Capítulo 7 - O pai de quem?

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João Victor e suas ações incompreensíveis: um conjunto perfeito. Pense em algo que não dá para entender. Agora tente piorar dez vezes essa situação. Pronto. Assim é quase tudo na vida de João Victor. Eu nunca tive certeza de nada em relação a ele. É um ser completamente confuso. Ou melhor, que me deixa confuso.

Não sei se ele é assim com todos, mas comigo é. Desde sempre. Desde aquele dia de primavera em que contei tudo a ele. Tudo sobre aquela noite misteriosa. O pesadelo, o choro, Clara... Engraçado, não me lembro de João Victor antes daquele dia. Será que o conheci no hospital? Não consigo me lembrar.

Acho que ainda não recuperei totalmente as minhas lembranças daqueles dois meses. E o encontro com o João é uma das coisas que permanecem obscuras para mim. Ainda não falei com ele sobre esses fatos do passado que eu lembrei. Ainda não perguntei a ele por que ficou me escondendo essa história por tantos anos, principalmente sobre Clara. Mas vou falar com ele amanhã.

Bem, depois do dia em que falei com o João, lá no passado, quando eu tinha 10 anos de idade, muitas coisas aconteceram. Foi Maria Eliza que me contou esses fatos, ainda naquele mesmo telefonema.

Ficamos horas conversando pelo telefone e foi ela quem ligou. Coitada! A conta vai ficar uma nota! Ah, meu cunhado está ganhando muito dinheiro com a sua loja de vinhos. Ele paga a conta.

Voltando ao assunto, Eliza disse que eu agi estranhamente no dia seguinte ao que voltei do hospital. Disse que fiquei por horas trancado em meu quarto, sem querer falar com ninguém da família. Isso é óbvio para mim. Ela não sabe e nem lhe contei. Mas você sabe, amigo leitor. Eu estava contando tudo para o João.

Enfim, Eliza disse que, na noite seguinte, papai teve que viajar. Antes de ele sair de casa, eu me agarrei a sua cintura e não queria deixá-lo partir. Ela me contou que eu implorava aos prantos para ele não ir, porque alguma coisa de ruim iria acontecer. Mas ele foi.

Ei! Isso me fez lembrar de uma das cenas que o Quem colocou em minha mente: "a morte trágica de alguém que eu chamava de pai". O carro, o freio, o vidro, o vermelho escorrendo, o branco, o breu, a voz de Clara... Espera, não estou entendendo.

Papai dirigia seu carro pela rodovia, quando um outro veículo, que vinha na direção oposta, invadiu a sua pista. Ele pisou fundo no freio, mas não tentou desviar. O choque foi violentíssimo. Papai não usava o cinto de segurança. Sua cabeça bateu fortemente contra o vidro do carro e seu sangue inundou de vermelho tudo ao seu redor.

Os bombeiros tiveram muito trabalho para retirar seu corpo das ferragens. Depois, colocaram-no em uma maca e cobriram-no com um lençol branco. Foi assim que tudo aconteceu naquela noite em que eu não queria que papai saísse. Eu já sabia de tudo.

Mas por que essa cena se misturou às memórias de Quem? E onde está a voz de Clara nesse contexto? Espera. Já sei! Foi Clara quem me contou que meu pesadelo se tornara real. Sim, isso mesmo!

Clara chegou em casa um pouco mais tarde que o usual. Jogou sua bolsa no sofá da sala e me abraçou piedosamente. Começou a chorar em meu ombro como quem não sabe o que dizer. O menino também começou a chorar no berço.

Eu não sabia se consolava Clara ou se corria para ver o menino. Clara correu. Eliza atendeu ao telefone. Sua pele já muito branca tornou-se ainda mais clara. Clara? Clara voltou, ou melhor, ficou pálida. Deixou o telefone cair. Tocou-me no ombro e disse: "Você precisa ser forte". Desmaiou.

Minha cabeça começou a girar. Clara... Pálida... Forte... Telefone... Mamãe socorrendo Clara. Não, socorrendo Eliza, pálida... Girando, girando, caindo... Clara dizendo e o menino chorando. Eliza acordando e dizendo: "Quem é Clara?". Não sei... Não sei... Não sei...

"Calma! Você tem que ter calma!". Pálida, olhos resignados. "Fala logo, então!". "Papai morreu!". "Seu pai sofreu um acidente de carro", dizia Clara. E minha cabeça continuava girando... Eliza falava e minha cabeça continuava girando... Mamãe falava: "Quem é Clara?". Clara... Pálida... "Os ferimentos foram muito graves". "Ele morreu? Diz logo!". E o menino não parava de chorar. "Sim, ele morreu".

Ok, esse final de capítulo foi bem complicado, eu sei

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Ok, esse final de capítulo foi bem complicado, eu sei. Volte e reflita sobre cada uma das falas! Qualquer dúvida, é só perguntar. Ah! Aperte a estrelinha do votar pra dar um up nessa história, por favor. Obrigado!

Memórias de QuemWhere stories live. Discover now