Cremorne Garden

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[...] Pois bem, quando duvidamos e estamos sofrendo, queremos apagar qualquer probabilidade, ter a realidade vazia e nua; mas a dúvida aumenta e nos corrói a alma. [...]"

Gustave Flaubert.

Trinta de setembro de 1888, domingo. (Noite). Cremorne Garden. (Chelsea, Londres)

Corro, corro para dentro da casa dos espelhos. Chess está furioso, a semana se passou e eu não consegui, pedi dois dias a mais, e esse é o último, eu só tenho uma alternativa: contar toda a verdade para o Cain e esperar que ele coopere ou desistir de vez.

Arfo enquanto cruzo o portal da casa de espelhos, o bilheteiro grita insultos, mas jogo algumas moedas brilhantes em sua direção. E ele se cala, entro na casa e tudo o que vejo é meu reflexo assustado em todos os locais. Já estou acostumada com casas loucas, mas essa é de arrepiar!

- CHESHIRE!!! – O eco da minha voz me causa calafrios.

Escuto sua risada, onde ele está? Corro sem rumo, mas tudo que vejo são espelhos, onde ele está? Já esqueci onde fica a entrada, cruzo espelhos e mais espelhos, até que um sorri para mim, me encaro extremamente vermelha e sorrio também.

- Foi difícil se separar do grupo?

- Nem tanto... Barbie surtou, Cain sumiu, eu sei que logo ele volta, mas ela não. Eles ficaram ocupados com ela e eu vim para cá, como combinamos!

- Cain se perdeu...? – O sorriso some. – Isso é sério. Vamos logo.

- Mas temos que conversar! – O sorriso brilha em outro espelho.

- Temos, mas Cain não pode ficar sozinho aqui.

- Se eu posso por que ele não pode?!

- Na verdade nenhum dos dois pode. – Ele surge me agarrando pelos ombros. – A conversa fica para mais tarde, te perdoo. – O memorial reluz em meu pescoço. – Mas tem que me ajudar a achar o Cain.

Ele corre me levando junto, os espelhos se embaçam devido a nossa velocidade, estou tonta. Acho que vou vomitar...

XXX

O ar gelado faz meus pulmões reclamarem, ninguém repara no Chess com sua máscara de gato, afinal, quase todos estão fantasiados, ele me puxa sem dizer nada me guiando pelo povo.

Esse jardim é enorme, ocupa muito espaço, e existem diversas atrações, até um pequeno circo dos horrores, aqui é perfeito, mas o problema é que é grande demais e achar um pirralho aqui é difícil.

Cruzamos todo tipo de pessoas, até que finalmente paramos perto de um arbusto. Então vejo, Cain inclinado sobre um banco e Yue a sua frente, seus olhos estavam embaçados e opacos, enquanto Yue estava prestes a beijá-lo, ou bem, mordê-lo.

- Com licença. – Cheshire disse desaparecendo.

E logo ele estava tampando os olhos de Cain e o puxando para perto de si, enquanto Yue se assustava, dou risada da cena, mas uma voz destrói meu sorriso.

- Olá minha pequena Lady.

Viro-me assustada em tempo de ver Jaken correr para o meio das pessoas distraídas, Jaken... Ou será o Valete?

XXX

Não sei se posso correr atrás dele, e se for uma armadilha? E se for o Valete? Tenho que avisar o Chess, mas até avisá-lo ele vai sumir de vista. Então rezo para ser o Jaken e corro atrás dele.

XXX

Ele corre fazendo com que mais as pessoas se tornem raras ao nosso redor, tropeço e arfo sem parar de segui-lo.

The Ripper - Saga Maurêveilles - Livro umOnde as histórias ganham vida. Descobre agora