Capítulo VII

693 41 5
                                    

Duas semanas se passaram desde a última vez que vi Lorenzo, ele não me mandou qualquer mensagem ou tentou entrar em contato. Pouco vi os homens da Família, estavam todos envolvidos em um esquema de segurança máxima para meu noivado. Dante Cavallaro não era é o tipo de homem que costumava sair de seu território, os acordos geralmente eram feitos dentro de Chicago, e meu pai e tio acabavam indo até lá. Pela primeira vez em anos de parceria, os acordos seriam feitos em Nova York e uma garota da Família seria dada para um homem da Outfit. Ao falar assim, poderia sentir-me como uma mercadoria, mas sempre soube o papel da mulher dentro dessas organizações e o que para sociedade não era visto como certo, para nós era como uma lei, a principal diferença das leis da sociedade para as nossas, era que as nossas nós seguíamos e respeitávamos sempre.
Sempre soube também que se escolhesse me casar por amor, meu pai apoiaria minha decisão. Ele jamais concordou em ter a filha como objeto de troca em um acordo, essa concordância veio de minha parte, sabendo tudo que estava em jogo, e mesmo não sendo de bom grado, sempre quis saber como Lorenzo agia e o que seria capaz de fazer para me ter com ele. Não havia começado com meu plano de fazê-lo desistir, mas ele começaria em breve.

A festa estava simplesmente perfeita, mostrando o valor da Família e todo seu poder. Os mais importantes chefes estavam presentes, ansiosos para tratarem de negócios. Qualquer ocasião sempre é tida como um momento para os negócios e aquela não seria diferente.
Lorenzo chegou a festa acompanhado de seus pais, e irmã, que esperava o segundo filho, junto do marido.
- Cada dia mais bela. - Ele falou entregando flores para minha mãe.
- Obrigada. - Ela sorriu desconfiada, aceitando as flores.
- Boa noite. - Mudou a postura assim que apertou a mão de meu pai.
- Boa noite. - Meu pai respondeu em mesmo tom.
- Nina. - Ele sorriu me encarando.
- Cada dia mais linda sua filha, Matteo. - Dante elogiou me fazendo corar.
- É uma bela moça, fico feliz com a escolha de Lorenzo. - Valentina comentou também.
- Obrigada. - Sorri timidamente e em seguida segurei a mão de meu pai.
- Puxou a mãe. - Meu pai respondeu.
- Podemos conversar um instante? - Dante pediu e logo seguiu com meu pai, para um local mais afastado.
- Val, vamos até Aria, ela estava ansiosa para lhe ver. - Minha mãe falou, esperando que eu acompanhasse.
- Filha? - Ela chamou minha atenção, quando não me movi e segui encarando Lorenzo.
- Gostaria de conversar com Nina, se a senhora não se importar. - Lorenzo me deu o braço e assim que minha mãe assentiu com a cabeça, seguimos em direção ao segundo piso onde havia um mezanino muito bem decorado com sofás e puffs dispostos pelo ambiente.
- Ficou interessante essa decoração, você quem escolheu? - Ele perguntou me puxando para sentar com ele.
- Não gosto de perder tempo com essas bobagens. Anita, tia Aria e minha mãe cuidaram de tudo. - Disse me afastando um pouco.
- Imaginei. Não há tatames e objetos cortantes na decoração, ela realmente não tem tua cara, parece algo feminino, delicado e sofisticado.
- Quer dizer que não sou femiNina, delicada e sofisticada? - O encarei demonstrando raiva.
- Você pode ter várias qualidades, mas essas de fato não fazem parte do seu ser. - Ele deixou mostrar um sorriso no canto dos olhos.
- E por isso me escolheu para ser sua noiva?
- Talvez. Talvez algum dia lhe conte o motivo.
- Eu sei o motivo. - O desafiei.
- Sabe? Me conte qual é então.
- Você quer me ter todas as noites, como se eu fosse lhe deixar tocar em mim. - Sorri.
- Quem disse que precisa deixar algo? Não costumo pedir ou me importar com o que quero, apenas o tenho.
- Vai ter que aprender a agir diferente então.
- Por causa de uma mulher? - Ele riu em deboche.
- Por causa de... - Comecei a falar, mas fomos interrompidos por Katy.
- Lorenzo, meu Deus, você está ainda mais bonito. - Ela sorriu o cumprimentando. - Fiquei feliz com o convite.
- Você convidou ela? - Segurei forte seu braço, chamando sua atenção.
- Sim, convidei algumas garotas que conheço. - Ele respondeu convencido.
- Você só pode estar brincando comigo. - Disse com raiva.
- Olha Nina, sei que não temos uma convivência muito legal, mas fizemos parte de um mesmo mundo, um mundo onde farei de tudo pela felicidade de Lorenzo. - Katy nos interrompeu debochando.
Katy era filha de um dos soldados da Família e obviamente queria ver o pai subindo de posição, atirava para todos os lado possíveis, queria poder, mesmo se o poder viesse da OutFit. Para garotas como ela, ser amante de um capo poderia ser sua sorte grande e qualquer pessoa conseguiria notar esse querer dela.
- Eu e minha futura noiva estamos felizes com sua presença. - Lorenzo respondeu. - Mais tarde te ligo para conversarmos e você me mostrar aqueles lugares. - Falou mais baixo, mas alto o suficiente para que eu pudesse ouvir. Eu ainda não havia dito sim para o seu pedido de noivado, alias, o pedido nem havia sido feito ainda, mas mentalmente pensava em maneiras de fazê-lo engolir o anel que ele provavelmente me daria aquela noite.
Não respondi nada para os dois, simplesmente sai deixando-os sozinhos e fui até onde Pietro estava.
- O que aconteceu? - Ele perguntou assim que me aproximei.
- Não agüento ficar mais de 10 minutos junto de meu noivo, ele é um insuportável. - Falei com raiva.
- Ele é da OutFit, você não pode esperar coisas boas de lá.
- Vocês já foram um pouco amigos.
- Nós éramos bobos demais Nina, não existe amizade nesse meio.
- Tem razão. Quem convidou a Katy?
- Estava na lista de convidados dele...
- Aquele desgraçado.
- Quer que eu a expulse? - Perguntou intrigado.
- Não, pode deixar sua amante a vontade em nossa festa.
- Amante, mas? Do que você está falando.
- O Lorenzo, quer me fazer sentir ciúmes dele com aquela lá, como se isso fosse possível, sinto é mais nojo ainda. - Disse com raiva.
- Mas ele não pode fazer isso, ele te deve um mínimo de respeito, ainda mais quando o assunto é uma garota que só tem vocação para trabalhar como prostituta para Família, e olhe lá.
- Ele sabe, não sei como, mas ele sabe que eu não suporto ela e quer jogar comigo.
- E qual o plano da vez?
- Ainda não sei, mas até o final da noite terei uma resposta para essa pergunta. - Sorri.
- Vai ser bom ter uma informante com os inimigos. - Ele riu e me abraçou.
- Será que eu vou chegar a ir para o lado de lá? - Perguntei manhosa.
- Espero que não. - Ele sorriu e beijou minha testa. - Quero que você seja feliz.
- Eu também. - Sorri.
- Vamos voltar pra festa? Podem estranhar e eu preciso voltar a minha postura de futuro Capo. - Ele riu divertido e depois ficou sério novamente.
- Como o senhor preferir. - Debochei e voltei com ele para o salão da festa.
Lorenzo estava bebendo Martini acompanhado de Katy, o fuzilei com o olhar e segui em direção meu irmão e Martin.
- Nosso pai estava lhe procurando. - Joseph disse ao me ver chegar.
- Estava com Pietro. - Respondi. - Onde ele está?
- No segundo andar, acho que vão anunciar o noivado. - Falou parecendo bravo com aquilo.
- Hum, vou lá então.
- Quanto animo para uma noiva. - Martin zombou me fazendo bufar.

- O senhor estava me procurando? - Falei assim que encontrei meu pai conversando com Dante.
- Sim, queremos fazer o anúncio. Onde está Lorenzo? - Perguntou encarando Dante.
- Cortejando a filha de um dos soldados da família. - Respondi sem travas na língua, fazendo meu pai me olhar com um ar de riso no rosto e Dante em tom de desaprovação.
- Com licença. - Dante respondeu e saiu indo até Valentina que estava perto, os dois imediatamente desceram até o primeiro piso e voltaram em seguida com Lorenzo, que não escondia um sorriso no canto dos lábios.
Como de costume não demoraram muito para o anúncio, Lorenzo fingiu-se apaixonado me pedindo a mão em casamento e eu aceitei, sem esboçar um sorriso ou qualquer sentimento. Em seguida chamaram todos os presentes para o jantar.
- Estou ansioso com o casamento. - Ele sorriu debochado segurando minha mão, assim que sentamos. Achei melhor não responde-lo, se o respondendo ele se divertia, preferi retirar minha mão debaixo da sua e o ignorar.
- Está maravilhoso. - Valentina tentou amenizar o clima tenso da mesa, não apenas por minha parte, mas Dante não deixava de demonstrar raiva em olhar para o filho.
- Obrigada, fico feliz que gostou. - Minha mãe respondeu.
- Os Russos foram atacados, parece que não sobrou nenhum soldado deles no lado leste. - Pietro disse verificando o celular.
- E de quem foi a autoria do ataque? - Dante perguntou encarando Lorenzo rapidamente.
- Estou jantando. - Lorenzo sorriu.
- Ainda não falaram sobre isso, mas podemos todos aguardar uma retaliação em breve. - Joseph respondeu.
- Acredito que eles estejam gostando de perder soldados. - Lorenzo finalmente falou sério, desfazendo-se do homem irônico e dando lugar a um futuro capo.
- Para OutFit? - tio Luca perguntou.
- Para o futuro capo da OutFit. - Sorriu convencido.
- Devo parabenizá-lo pelo novo ataque? - Meu pai perguntou.
- Acredito que aos meus soldados sim. - Ele riu. Por um minuto encarei Dante, que não parecia feliz com aquilo.
- Depois gostaria de tratar alguns assuntos com você. - Lorenzo disse para meu pai.
- Estão convidados para um almoço em minha casa amanhã, acredito que seria uma melhor ocasião.
- Tenho certeza que sim. - Dante respondeu não deixando que Lorenzo falasse.

O restante do jantar se seguiu com Lorenzo ao lado de seu pai, ele parecia desgostoso com aquilo, mas obedeceu. Valentina tentava amenizar o clima entre ambos, mas não parecia ter muito sucesso com o feito. Cansada, pedi para ir pra casa e me despedi de alguns poucos convidados que restavam na festa.

- Te vejo amanhã então. - Lorenzo falou beijando minha testa.
- Infelizmente. - Respondi alto o suficiente para que apenas ele ouvisse.

Ao chegar em casa retirei do dedo o anel de noivado, deixando-o ao lado de minha cama. Estava cansada e não queria conversar, então fingi dormir assim que notei minha mãe entrando em meu quarto. Ela me cobriu melhor e beijou minha testa, parecia triste, talvez pelo cansaço dos últimos dias. E pensando que aquele seria provavelmente meu último ano naquela casa, adormeci.

Xx

Eu estava oficialmente ferrada, deveria ter chegado em casa antes das 10horas, mas a prova que parecia ser fácil foi uma das mais difíceis da vida e com isso me atrasei na faculdade. Ao chegar percebi pelo olhar de minha mãe que as visitas já haviam chegado. Já passava do meio dia e rezei para que o Sr Dante não estivesse um mala por não me encontrar em casa. Mesmo não pertencendo a Outfit eu tinha medo e um certo respeito por ele. Contudo fazer Lorenzo esperar por mim e mostrar que sua presença em minha casa não era importante, me fez estufar o peito e entrar de cabeça erguida, sem demonstrar medo.

- Que bom que chegou, estávamos começando a servir o almoço. - Meu pai falou assim que me viu.
- A prova foi mais difícil que pensei que seria. - Justifiquei indo até ele.
- Não se preocupe com isso. - Ele respondeu e beijou minha testa. Em seguida me dirigi até Dante, Valentina e por último cumprimentei meu noivo.
- Parece que sua manhã foi agitada. - Ele disse colocando alguns fios soltos de meu cabelo para trás da orelha.
- Diferente do que certas pessoas acham, eu tenho mais o que fazer. - Respondi tirando sua mão de mim.
- Sempre bom te ver noivinha. - Ele sorriu e me deu um selinho.
- Eu vou cortar sua língua fora. - Respondi e segui os demais até a sala de jantar.

Lorenzo obviamente sentou ao meu lado, ignorando o pedido de sua mãe, de sentar ao lado dela e seu pai.
- Os jovens de hoje em dia são diferentes, nem sempre fazem tudo que pedimos. - Valentina disse.
- Não só os de hoje em dia, lembro do que aconteceu há alguns anos atrás com outros jovens. - Dante disse encarando meu pai e fazendo-o sorrir.
- Isso é passado. - Minha mãe respondeu.
- Nina parece com vocês? - Dante perguntou.
- Ela é mais parecida comigo, principalmente pelo amor em relação a luta e facas. - Meu pai falou orgulhoso.
- Soube que você faz faculdade de medicina. - Valentina mudou o assunto.
- Sim, estou no segundo ano. - Respondi.
- És uma meNina inteligente. - Dante disse.
- Você pensa em fazer algum curso? - Minha mãe perguntou para Lorenzo.
- Não, eu gosto de matar pessoas, acho que não tem faculdade pra isso, mas sou bom no que gosto de fazer. - Ele sorriu.
- É bom no que deve fazer. - Meu pai respondeu. - Soube de alguns feitos seus.
- Gosto de atacar, não costumo esperar me atacarem, adicionamos novas terras aos nossos domínios, meu pai me ensinou desde muito cedo a não temer ninguém.
- E você aprendeu bem isso. - Eu respondi sem perceber.
- Aprendi e busco alguém que saiba lidar com pessoas como eu. - Ele disse beijando minha mão.
- Nada que uma faca no lugar certo não resolva. - Respondi provocando desconforto na mesa e uma gargalhada de Valentina.
- Meu filho precisa de uma mulher como você. - Ela respondeu e encarou o marido, pedindo perdão pela risada, mas no segundo seguinte todos a acompanharam, deixando o clima menos pesado.
- Aguardo ansiosamente por seu toque no lugar certo, mas sem facas no meio disso. - Lorenzo cochichou me fazendo arrepiar, em seguida colocou a mão em cima de minha coxa e apertou.
- Estava maravilhoso. - Respondi chamando atenção dos outros e fazendo-o tirar as mãos de mim.
- Gostaria de fazer um passeio com sua filha durante essa tarde, seria problema? - Lorenzo perguntou assim que terminamos o almoço.
- Acredito que ela possa responder melhor que eu. - Meu pai respondeu, deixando Dante intrigado.
- Tenho uma prova, só posso depois das 18 horas. - Respondi torcendo para ele já ter ido embora.
- Então posso levar você para um jantar as 20 horas, o que acha? - Queria dizer que não, que nem por cima do meu cadáver, mas Dante e Valentina me encaravam, Val parecia esperançosa com o desastre que seria nosso casamento, Dante já parecia temer o pior.
- Ok, mas não posso demorar muito.
- Como preferir. - Ele respondeu sem demonstrar emoção, e algum tempo depois, junto de seus pais, se despediu, deixando-nos sozinhos para comentar o que havia sido aquele almoço em família.

Bound by PowerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora