Chapter 3: Cruelford

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Acabei indo de ônibus. Era "tarde" demais e peguei um trânsito enorme no caminho, mas essa era a melhor alternativa. O metrô é vazio e bem mais limpo, mas demorava demais e fica a uns quatro quarteirões de distância do meu trabalho.

Para melhorar furei minha meia calça quando entrei correndo no edifício Crawford. Ele é um dos maiores e mais altos da rua, todo espelhado, com um quê de superioridade comparado aos outros ao seu redor. No primeiro andar está a sua recepção toda em mármore claro, uma cor próxima ao bege, e com muito vidro. Para entrar você deve ter uma carteira de identificação com nome e cargo, mas só os funcionários da plebe, eu como exemplo, precisam disso. Para os chefes e empresários isso nem é necessário, só é preciso olhar para o grande Rolex em seu pulso ou seu terninho impecável de marca. Não sei nenhuma marca de terno cara, mas nem preciso, o que sei é que qualquer que seja sua marca, só a gravata deve valer a minha vida e mais um pouco, ainda ficaria devendo.

Entrei na recepção e passei correndo por Gabe, o recepcionista, para conseguir pegar o elevador. Trabalho no 9º andar, o que é bom porque a cozinha fica no 7º, e a maravilhosa e melhor máquina de café do mundo fica no 12º, então nem preciso de elevador. Quando cheguei ao meu andar já sabia que o senhor Maxon estava me esperando, como sempre.

- Minha sala, agora! – Ele ama gritar comigo. Deve ter uns 45 anos, loiro alto, sempre está de terno tons de cinza e até que dava um caldo. Mas ele é tão irritante que consegue ficar feio.

Fui correndo para sua sala, no fim do corredor do departamento. Quando entrei ele logo fechou a porta com tudo atrás de mim, dessa vez eu até que senti um pouquinho de medo. Só um pouquinho.

- Senhorita Smith, estou cansado de tanto chamar sua atenção por conta dos seus atrasos. A Senhorita trabalha para mim há um ano e nesse tempo todo acho que nunca a vi chegar na hora, você sabe qual é o horário que deve estar aqui na empresa? Às vezes penso que não!

- Desculpa senhor Maxon, é que eu acabei me atrasando – ele era tão irritante, não acredito que já o aguento há um ano.

– Isso eu já percebi senhorita! – disse ele, gritando. Não te disse, ele ama gritar comigo.

- Sim, mas ontem fiquei até as 22h00 aqui na empresa, repassei todos os relatórios da semana inteira. Fiz também suas planilhas de custos e investimentos, está tudo com o departamento de atendimento e pronto para entregar ao cliente. Sei que não justifica o meu atraso senhor, mas não estou prejudicando o meu trabalho aqui na empresa por chegar atrasada, eu sempre compenso em horas extras. – Isso sem nenhuma bonificação, é claro.

- Disso eu estou ciente, sei muito bem o que cada funcionário em meu departamento faz – não parece – Porém, como a senhorita mesmo disse, isso não justifica os seus atrasos. Estou sempre tentando te ajudar, sei que o seu passado não foi fácil, estou a par dos problemas e dificuldades... – Blá, blá, blá como você é sofrida e sua vida é uma droga, era só o que eu escutava. Sabia que como sempre ele iria entrar com esse discurso da garota esperança, estava até demorando – Enfim, vou te dar mais uma chance como sempre, mas desta vez não desperdice! Vou ficar de olho em seu serviço, qualquer deslize seu já sabe, RUA! – gritou ele, mas uma vez.

- Sim senhor, pode deixar comigo e me desculpe novamente pelo atraso, não vai mais acontecer. – Eu espero.

- Acho ótimo. Agora pode ir para a sua mesa, temos muito trabalho a fazer.

Sai da sala do senhor Maxon com um sorriso bem falso no rosto. No fundo ele está certo, tenho que parar de chegar atrasada, mesmo fazendo todo o meu trabalho sem erros e até mesmo antecipadamente, eu precisava deste emprego. Precisava demais. Tinha que sair do lar o mais breve possível, logo iria completar 21 anos e devo ter meu próprio cantinho. Mais alguns meses poderíamos, eu e Jason, estava economizando a mais de um ano para que isso fosse possível.

Assim que cheguei a minha mesa comecei a adiantar o meu trabalho, hoje não poderia ficar trabalhando até mais tarde como sempre, porque ia sair com o cara mais gato do meu bairro, Joe Davys. Quando estava quase encerrando o meu expediente o senhor Maxon jogou uma pilha de pastas em minha mesa, fazendo com que eu desse um pulo de susto.

- Bom, senhorita Smith, percebi que gosta de ficar após seu horário então não terá problemas em recolher dados sobre novos investidores e criar estratégias de como podemos conseguir mais contas, não é mesmo? Preciso delas para amanhã às 07h00 na minha mesa juntamente com uma apresentação, faça um trabalho completo pesquisando sobre os nossos maiores concorrentes e também mande uma cópia para o Senhor Dickens, em meu nome.

Quando você acha que não pode odiar ainda mais uma pessoa, aparece o senhor Maxon mostrando que isso é extremamente possível. Era realmente uma pena eu já ter idade para ser presa por assassinato.

- Mas Senhor eu... – não consegui nem argumentar porque ele já estava a caminho do elevador.

O ódio e raiva me fizeram terminar o trabalho em menos de duas horas. Cataloguei todos os novos clientes, focando no motivo da sua escolha por nosso sistema e quais benefícios se encaixam melhor a cada um, montei sua apresentação, transformei em dashboards e fiquei com uma cópia de tudo só por precaução.

O ponteiro do relógio que ficava em cima da minha mesa tocou, marcando 19h00. Comecei a me apressar. Marquei com Joe às 20h00 lá no lar, eu precisava chegar cedo e ainda me arrumar, ou tentar ficar apresentável pelo menos. Até que meu celular tocou mostrando que eu tinha uma nova mensagem. Número desconhecido avisava o visor. Mas eu já sabia a quem aquele número pertencia.

Sempre sua Luce (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora