Capítulo 3 - Procurando o João

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Depois de horas de agonia, resolvi encarar a situação. Busquei forças sei lá de onde, levantei-me da cama, tomei um banho e me vesti para sair à procura do João. Era sábado. Eu não trabalho aos sábados. Nem o João. Mas onde eu iria encontrá-lo?

Tentei ligar de novo antes de sair e, nada... Não tinha o endereço dele anotado em minha agenda. Aliás, minha agenda é uma piada! Não tem nada anotado mesmo. Nunca imaginei que precisaria ter o endereço do João em minha agenda. Eu o conheço há tanto tempo, que nunca pensei que me esqueceria do lugar onde ele mora. Acontece que eu me esqueci. Assim, o que eu poderia fazer em uma situação como essa? Andar...

Andei por todos os lugares. Dei mil voltas pelo centro da cidade. Parei em todos os bares, lojas, esquinas e em frente ao Getúlio. Nada do João. Minha cidade é pequena. Sorte minha! Logo perceberam que havia algo de errado comigo. Não sei quem percebeu. Só sei que perceberam e ligaram para o João. É que eu vivo junto com ele. Quero dizer, sempre estou com ele por aí. Todo mundo sabe que ele é meu amigo do peito. Então, ligaram para ele, pois não tenho mais família por aqui.

Acho que pensaram que eu estava ficando louco ou que estava embriagado. Sei lá... Esse povo acha demais. Não tem muito o que fazer, daí fica achando, achando... Pensando na vida dos outros por falta de vida própria para pensar. Mas isso não vem ao caso.

O João me encontrou sentado no banco da mesma praça que tem a estátua do tal ex-presidente do Brasil, que você já sabe quem é. Quando ele chegou, pensei estar vendo alguém que eu conhecia de algum lugar, mas não sabia de onde. Você já teve essa sensação? Acho que todo mundo já teve, não é? Pois é... Só que ter essa sensação com um cara que cresceu junto com você é meio estranho. Que loucura! Enfim... O João falou comigo e acabei me dando conta de quem ele era. Fomos embora para a sua casa. Realmente não era adequado falar sobre a "invasão" na praça central da cidade.

Chegando lá, tive a impressão de estar em um lugar totalmente desconhecido. E Clara novamente invadiu meus pensamentos. O João me perguntou o que estava acontecendo e eu comecei a falar, sem ter controle algum do que dizia.

Disse a ele que Clara havia me abandonado e que eu já não sabia mais o que fazer para reencontrá-la. Ela se mudara para um lugar distante e não deixara qualquer vestígio. Eu não sabia por onde começar a procurá-la. Só sabia que a queria demais e que faria qualquer coisa para tê-la de volta.

Os olhos de Clara latejavam em minha cabeça. Sua voz provocava um terrível zumbido em meus ouvidos. Era uma mistura de saudade e dor, de castigo e piedade. Estranho! Muito estranho! O João me olhava com uma cara de espanto que jamais vi antes em toda a minha vida. Ele tinha todas as razões para isso. Quem era Clara? Que história mais maluca era essa? Eu contava tudo para o João. Era impossível eu ter vivido uma história de amor tão intensa, que deixou tantas sequelas, sem ter falado para ele.

Foi por isso que ele desconfiou logo da presença de um espírito. Ele acredita muito nessas coisas. Mas como eu já falei - pelo menos eu acho que já falei - o João não é especialista em espiritismo, não. Nem sei se ele já frequentou algum centro espírita. E isso também não vem ao caso. O que importa é que ele tem essa crença nos espíritos. Então, disse que poderia ser isso: um espírito querendo falar por meio de mim. Só uma coisa não fazia sentido para o João. Por que minhas lembranças estavam sumindo ao mesmo tempo em que as de Quem apareciam?

Nossa! Complicado isso, não? O que você acha? O tal do Quem é mesmo um espírito? E se é, por que as memórias do nosso protagonista estão sumindo quando as dele aparecem?

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Nossa! Complicado isso, não? O que você acha? O tal do Quem é mesmo um espírito? E se é, por que as memórias do nosso protagonista estão sumindo quando as dele aparecem?

Memórias de QuemWhere stories live. Discover now