Chapter 5 : O estranho do 12º andar

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Fiquei parada, imóvel por um instante, com as mãos apertando a parte de cima da máquina. Passei por um misto de sensações. Primeiro foi o medo. Quem estaria a essa hora ainda aqui na empresa e por quê? Ninguém nunca ficava até esse horário, pelo menos até agora. Segundo foi a curiosidade. A voz era de homem com certeza. Era uma mistura de firmeza, repreensão, mas também comicidade. Ele deveria estar rindo ou achando engraçada a minha discussão com a máquina de café.

Ou achar que sou uma louca mesmo.

- Acho melhor você dar um tempo a ela antes do 2º round, linda. - disse o estranho.

Tomei coragem e me virei para olhá-lo. Acho que até senti uma glória divina na minha cara, sem exageros. Se Deus mandasse alguém para representar o sexo na terra era esse homem. Devia ter uns 30 anos, não sei bem. Pele um pouco bronzeada, cabelos negros ondulados estavam bagunçados e emolduravam seu rosto. De início seu corpo foi o que chamou a minha atenção, todo grande e forte, emanava certa segurança, conforto. Seu sorriso era de um perfeito conquistador que faziam companhia a sua postura. Estava debruçado no vão da porta, com as mãos apoiadas no batente, seu corpo ocupava todo o vão.

Porém o que me enfeitiçou foram seus olhos.

Foi muito estranho. Sabia que nunca havia visto aquele homem em minha vida, mas algo em seus olhos teimava me dizer o contrário. Enquanto isso, minha mente e meu coração travavam sua própria batalha. Não conseguia parar de olhá-los, eram como faróis me chamando, cada vez mais. Tinham uma cor escura, tal qual carvão, onde quase não se distinguia de sua pupila. Cílios e sobrancelhas negras e grossas contornavam e aperfeiçoavam seu olhar, os tornando cada vez mais enigmáticos.

Para muitos, até mesmo para mim, a beleza dos olhos estava em sua cor como azul, verde ou amendoada, mas pela primeira vez percebi o quão errado era esse pensamento. No momento não conseguia pensar em um par de olhos azuis ou verdes mais bonitos que os negros do estranho em minha frente.

Não reparei que minhas mãos estavam suadas até que as esfreguei em minha saia plissada, fingindo tirar dobras que não existiam. Ele também me encarava. Seu sorriso logo se desmanchou e agora estava sério. Seus olhos estavam fixos nos meus e seu olhar era incrédulo, como se estivesse com dúvida ou preocupado com alguma coisa.

- O-o que – eu disse tentando voltar à realidade – O que você disse?

- Oh, eu...– parecia que também estava perdido em seus pensamentos. Limpou a garganta e continuou –...Perguntei o que a máquina lhe fez, linda.

Sai do meu momento de êxtase e comecei a ficar irritada de novo. Quem esse cara pensa que é? Odeio quando homens colocam apelidos em mim sem motivo ou se quer me conhecer. Por que fica me chamando de linda? Até aqui na empresa não fico em paz.

- Não te interessa! - respondi irritada - Quem é você?

- Calma, minha linda. Trabalho aqui como a senhorita, suponho. Estava trabalhando até mais tarde em um novo projeto, sou... – sua voz mansa e extremamente sedutora estava me tirando do sério.

- Não sou sua linda! Na verdade, não sou nada sua nem te conhecer eu conheço! Se você me chamar de linda mais uma vez juro que te dou um soco na cara!

Ele continuava a me olhar daquele jeito intenso, deixando-me cada vez mais sem fôlego. Soltou o batente e começou a andar em minha direção. Lentamente. Não conseguia pensar, falar, nem mesmo me mover. Não sei por que estava tão irritada com aquele estranho, mas ao mesmo tempo queria sentir suas mãos grandes e fortes em mim, explorando meu corpo todo, saciando o meu desejo me apertando contra o balcão. Não, não. O que está acontecendo comigo? Preciso pegar alguém, a abstinência está me fazendo mal.

Ele continuou vindo devagar em minha direção até que começou a abrir seu paletó. Depois foi a vez de gravata. Tudo isso sem nenhum momento tirar os olhos de mim. Meu coração começou a disparar, a respiração aumentou tanto que parecia que faltava ar no ambiente, não conseguia entender o que estava acontecendo comigo. O desejo estava tomando conta e aqueles olhos quase negros estavam me levando à loucura. Ele parou a uns 30 centímetros de distância. Ainda me encarando passou a mão por de trás de minha cintura e...

Tec!

- Você tem que apertar mais forte. – Seu sorriso malicioso estava de volta. Comecei a encarar seus lábios e sua barba por fazer. Pensei como deve ser senti-la no rosto, esfregando em meu pescoço, qual seria a sensação dele me apertando seus lábios contra os meus...

Oh céus, eu me transformei em uma tarada!

- O... O-oque? – minha voz saiu fraca, quase inaudível. A gagueira estava me dominado hoje.

- Eu disse que você precisa apertar mais forte. – seu tom de voz era grosso e profundo. Ai meu Deus, apertar o que mais forte? Como assim? Será que ele estava pensando o mesmo que eu?

- Apertar o-o que mais forte?! – Fiquei um pouco com medo de perguntar. Tudo o que passava na minha cabeça não era nada inocente, queria apertar muitas coisas daquele homem ou que ele apertasse muitas coisas minhas, aí não sei!

Foco, Emma, foco!

Então ele passou a mão pelas minhas costas de cima a baixo e parou perto do topo da minha bunda. Comecei a ofegar. Respirar estava se tornando uma tarefa cada vez mais difícil perto dele. Até que me puxou para o lado devagar e foi se aproximando cada vez mais. Ele me apertou ainda mais, puder sentir seu corpo prensando o meu cada vez mais. Em um momento fechei os olhos, me concentrando apenas em suas mãos e o caminho que as percorriam.

- Apertar a alavanca da máquina mais forte, ela costuma travar às vezes. Se a senhorita preferir... – sussurrou baixinho em meu ouvido, com uma voz rouca muito – ...posso ajudá-la com isso.

Nesse momento soltei um grunhido vergonhoso, que me fez despertar e ser jogada de volta a realidade. Encarei seus olhos mais não por muito tempo, estava confusa demais e aí então desviei o olhar e vislumbrei a máquina ligada. Estava tão enfeitiçada que não reparei que ele abriu o compartimento de cápsulas para ligar o equipamento. Que vergonha!

Precisava sair dali imediatamente. O estranho irresistível estava me olhando profundamente com um sorriso tentador. Libertei-me de seus braços e comecei a andar rapidamente em direção ao elevador até que ele me puxou pelo braço.

- Espere! Qual é o seu nome? – questiona.

Puxei meu braço um pouco forte demais e continuei andando mais rápido agora de encontro ao elevador olhando para o chão. As escadas não eram uma boa opção nesse momento, ficar em um lugar escuro com esse homem não ia ajudar.

Então ele disse com uma voz firme e séria quase gritando:

- Eu perguntei qual é o seu nome, senhorita. Responda. – Comanda petulante.

Apertei o botão do elevador e só aí olhei para trás. Ele estava parado no mesmo lugar onde tinha me puxado quando pediu para que eu esperasse. O elevador chegou. Não consegui tirar os olhos daquele estranho executivo que me encarava.

Seu rosto estava sério e impassível, pude ver que me olhava em dúvida. Ainda olhando para ele comecei a entrar lentamente no elevador de costas. Agora ele estava se aproximando rapidamente com uma expressão de raiva em seu rosto. Não sei bem se era isso direito. Ele escondia muito bem suas emoções, ao contrário de mim é claro.

- Eu? – falo baixo, desviando o olhar – Não sou ninguém, senhor. Boa noite.

E as portas do elevador se fecharam.

Sempre sua Luce (Concluído)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora