Capítulo 5 - Reencontrando o passado

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Depois do sábado em que o Quem invadiu a minha mente, não tentei mais ligar para a minha irmã Eliza. Pensei bem e cheguei à conclusão de que seria melhor que ela não soubesse de nada. Mas o João ligou para ela e contou tudo. Não gostei disso. Acho que ele traiu a minha confiança, pois pedi sigilo total sobre esse assunto. Então, ele veio com uma conversa de que eu precisava de ajuda e que minha irmã era a pessoa mais próxima que eu tinha etc. Depois, falou mais um monte de idiotices de quem adora demonstrar que está preocupado com os outros.

O João às vezes me deixa muito irritado! Acha que é o ser perfeito e que todos precisam de sua ajuda. Bem, deixa isso pra lá. Você já deve ter percebido que estou muito chateado com o João. Mas isso não importa e nem interfere em nada na minha história ou na de Quem.

O fato é que depois que o João contou o que estava acontecendo comigo, Eliza me ligou. E ficou me enchendo o saco, dizendo que eu devia mesmo estar ficando louco. Fez um verdadeiro interrogatório. Ela é médica e logo de cara ficou achando que eu estava usando drogas. Eu mereço! Nunca usei drogas. Sou o cara mais careta que eu mesmo já conheci e tive que ficar escutando um monte de besteiras. Mas tudo bem. Irmã é irmã.

Eu sempre fui meio largado na vida. Por isso, muitas pessoas pensam que sou um drogado ou sei lá o quê. Sinceramente, acho que quem curte drogas não sabe aproveitar as coisas boas da vida. Ela só leva a pessoa para o "fundo do poço". Bem, mas chega desse papo. O que interessa é que fui obrigado a ouvir um sermão totalmente de graça. Sem dever nenhum centavo. Ela só parou quando eu jurei que não era isso.

Eliza sempre foi a mais responsável de nós dois. E sempre cuidou de mim. Não temos outros irmãos e ela é dois anos mais velha do que eu. Depois que nossos pais morreram, ela praticamente tomou o lugar deles. Sentiu-se na obrigação de olhar por mim. Só que já tem uns quatro anos que ela se mudou daqui. Então, ela fica mais preocupada ainda, porque perdeu o controle sobre mim. Não sabe mais de todos os meus passos.

Ela mora em Gramado, na Serra Gaúcha. Meu cunhado Felipe foi quem quis ir para lá. Eliza não queria se mudar. Ele teve que jogar pesado para convencê-la. Porém, no fim das contas ela acabou gostando.

O Felipe é economista e dava aulas em uma universidade de uma cidade vizinha à minha. Como eu já disse, a minha cidade é muito pequena e nem tem faculdade. Mas a cidade vizinha tem. O Felipe já estava cansado dessa vida, apesar de seus quarenta e poucos anos. Daí foi para Gramado em suas férias junto com Eliza e as crianças. Apaixonou-se pela cidade e pelos vinhos da Serra Gaúcha. Pediu as contas na universidade, juntou o que recebeu em seu acerto com um dinheiro que tinha guardado e abriu uma loja de vinhos em Gramado. O negócio vai muito bem.

Eu queria ser corajoso como o Felipe. Entretanto, infelizmente não sou. Sou um covarde, como costuma dizer minha irmã. Ela disse isso de novo nessa ligação em que me deu o sermão. Depois de se convencer de que eu não estava "viajando" sob o efeito de drogas, ela passou a fazer umas perguntas estranhas. Quis saber se eu vinha sentindo dores de cabeça, pontadas repentinas na testa ou ainda tonturas, entre outras coisas do gênero. Ora, não estou sentindo nada disso!

A Eliza é pediatra, mas sempre se interessou muito pela psiquiatria. Só não entendo porque ela não fez uma especialização nessa área. Toda vez que eu pergunto isso, ela desconversa. Deve haver algum motivo. Enfim...

Eu disse a Eliza que havia marcado uma consulta com um psiquiatra, mas que ainda iria demorar. Foi quando ela me lembrou de um fato importante que eu deveria falar para o médico e que eu havia esquecido completamente. Não em razão da invasão de minha memória, mas por um simples descuido ou desatenção. Sei lá... O fato é que ela me lembrou que eu havia sofrido um acidente quando tinha 10 anos de idade.

Tínhamos ido passar um dia em uma fazenda de um amigo de papai. Eu e Eliza, juntamente com os filhos do dono da fazenda, fomos nadar em uma cachoeira que havia no local. As pedras estavam muito lisas. E eu acabei escorregando e caindo de cabeça em uma delas. O choque foi muito violento e, para piorar, a pedra era pontiaguda. Abriu meu crânio como se fosse uma casca de ovo.

Tive traumatismo craniano grave e fiquei em coma por mais de 30 dias. Como eu pude me esquecer de um fato tão marcante como esse? Ainda me lembro das vozes ao meu redor; dos vultos brancos indo e vindo; do barulho ensurdecedor dos aparelhos da UTI; do soro pingando eternas gotas transparentes e da luz clara e suave que me envolvia e chamava.

Quando retomei a consciência, havia perdido a memória dos dois meses anteriores ao acidente. E foi justamente nessa época que aconteceu comigo algo inexplicável e ao mesmo tempo assustador. Eliza nunca havia me contado isso. Ninguém nunca havia me falado sobre o assunto. Mas agora, ela teve de falar.

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Memórias de QuemWhere stories live. Discover now