— Você está questionando a minha autoridade, moleque? — O policial levantou a voz. — Se não tem nada a esconder, não me precisa ter medo de me passar os seus documentos.
— Acontece que eu estou questionando, sim — Davi deu um passo a frente. — Por que só eu tenho que mostrar meus documento? Essa festa estava cheia de gente, você deixou a menina ir sem nem perguntar o nome dela. Por que eu tenho que prestar contas?
Enquanto crescia no Bairro, Davi aprendeu a respeitar os policiais. Eles não entram no Bairro para proteger, mas para procurar culpados. E para matar. Passeiam pelas ruas com seus carros blindados e fuzis para fora, um lembrete silencioso de que a sua vida sempre está por um fio. Basta um movimento de dedo e um boletim de ocorrências alegando bala perdida ou legítima defesa.
Por outro lado, Davi também aprendeu a não mostrar medo na frente deles. Desde os seus doze anos de idade, ele é parado e revistado. Tem a sua mochila revirada, seu corpo apalpado e a sua dignidade esquecida. Pedem a nota fiscal da bicicleta e do celular velho, como se alguém andasse por aí com nota fiscal de celular. Lançam olhares julgadores e palavras duras. Se você demonstra medo nessas horas, é o fim. Eles desconfiam que está escondendo algo e tudo piora. Por isso, a postura corajosa é necessária.
— Vamos ver se você continua cheio de gracinha assim se explicando na delegacia — o policial disse. — Podem levar esse daqui!
Dois deles se aproximam e sacam a algema do cinto. Davi não deu um único passo para trás e estendeu os braços para que não tenham uma desculpa para usar a força física.
— NÃO! Por favor! — Uma voz gritou do lado de fora do quarto.
Cecilia atravessou a porta ofegante. Ficou alguns minutos no andar de baixo esperando Davi descer e, quando isso não aconteceu, presumiu que algo estava errado.
Ela se pôs corajosamente entre Davi e aqueles que iriam o prender.
— Nós não podemos resolver isso de outra forma? — Perguntou lançando um sorriso nervoso.
— Merda! — Juliana exclamou quando o terceiro motorista cancelou a corrida. — Por que é tão difícil chamar Uber aqui?
Maria checou as horas na tela do seu celular:
— Está tarde — disse. — Estou com medo, aqui parece perigoso...
— Relaxa, Maria — Juliana respondeu. — Olha em volta!
A rua estava com cerca de trinta adolescentes remanescentes da festa que tentavam chamar o Uber ou ligando para os seus pais irem buscá-los. Alguns apenas assumiram que a festa poderia continuar na rua e estavam bebendo e conversando despreocupadamente.
— Nenhum assaltante consegue roubar tudo isso de gente ao mesmo tempo — Juliana sentenciou. — Como você não está tremendo? Eu estou morrendo de frio!
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O CLUBE DOS JOVENS QUEBRADOS
Teen FictionQuatro adolescentes com nada em comum se juntam em um clube secreto para resolver seus desafios pessoais. Juliana quer contar aos pais que é lésbica. Davi quer sair do bairro violento onde cresceu e publicar um livro. Maria quer superar a timidez. E...