Capítulo 6 - Pesadelo real

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Olha, amigo leitor, sinceramente... Até agora não entendi o porquê do sermão de Maria Eliza. Não entendo porque ela ficou falando que eu estava usando drogas e que estava ficando louco e que era um irresponsável e um covarde...

O que ela disse depois tirou todo o sentido dessas outras coisas, entende? É claro que você não entende. Perdoe-me a desatenção. Eu nem falei ainda o que ela falou depois. Ela contou sobre o que aconteceu naqueles dois meses que foram apagados de minha memória depois do acidente. Foram fatos realmente muito estranhos.

Tudo começou numa madrugada quente daquela primavera. Acordei todo suado, gritando de pavor. Maria Eliza correu para o meu quarto e me encontrou chorando desesperadamente. Ela me abraçou e tentou me consolar dizendo que tudo não passara de um pesadelo. Mas eu não parava de chorar. Papai e mamãe também ouviram meus gritos e apareceram logo em seguida. Todos tentavam me acalmar, mas eu não reagia. Meu pranto parecia interminável.

Passou-se mais de uma hora e todos já estavam desesperados com a situação. Eu não falava nada, apenas chorava e chorava. Mamãe achou melhor levar-me ao hospital. Poderia ser alguma dor interna ou sei lá o quê, pensou ela. Não era. Fui internado, fizeram vários exames e nada. E eu não parava de chorar. Fiquei assim até o meio-dia. Eliza não saiu do meu lado nem por um segundo, exceto quando estavam me examinando.

Meu choro cessou de repente, como uma nuvem que seca e para de chover. Como uma luz que se apaga e deixa um rastro de escuridão. Como a serpente que ataca sua presa num instante de distração. As lágrimas secaram em meu rosto, mas permaneci atônito, mudo, inerte, distante. Clara tentava me animar. Tentava falar comigo, mas eu nada ouvia.

Clara insistia, porém era em vão todo o seu esforço. Ela, que permanecera ali todo aquele tempo, como uma fiel companheira, não merecia sequer um sussurro de meus lábios. Talvez merecesse, mas para mim, naquele momento, parecia não merecer. Não me pergunte a razão. Não me pergunte o porquê. Nem mesmo eu sei dizer. Sei apenas que nada me faria falar.

Clara não entendeu e saiu do quarto. Desistiu de querer uma explicação. Desistiu de saber a verdade. E eu tentava não saber. Seria melhor se não soubesse.

Eliza olhou-me profundamente e me perguntou o que estava acontecendo. Clara voltou. Eliza viu meus olhos fitando alguma coisa que não estava lá. Viu meus olhos se movimentando da porta até o lado direito da cama. Eliza estava do lado esquerdo. Minha mão se fechou no ar, como se estivesse segurando outra mão. Então me ergui e abracei alguém que Eliza não podia ver e sussurrei: "Clara".

Recomecei a chorar. Eliza entrou em pânico. Saiu correndo dali, desesperada. Agora consigo me lembrar. Clara permaneceu ali, abraçada a mim, afagando meus cabelos e ouvindo meu choro. Ela dizia para eu não me preocupar. "Isso vai passar, você vai ver", dizia Clara. Eu não acreditava no que ela falava, mas queria acreditar. Adormeci.

Quando acordei, Clara não estava mais no quarto. Eliza voltara. Mamãe também estava lá. Sentia-me melhor. Porém, a angústia ainda morava em meu coração. Não consigo lembrar a razão. Mamãe me perguntou o que se passava, chorou, suplicou, implorou... Mas eu não sabia dizer o que estava acontecendo. Eliza perguntou-me: "Quem é Clara?". Eu também não soube responder.

Voltamos para casa no mesmo dia. E o mistério permaneceu indecifrável. Eu não falava nada. Ninguém entendia. Mas no dia seguinte eu falei. Não com Eliza nem com papai ou mamãe. Falei com o João Victor. Conversamos por horas e horas. Tudo aquilo que estava preso dentro de mim, contei a ele. Isso não foi Eliza que me revelou. Fui eu mesmo que me lembrei.

Parece que estou recuperando todas as lembranças daqueles dois meses da minha infância. Pelo menos dos primeiros dias. Deve ser um efeito colateral da invasão de minha mente. O Quem não sabia que essas lembranças estavam apagadas e as colocou de volta em seus arquivos originais. Mas isso é apenas uma suposição. O fato é que estou me lembrando.

O João ficou completamente abismado com a minha história. Espera aí! Por que ele nunca me falou sobre isso? Mesmo agora, quando falei para ele sobre Clara, porque não disse que eu já havia falado sobre ela quando era um garoto?

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