela ligue de volta, que brigue comigo, que diga que estou passando dos limites. Mas ela não liga, provavelmente algo mais importante a roubou de mim.
Desço do carro correndo, tropeço nos saltos e quase caio, ignoro o alarme que avisa que deixei o motor ligado e sigo até a lata de lixo que fica na garagem no instante em que meu corpo começa a colocar para fora tudo o que tenho dentro dele.
Dor, tristeza, rejeição.

IVAN (capa provisória)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora