CAPITULO 8

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ivan

Sempre fui um cara visto como feliz, de bem com o que sou, pronto para o futuro brilhante que os meus pais, assim como os dos meus amigos e colegas, planejaram para mim.
A verdade? Eu não sou tão feliz assim, nem tão seguro, nem ao menos tenho certeza do que quero para meu futuro, acho que passei tanto tempo  me preocupando com o futuro das pessoas que amo e tentando entender porque não consigo superar a garota que me deixou para trás como se eu não fosse nada, que esqueci de pensar em mim e agora aqui estou, prestes a terminar o colégio, com as portas da universidade abertas, sem saber ao certo para onde quero ir, o que vou fazer, o que quero ser.
Um cara normal, feliz de verdade, um cara que não precisa fingir o tempo todo, é, acho que já seria bem legal.
Tento não pensar muito nas coisas que Nuno me disse ontem, tento não pensar principalmente no silencio de Cindy que sequer mandou uma mensagem para saber se estou bem ou não, é como se eu nunca tivesse ido até ela.
Então faço a única coisa que costumo fazer quando Monte Mancante se torna sufocante.
Fujo para a casa do meu irmão.
— O que você tem, sua voz está baixa demais, está triste com alguma coisa? — Nick pergunta enquanto se senta ao meu lado, os olhos cobertos pelos óculos escuros que os protegem do sol escaldante do fim de tarde.
— Não.
— Está preocupado?
— Não é nada.
— Sou seu irmão mais velho pirralho, não me venha com nada, o que foi?
Respiro fundo e jogo a bola babada de Zero a uma distância curta, o Golden obeso e preguiçoso olha para ela, depois para mim, respira fundo como se esse simples gesto já fosse demais para ele e volta a dormir.
— Já disse, não é nada demais. — repito mesmo sabendo que isso vai irrita-lo, Nick, assim como eu, não é um cara muito paciente e hoje em particular ele parece ainda mais irritado. Talvez seja porque ele sabe que estou agitado, é a terceira vez que venho para cá essa semana e mesmo que eu tenha ficado a maior parte do tempo sozinho nos fundos da sua propriedade, isso é o suficiente para deixa-lo assim.
— Tem alguma coisa a ver com aquele idiota bêbado do seu amigo?
Sorrio ao me lembrar do trabalhão que Nuno deu quando achou que se esconder de Stella aqui na casa do Nick seria uma boa ideia, só mesmo alguém muito desesperado para achar que passar um tempo na companhia do meu irmão poderia resultar em algo bom.
Nicolas não recebeu o apelido de Monstro por nada, ele vem se esforçando dia após dia para manter até mesmo o entregador de encomendas o mais distante possível de sua casa, só mesmo Zero ainda permanece aqui e tenho lá minhas dúvidas dos motivos, eu acho que é pura preguiça de levantar seu rabo gordo e dar o fora.
— Nuno? Não, ele está bem, finalmente se acertou com a professora. — respondo.
Nick sorri e balança a cabeça, como se fosse impossível acreditar nisso.
— Aquele moleque sempre foi teimoso, quando quer algo vai até o fim.
— A Stella não é um capricho de moleque, eles se amam de verdade.
Meu irmão ergue o rosto para o céu, a barba ruiva iluminada, parecendo ainda mais avermelhada pelo sol.
— Aprenda uma coisa Ivan, todo amor é um capricho, seja ele qual for, alguns só duram mais tempo que outros. — sua voz soa amarga, triste e odeio saber o motivo para que ele tenha essa visão da vida, Nicolas não acredita em amor, nem em sorte ou felicidade, ele não acredita em nada que seja bom, para ele a vida é como um jogo de tabuleiro onde o único objetivo do jogador é fazer o peão se foder.
E meu irmão é bom nesse jogo, posso dizer que é um dos melhores que conheço.
— Não vou discutir isso com você.
— Não quero que discuta, só quero que aprenda.
Como se soubesse que precisa aliviar a tensão, Zero se levanta e sai rebolando seu traseiro peludo até onde a bola está a sua espera, ele  a pega e trás até Nicolas, colocando-a em seu colo, como um pedido de trégua, quando meu irmão não dá a mínima para ele, o cachorro passa o focinho em sua mão livre e Nicolas resmunga um palavrão antes de jogar a bolinha dessa vez um pouco mais longe, Zero lambe sua mão e meu irmão suspira antes de fazer um carinho na cabeça peluda do seu companheiro, provando que ele não é assim tão desumano como gosta de parecer.
— Você ainda não me disse porque está aqui.
— Eu gosto daqui. — olho para a construção abandonada do outro lado da cerca. — Tava até pensando em reformar aquela casa, o que acha de ter seu maninho como vizinho?
Nick vira o rosto na minha direção e mesmo por baixo dos óculos escuros posso ver a carranca se formando.
— Quer um conselho? — ele diz , a voz grave e rouca, agora parecendo séria.
— Não tenho certeza.
— Dá o fora dessa cidade.
Suas palavras soam como lâminas dolorosas que machucam meu coração idiota, sei que ele não faz por mal, ao contrário, ele quer o meu bem, tanto quanto qualquer irmão, mas isso não torna mais fácil, ouvir ele me mandar embora dessa forma.
— Achei que você iria me dar um conselho. — tento manter minha voz tranquila, mas ela soa magoada.
— É serio Ivan, não seja teimoso, o Zach já falou mil vezes, vai embora daqui, suas notas são boas porra, você consegue entrar em qualquer faculdade que quiser, em qualquer lugar do mundo, o que te prende nesse pedaço de terra de merda?
Você seu cuzão.
— Eu gosto daqui, gosto daquela casa. — aponto para o amontoado de entulho onde eu e meus amigos passamos boa parte da nossa infância, brincando.
— Ninguém na sua idade gosta de Monte Mancante, por favor, isso aqui mais parece um asilo de luxo.
— Acho que você precisa sair um pouco, a cidade está cada dia mais cheia de jovens, a avenida principal poderia facilmente ser confundida com uma cidade europeia e tem até uma faculdade aqui sabia? — ironizo, claro que ele sabe disso tudo.
— Foda-se, você precisa de mais do que isso aqui.
— Preciso? Porque? Eu não sinto que preciso de nada.
— Você não sabe que precisa, é diferente.
— Bobagem.
Tento me levantar, mas Nick me segura pelo braço me obrigando a permanecer no lugar.
— Escuta aqui pirralho, um dia você vai estar velho e vai se arrepender das merdas de escolhas que está fazendo agora.
— Olha só quem está me dando conselhos sobre viver, o cara que todo mundo chama de monstro.
— Não é de mim que estamos falando.
Abro a boca para responder tudo o que ele merece ouvir, quero ofende-lo, quero dizer que ele merece tudo que lhe aconteceu, que enquanto ele for esse cara amargurado, nada na sua vida vai melhorar, mas não digo nada, porque não há nada que eu diga que seja pior do que viver na pele de Nicolas Schwertner.
— Você se arrepende das suas escolhas? — pergunto sentindo a raiva fervendo em minhas veias.
— Não quero que você se torne alguém como eu.
— Grande bosta! Me solta— peço, a voz fria de quem está se controlando para não perder a cabeça e enquanto encaro seu rosto maltratado pelo sol e pela amargura, sinto seus dedos se desvencilhando de mim enquanto um sorriso perverso se espalha por seu rosto.
Levanto-me retirando as chaves de dentro do bolso e ignorando a vontade que estou de encher a sua cara idiota de porrada, passo por Zero que me olha como se pedisse para que eu tenha paciência com seu dono e me compadeço da má sorte que esse pobre coitado teve ao ter sido escolhido para fazer companhia para alguém como meu irmão.
— Um dia você vai me agradecer moleque. — ele grita de onde está.
— Vai se foder Nicolas. — grito de volta enquanto ergo meus dois dedos do meio, caso haja alguma dúvida.
— E vê se leva essa lata velha no Rael, o motor tá fazendo um barulho esquisito.
— Pode deixar, eu sei cuidar do meu carro. — respondo como o moleque mimado que ele acha que sou.
Nicolas solta uma gargalhada insuportável e nesse momento ele é muito mais parecido com o monstro do qual todos o chamam do que com o meu irmão, o cara por quem chorei durante semanas, desejando que nada de ruim acontecesse com ele, o responsável por minhas noites de insônia e por tudo o que veio depois disso.

IVAN (capa provisória)Where stories live. Discover now