Carnival memories

274 29 24
                                    


(...) Eu estou indo para o carnaval

vou sentar ao lado e vê-los brincar

Vai ser um dia terrível

(...) Eu não vou voltar para casa, não mais

Amanda Jenssen

Dezoito de outubro de 1888, quinta-feira. (madrugada). Londres (Trafalgar Square). Inglaterra.

Minhas lágrimas já secaram e já me acalmei, é tudo falso mesmo. Suspiro pesadamente até que escuto as doze badaladas do relógio solitário as minhas costas e as cordas caem de meu pulso.

- Até que a aberração foi útil. – Sussurro para mim mesmo.

Solto os nós de meus pés e me levanto, quanto tempo fiquei aqui? Caminho até a arma e a seguro contra o peito. Cinco alvos, dois aliados... Dois?

Se seguir a lógica, Abel e Áster, mais três ases dão cinco. Lilith é minha aliada, mas Jared é meu aliado? Inimigo?

Melhor não pensar nisso agora.

Caminho até a porta, suspiro apoiando o rosto contra a madeira fria e deixo um choramingo baixo escapar. Estou com medo.

Respiro fundo e afasto-me, puxando a maçaneta com força. Eu vou abrir meu próprio caminho, independente de quem precisará cair para eu seguir em frente.

XXX

Corro e prendo a respiração, mais uma curva, apoio a arma contra o peito e a engatilho, esgueiro-me e olho o corredor, novamente vazio.

Isso é loucura, não tem ninguém aqui, será que estou sozinho? Será que foi isso que Áster quis dizer com "ele está jogando sujo?" Apoio minhas costas na parede e deslizo até o chão, eu estou sozinho, por Deus, eu já comprovei isso, mas de onde elas vêm?

Abraço meus ombros, elas não parar de sussurrar, a todo o momento, essas vozes não se calam desde o momento em que eu saí daquela sala. No começo pensei que fosse alguém me pregando uma peça, mas elas vêm de todo o lugar... Tampo meus ouvidos.

- Parem de falar...

JagUaDarTEEEEE... IdIoTA E TolO JaGUAdarTe... jAGuaDartEEEEEE...

Aperto minhas palmas contra a cabeça e respiro fundo, é só ignorá-las que tudo fica bem, levanto-me e corro pelo corredor novamente.

XXX

Desemboco no picadeiro. As plateias estão vazias, e no centro do palco há uma jaula aberta. Não tem ninguém aqui. Desço os degraus um a um, até que chego à jaula e noto uma pluma roxa caída ao fundo. Lilith estava com isso no cabelo.

Ela passou por aqui. Tsc. E agora? Para onde ela foi? Dou um passo para trás e me estatelo no chão.

Encaro o corpo inerte a minha frente e engulo o grito de pavor que sobe por minha garganta, como não o notei? Chuto seu rosto virando-o para mim. Lembro-me dele... É o homem do freak show, o que me segurou pelo colarinho... Ou era.

Suas órbitas estão perfuradas por facas finas e vermelhas. O que será que aconteceu aqui...? Será que ela está bem? Engulo em seco.

- Ora... Ora...

Ergo o olhar, sobre a jaula uma pierrete sorri para mim. Aliás, sorrir é a única coisa que ela faz, os cantos de sua boca estão rasgados subindo até abaixo dos olhos, infeccionados e expurgando sangue que escorre por seu queixo, seu cabelo é curto e rosa, assim como Meddi, e seus olhos são azuis elétricos. Engulo em seco.

The Ripper - Saga Maurêveilles - Livro umOnde as histórias ganham vida. Descobre agora