CAPITULO 13

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ivan

No fim das contas acabei indo para o hospital, era isso ou então teríamos um enterro, já que minha mãe quase teve um infarto quando meu querido amigo contou a ela o que houve.
Valeu Nuno, te devo uma!
Foi uma verdadeira cena de filme, daqueles em que o personagem é encontrado em condições sub humanas depois de meses perdido em uma floresta, esse era eu, e a minha espera estava uma equipe de médicos liderada pelo salvador do mundo, uma mãe a beira de um ataque de nervos, um pai prestes a furar o piso, andando de um lado para o outro como se não pudesse parar nem um segundo sequer e um Zacharias sentado confortavelmente em um sofá, os lábios apertados enquanto ele olhava para a massa de humilhação que seu irmão mais novo havia se tornado.
— Os últimos exames ficaram prontos. — o líder da equipe disse ainda sem tirar os olhos das folhas em suas mãos. — Como imaginei, não há nenhuma lesão grave, nosso garoto está bem.
— Então posso levar meu filho para casa? — minha mãe perguntou, dramaticamente e Zach apertou ainda mais os lábios quando um resquício de uma risada ameaçou escapar.
Cuzão do caralho!
— Claro, assim que terminar a medicação ele já pode ir.
Meu pai apertou a mão do homem e minha mãe se aproximou de mim, me enchendo de beijos como se eu ainda fosse o seu garotinho de seis anos que havia caído da bicicleta e ralado o joelho.
O que posso fazer, sou mimado, mas não os culpo, meus pais se conheceram alguns anos depois que a primeira esposa do meu pai morreu, eles se apaixonaram e se casaram, com dois garotos para criar, eles não tinham intenção de ter um terceiro filho, dez anos depois eu aconteci, meio sem querer, provavelmente em uma das milhares de viagens de uma lua de mel que não termina nunca, e quando eu nasci, minha mãe descobriu que eu era tudo o que ela precisava.
Mais um moleque para criar.
Não foi fácil crescer com dois irmãos mais velhos me enchendo o saco o tempo todo, mas foi bom, ter Nick e Zach no meu pé foi o equilíbrio que eu precisava para não me tornar um playboyzinho mimado e insuportável.
Equilíbrio é tudo.
E enquanto o médico explicava sobre os cuidados e medicamentos, me deixei levar pelo sono, no colo da minha mãe, sentindo seus dedos em meus cabelos e seus lábios e minha testa, permitindo-me ser o seu garotinho mimado, só um pouquinho. Só por hoje, afinal de contas, quase morrer nos dá alguns privilégios.
***
A vantagem de se viver em uma cidade pequena é que todo mundo sabe o que acontece com todo mundo. A desvantagem de se viver em uma cidade pequena é exatamente isso. Todo mundo sabe o que aconteceu comigo.
Meu celular não para de vibrar com todas as mensagens que chegam o tempo todo, tento responder o máximo possível e até faço uns vídeos no Instagram para que todos vejam que estou vivo e inteiro. Maddie e Levi vem me ver no dia seguinte e passam a tarde inteira ao meu lado, Cibele me liga e chora metade do tempo, é constrangedor e digo que está tudo bem, que ela não teve culpa de nada, ela respira tão profundamente que tenho a sensação de que estou libertando-a de alguma coisa. Minha mãe tenta me entupir de comida e meu pai inspeciona meus hematomas como se ainda não acreditasse nos médicos, Zach vem todos os dias antes de ir para casa, acho que ele está mais preocupado com nossos velhos do que comigo.
Nuno não sai do meu lado, nem sei como Stella ainda não deu um chute na sua bunda ridícula, mas ele não parece estar muito preocupado com isso, acho que tem algo a ver com sua dificuldade em aceitar que ele não tem culpa nenhuma, toda vez que ele olha para minha cara eu vejo a tristeza em seus olhos e por mais que eu diga para ele parar com isso, é como pedir para o dia deixar de nascer.
Estamos no meio de uma batalha em campo aberto, Nuno está concentrado no grupo de soldados escondidos entre os escombros de um chalé abandonado e eu estou mostrando a minha cara linda para sua adorada namorada.
— Acho que está melhorando. — digo apontando para o hematoma em minha bochecha, provavelmente o chute responsável pelo meu desmaio. Stella tem a mesma expressão da minha mãe enquanto olha para ele. — Não tá doendo nem nada, só tá feio mesmo. — digo na tentativa de acalma-la.
— Você está fazendo as compressas de gelo? — ela pergunta do outro lado da tela.
— Sim senhora professora. — brinco e meu amigo me olha rapidamente, o sorriso besta que não sai da sua boca.
— Eu posso fazer algo por você?
— Me passar de ano seria uma boa ajuda. — brinco.
— Sem chance, ela não aceita nem mesmo minhas chantagens, e olha que elas são muito interessantes. — Nuno diz atento a tela gigante a sua frente.
— Nuno! — Stella o repreende e fica vermelha, denunciando as sacanagens que meu amigo deve falar pra tímida professora.
— Ah porra! — ele dá um pulo quando é atingido por uma bomba que põe fim a sua missão e sua vida, e se joga no sofá colocando o controle ao meu lado. — Olha só o que você fez, me desconcentrei e morri. — a cara de cachorro abandonado que ele faz quando olha para ela é vergonhosa e faço um pedido a Deus para que nunca deixe que eu me torne um apaixonado idiota.
Despeço-me de Stella e entrego o telefone para Nuno, tento não prestar atenção na conversa deles, mas ele logo desliga e voltamos a ser apenas nós dois e nosso silencio confortável de sempre.
Passamos algumas horas assim, entre rodadas de missões de guerra, lanches feitos pela minha mãe e gargalhadas, como sempre foi, até que Nuno se inclina para frente, retirando um cigarro do bolso e encarando-o como se tivesse algum enigma no objeto.
— Ei, o que houve? — pergunto sem ter certeza se que quero ou não ouvir a resposta.
— É a Cindy. — ele diz, rápido demais e tento ignorar a mágoa que insiste em me machucar por ela ainda não ter vindo me ver. Sou patético eu sei, não deveria me magoar pelas coisas que ela faz, mas infelizmente não posso me impedir de sentir.
— O que tem ela?
— Estou preocupado, acho que ela está escondendo alguma coisa.
— Do que você está falando? — largo o controle no tapete e me viro para encarar o meu amigo sentindo meu coração idiota disparar no peito.
— Estava conversando com a Stella, ela está... estranha.
— A Cindy é estranha, você sabe disso.
— Stella também está preocupada, ela a viu outro dia conversando com o Tony, não gostei da forma como a Stella ficou preocupada, era como se ela estivesse escondendo algo.
— Ele é professor, natural que eles se falem, não é? — sinto minha voz enfraquecer a medida que as palavras saltam a minha boca, quem eu quero enganar? Eu mesmo não consigo tirar aquela maldita cena da minha cabeça. — Você acha que eles...
Nuno ergue uma sobrancelha e não diz nada, mas de repente sinto toda a comida que ingeri nos últimos dezessete anos se revirar em meu estomago.
— Caralho... — esfrego meu rosto tentando não pirar na frente dele, não é algo difícil, venho fazendo isso a tanto tempo que me tornei especialista em parecer irritado quando na verdade estou assustado.
— Não sei, pode ser só coisa da minha cabeça, eu realmente odeio aquele desgraçado e ando numa pilha de nervos, não suporto mais essa situação com a Stella, talvez eu esteja exagerando, talvez a proximidade do fim do ano esteja me deixando paranoico, mas mesmo assim, ando preocupado com a nossa amiga, você sabe, ela não é de demonstrar fraqueza e nem pedir ajuda.
— Eu sei. — sussurro encarando o controle remoto.
— Não quero encher tua cabeça de merda, eu sei que vocês estão cheios de coisas acontecendo, mas precisava te contar isso.
— Eu os vi juntos outro dia, até tentei falar com ela, mas acabamos discutindo. — confesso.
— Merda!
— Cuzona.
— Do caralho.
Nuno puxa o isqueiro e acende o cigarro, me entregando antes, como se ele soubesse que preciso disso, desesperadamente.
Talvez ele saiba, ele sempre sabe.

IVAN (capa provisória)Where stories live. Discover now