I

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O carro avançava pela rua branca - devido à neve - sob um céu estrelado, porém coberto com algumas nuvens que insistiam em permanecer ali desde o início do dia. Eu olhei distraído pras casas enfeitadas ao longo da rua, fossem por luzes, bonecos ou guirlandas.

Algumas eram misteriosas e fechadas, enquanto outras exibiam por suas janelas a festa que dentro acontecia. Todos pareciam tão felizes em todas elas. Era o tipo de noite em que tudo deveria ser perfeito. A qual todos planejavam pra que fosse perfeita. Aquela noite que, já alguns meses antes, estava invadindo a todos com seu espírito de felicidade, união, solidariedade e todos esses sentimentos que são mais fáceis de serem sentidos do que descritos.

Aqueles sentimentos, por vezes, tão patéticos.

Ah, o Natal.

"Por que mesmo estamos indo passar a semana na casa da tia Jay?" Perguntei, só pelo gostinho de irritar minha mãe.

"Eu já lhe disse, Harry. Você não podia mesmo fazer o esforço de vir conosco de bom grado e compartilhar dessa data com a sua família, não é mesmo?" Ela respondeu, tentando não soar tão seca por eu ser o pior filho de todos. Rolei os olhos, pensando no quanto seria bom, naquele exato momento, estar na casa de meus amigos, bebendo até cair e não levantar.

Londres era uma cidade úmida demais pra mim, também. Parecia chover o tempo todo, pelo que eu acompanhava de previsões do tempo.

"Mas ainda acho que estamos vindo muito em cima da hora..." Mamãe murmurou meio que pra si mesma.

"Vai ser chato do mesmo jeito." Dei de ombros.

"Você podia não arruinar a noite de Natal, Harry?" Meu pai pediu com a voz mais calma possível, como sempre. Não respondi, concordando mentalmente. Minha mãe já tinha demais o que aguentar durante o ano todo, eu daria a ela um único dia de descanso de mim. Mas não conseguia evitar sentir tédio em estar indo pra uma festa em família.

"Ele sempre arruína as coisas, até quando não tem a intenção." Gemma murmurou, sentada ao meu lado. A olhei com raiva, mas ela estava indiferente. Para me distrair novamente, continuei observando a decoração das casas. Logo o carro parava em frente a uma particularmente bonita: Luzes de natal a iluminavam desde a entrada até as janelas.

"Não vai ser tão ruim assim, filho." Mamãe murmurou, olhando pra mim no banco de trás. "Pelo menos você poderá colocar o assunto em dia com o seu primo..."

"Mãe, eu sequer me lembro da última vez que falei com aquele Lewis."

"Louis." Ela corrigiu. Eu sabia, de qualquer forma. Errei propositalmente pra fazê-la perceber que a presença do meu primo estúpido não faria da minha noite, mais divertida. A não ser que ele tivesse algumas garrafas de whisky escondidas em seu quarto.

Saí do carro ao mesmo tempo em que meus pais o fizeram. O frio imediatamente me invadiu, e eu abracei meu próprio corpo na tentativa de me aquecer. A única coisa que me fez caminhar rápido na direção da casa foi o pensamento de que lá dentro estaria mais quente.

"Des! Anne!" Meu tio exclamou, puxando cada um de meus pais pra um abraço. "Meu Deus, quanto tempo, huh? Como foi a viagem?"

Ignorei o resto dos cumprimentos, até que ouvi meu nome. "Harry?"

"Hey, tio Mark." Sorri, retribuindo o abraço que ele me deu.

Boys Will Be BoysWhere stories live. Discover now