Acidente ou crime?

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E mais uma noite na esquadra era preenchida com conversas aleatórias, gargalhadas abafadas e comentários impróprios. O meu parceiro bebia o café que lhe entregara há minutos e barafustava acerca deste lhe ter queimado parte das células sensoriais que lhe oferecem o paladar.

- Queria ver se fosses tu. –James falou claramente aborrecido. – Ah, o Jack tratava não era?

- Ah-ah-ah – Ironizei mesmo que divertida. – Até podias ligar à Beth mas ela deve estar no seu sono de beleza...e um bom cavalheiro não perturba uma princesa!

Ri e bebi mais um gole do meu café enquanto ele mantinha a expressão de 'Já sabia que ias dizer isso'.

- Ouvi dizer que ela anda nas nuvens. – Olhei-o, mais séria. – Parece-me que não é a única.

- Ela é uma boa miúda, não se devia iludir com o amor. – Ele comentou esforçando-se para se mostrar indiferente. – O trabalho tem corrido bem, só isso.

- Sabes que não vale a pena adiar o inevitável, tens-me como prova disso!

- Sei Jennifer, eu sofro com isso todos os dias. – James suspirou.

- És realmente um cavalheiro que sofre pela sua amada. O quão lindo isso é...- Levei a mão ao peito dramatizando ainda mais.

- Sofro é contigo apaixonada! O Jack faz-te demasiado bem sabes? – O tenente concluiu ignorando a minha provocação.

- És um querido realmente. – Levantei-me ao pegar no telemóvel. – Mas continuas a ser um tenente e ter de trabalhar.

Atendi o telemóvel e peguei no casaco, pedindo a James que me seguisse até ao carro.

- Um crime? – Ele questionou ainda escandalizado ao arrancar. – Porque é que te ligam agora? Eu é que sou o tenente!

- Contactos, meu amigo. – Mostrei-lhe a língua num ato infantil e ambos rimos embora estivéssemos prestes a encarar um cenário pouco agradável.

(...)

Mais um jovem morria após uma festa. Teria falecido feliz depois de uma excelente festa ou estaria em baixo por um motivo não tão importante? Uma questão que provavelmente ficará por responder. Talvez estar nas rochas ao amanhecer não pareça uma boa ideia depois de ver um amigo a ficar inconsciente ou talvez continue com a mesma piada, porque o álcool ainda perturba a mente jovem dos companheiros do falecido. Mais cedo ou mais tarde eles irão refletir e sentir-se incomodados, culpados e os malditos remorsos. Não vale de nada. Já passou, já acabou. Infelizmente.

Ultrapassei a fita que vedava o local do acidente. Vários eram os elementos vestidos de vermelho a finalizar o seu trabalho que consiste no resgate de um corpo inerte de um pálido jovem manchado. Envoltos num material isotérmico brilhante estava um casal que chorava. Testemunhas?! Um jovem com a roupa encharcada e a mancar de uma pera ferida era encaminhado para a ambulância recém-chegada. Analisei-o e senti uma certa necessidade de o olhar nos olhos, tal como fiz nos segundos seguintes, e percebi que algo de errado acontecera. Os olhos não mostrava a tristeza de uma perda.

- Tenente James e Agente Especial Jennifer. – O meu parceiro falou para o homem que parecia comandar a equipa de bombeiros.

- Peter, chefe de equipa. – Falou ao retirar as luvas e esticar a mão para o cumprimento que se seguiu.- Há uma vítima mortal debaixo do lençol, um ferido ligeiro como viram e aquele casal amigo que apenas observou.

- O ferido ligeiro estava sóbrio? – James começou à procura de informações através dos bombeiros e eu dirigi-me ao casal.

Estava a amanhecer e o meu casaco preto comprido parecia não me proteger do frio que ainda assolava o local. O rapaz limpou as lágrimas à sua amada e beijou-lhe a testa. O sol espreitava da linha do mar e a cores do céu combinavam com o cenário. Um rosa avermelhado em degradé seguido de um azul acinzentado.

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