Capítulo 01 - Esperança

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Pela noite que caía e dera lugar ao sol, o mundo se iniciava atrás das montanhas. Os pássaros mergulhados no ar concebiam a primeira dança do dia, seus cantos traíam o silêncio do fim da madrugada. Os raios traziam calor à Terra, aclarando as florestas escuras. 

Meus pés descalços corriam livremente sobre o grama alta e úmida pelo orvalho. Sentia a liberdade inundar meu corpo de uma forma magnífica. Eu jamais me cansaria daquela sensação.
Ainda que os anos passassem, aquela emoção nunca se repetia. Todos os inícios de primavera eram sempre únicos. Toda a morbidez daquele palácio ficava para trás, esquecido entre os metros adiante. Não haviam problemas, medos ou dores. A insegurança de um futuro incerto deixou de existir em algum momento entre o amor e a dor.

Ainda sendo a rainha, eu tinha os meus momentos livres. As coisas haviam mudado nos últimos anos. A Inglaterra ganhou um novo Rei, e eu... um novo marido.

O irmão de Asher assumiu seu lugar no trono e consequentemente seus filhos. Ele era como um pai para os gêmeos, mesmo que eu fizesse questão de deixar claro de quem era realmente o pai.

Asher ainda trazia grandes memórias. Um amor tão intenso, não se esquece. Um amor como o nosso, cheio de altos e baixos, brigas e reconciliações não se deixava cair no esquecimento tão facilmente. Um sentimento de luz em meio a uma escuridão imensurável, tentando de todos os modos construir algo sólido e firme sobre destroços irreparáveis.

Estávamos destruídos demais para nos salvarmos.

- Mamãe?

A voz do meu pequeno soou distante. Olhei para trás vendo-o correr até mim desesperadamente.

Ele se intercalava entre sorrisos e gritos. Seus olhos azuis arregalados transmitiam medo e alegria juntamente. Os misteriosos olhos que me lembravam tanto Asher.

Logo que vi o pelo branco e um corpo grande surgir atrás do pequeno Ayddan.

O grande lobo corria atrás do garoto, tentando não alcançá-lo. Ayddan parecia se divertir enquanto corria até mim eufórico.

Encarei os olhos vermelhos de Nann, que traziam sempre uma linha de bondade e inocência. Nann estava enorme, quase como o pai. Ele havia se tornado um rapaz desde a partida de Asher.

Já o pequeno nunca conhecera o pai, apenas o via em fotos. Ayddan a cada dia se parecia mais com Asher.

Um sentimento de falta voltou a estar presente. Não como no primeiro ano, uma dor triste e escura, agora uma saudade tranquila. Uma lembrança boa.

Asher não havia nos deixado 100%, parte dele estava nos filhos. Mais precisamente em Ayddan.

Ele se aproximava cada vez mais, como se fosse eu, seu eterno porto seguro.

- Mamãe! - ele exclamou jogando-se em meus braços. Tentando se proteger de todo o mundo.

Era como todas as crianças de três anos. Sentiam que suas mães eram seus maiores defensores dos monstros do mundo. Daqueles que viviam debaixo da cama ou nos armários.

E eu deixaria que ele acreditasse nisso, que os monstros eram tão simples, e não tão perversos como os que viviam dentro de nós mesmos.

E eu os protegeria por longos anos, ainda que faltasse uma parte insubstituível.

- Onde está Aeryn?

- Está blincando com a titia. - ele respondeu

- Ah é?! E o que você faz a essa hora acordado? - perguntei o segurando em meu colo.

- Eu queria a mamãe! - ele disse agarrando meu pescoço.

O enchi de beijos ouvindo sua risada gostosa soar alta. Ele sentia cócegas.

- Eu amo tanto o meu príncipe!

- E eu amo a mamãe.

Eu encontrei algo que poucos conseguiram, algo que busquei por muitos anos, a felicidade vinda em pequenos traços de esperança.

Pela primeira vez na vida, eu era realmente feliz...

E talvez isso tenha me custado muito, mas valeu a pena.

Eu a tinha outra vez...

A tão preciosa... Esperança.

Lua Imortal - Híbridos Puro Sangue  《3° Livro》Where stories live. Discover now