Chapter 22: Ficou no passado...

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"Meus pés ainda estão amarrados em uma corda desfiada e seus fiapos machucam minha pele toda vez que tento me mexer. Não sei quanto tempo se passou, acabei de acordar e não consigo me mover. Mesmo acordada sinto um sonho tremendo e minha cabeça dói demais, mais o pior é meu estômago que está me matando. Tento virar de lado, mas a dor não deixa e uma pontada forte em minhas costas me faz reclamar baixinho.

- Já acordou menina? – um homem moreno, que estava sentado atrás de uma grande mesa, diz. O jeito que ele fala é estranho, parece não saber falar direito.

Tento falar alguma coisa, mas nada sai. Minha língua se embaralha sozinha. Sinto muita falta da minha mamãe, não me sinto bem. Começo a chorar porque estou morrendo de frio, fome, dor e medo. Apenas quero voltar para casa.

- Cala boca! – o homem grita e bate com a mão na mesa, me assustando. – Eu já devia ter dado um fim em você, criança inútil! – se levanta em vem em minha direção. Seus olhos escuros estão focados em mim e o pavor me consome por inteiro. Mesmo morrendo de dor vou me arrastando para trás, tentando fugir.

- O que está acontecendo aqui? – outro homem aparece. Ele é loiro e deve ter a mesma idade do outro, mas não fala como ele.

- Nada senhor, só estava tentando fazê-la ficar quieta.

- Eu já disse que é para mantê-la drogada, Trupp. – fala baixo, parecendo estar entediado. – Essa menina é minha mina de ouro e se você estragar tudo vai ter o mesmo final que os pais dela. Agora vá embora. – Acena de um lado para o outro. – Deixa que eu dou um jeito nela. – fala frio, me encarando enquanto sorri.

O homem moreno olha para mim e também sorri e isso vai direto para a ponta do meu estômago. Não entendo o que é, mas sei que não é bom. Depois que ele sai o homem loiro pega uma espécie de corda preta e vem em minha direção lentamente. - Agora você vai ter um bom motivo para gritar."

Acordo e percebo que estava gritando. Minha testa está toda molhada e meu rosto também das lágrimas que derramei, quando vou secá-las vejo que estou tremendo. Faz anos que eu não tenho esses pesadelos e confesso que estou assustada e surpresa ao mesmo tempo.

A primeira coisa que penso em fazer, agora que estou acordada, é chamar Jason, ele sempre soube o que fazer quando isso acontecia. Me abraçava forte e dizia que tudo ficaria bem e que ia sempre me proteger. Estava prestes a levantar e ir até seu dormitório, até que me lembro que ele não está aqui e que agora sou adulta e não uma criança aterrorizada com tudo.

Quase toda noite durante minha infância sonhos como esse me assombravam, fazendo-me refém do medo, deixando um pensamento fixo em minha cabeça: "Ele vai me pegar". O problema é que eu nunca soube quem era ele ou o que realmente aconteceu – ou se aconteceu – apenas sabia isso, que "ele" ia me pegar e mesmo não sabendo nada sobre isso ainda ficava absolutamente em pânico.

Desde que os pesadelos começaram a acontecer eu ignoro e continuo a minha vida. Dona Marlee e alguns médicos do lar tentavam me fazer lembrar, mas eu na realidade nunca quis. Omitia tudo e aguardava em algum lugar bem distante, no qual eu nunca quis procurar. Meu passado foi apagado de mim e nunca me senti mal por isso, porque era o que eu queria.

Esquecer além de ser mais fácil era libertador.

Então fiz o que sempre fazia, respirei fundo e fingi que nada aconteceu.

- Você está bem, Emma. Na verdade está ótima! - digo repetidamente a mim mesma, até que eu acredite ou pelo menos chegue perto disso.

Ainda tremendo procuro meu celular para ver a hora, porém quando vou pegá-lo o despertador do lar toca.

Sempre sua Luce (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora