capítulo quinze

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Davi abriu a porta e entrou. A livraria estava vazia, exceto por um garoto não muito mais velho do que ele, magro e cheio de espinhas no rosto, usando uniforme atrás do balcão.

— Boa tarde — o garoto disse. — Procurando algum título específico?

Livrarias pequenas e charmosas como aquela estavam morrendo pouco a pouco graças a expansão das grandes redes

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Livrarias pequenas e charmosas como aquela estavam morrendo pouco a pouco graças a expansão das grandes redes. Por que entrar em um lugar que vende quinhentos títulos se posso entrar aonde vende cinco mil? Ou se posso entrar na Amazon e encomendar uma caixa cheia de livros com desconto?

Davi colocou as mãos nos bolsos do seu casaco, como sempre faz quando está nervoso. Olhou em volta em busca de um rosto conhecido:

— Na verdade, não estou procurando um livro — disse. — Estou procurando o Simas... Ele ainda é o dono daqui, certo?

A porta atrás do garoto se abre e um senhor apareceu. Ele aparentava ter setenta anos e passava a sensação de que um sopro o desmontaria. Caminhava com dificuldade e as luzes refletiam na sua careca negra e lustrosa.

— Emagreceu, menino Davi — o senhor disse. — Parou de almoçar barras de chocolate?

— A cantina da escola nova é cheia de comida saudável — Davi respondeu, abrindo um sorriso. — Isso ajudou bastante.

— Fico feliz que esteja se alimentando bem — Simas sorriu de volta. — Uma vida saudável não faz diferença na sua idade, mas cobra o seu preço quando chega na minha.

— Você parece bem jovem para mim — Davi brincou.

— Olha, menino Davi. — Simas caminhou até o balcão e sentou no banco de frente para Davi. — Você sabe que eu te conheço bem, melhor até do que a maioria dos meus netos.

— Eu também te conheço bem...

— Então já sabe o que vou dizer. A resposta é não!

Davi deixou escapar um muxoxo.

— Mas... eu preciso disso. Eu preciso muito disso agora!

— A minha memória não é tão boa quanto foi, mas eu me lembro bem de ter deixado claro que aquilo não se repetiria. Foi uma situação de emergência!

— Eu estou tendo uma emergência agora, Simas!

— Você ainda é menor de idade, menino Davi! — Simas desceu o tom da voz, tentando parecer mais sério. — Eu posso ter sérios problemas se alguém descobrir.

— Ninguém vai descobrir, pois ninguém se importa comigo o suficiente para descobrir.

— Olha, nenhum outro vendedor sabia tanto sobre os livros quanto você. Os poucos frequentadores dessa livraria sentiram a sua falta. Se quiser, posso encontrar uma saída, te encontrar como menor aprendiz ou qualquer coisa parecida. Mas, dessa vez, vou pagar com dinheiro!

Davi não era do tipo que implora. Mas, não havia outra alternativa.

— Simas, eu entendo o seu lado. No seu lugar, também teria receio. Mas, eu não tenho para onde ir!

— Todos nós temos para onde ir, garoto — Simas respondeu. — Só temos que descobrir o nosso caminho.

— Eu preciso de um tempo para descobrir. E o ideal é que fosse aqui.

— Você cresceu desde a última vez, mas o espaço não. Você não aguentaria.

— Simas — Davi deu um passo para frente, falou baixinho, como se contasse um segredo sujo ou confessasse algo de ruim. — O meu pai voltou.

Simas fechou a cara. Encarou Davi nos olhos e se deu por vencido. Sem dizer mais nada, levantou da cadeira e caminhou vagarosamente até a porta atrás do balcão. Davi o acompanhou. Desceram as escadas juntos.

— Uau, não mudou nada.

— Eu não conseguiria tirar esse colchão daqui nem se quisesse. Sou velho, Davi. Lembre-se disso!

Era um quarto apertado e mal iluminado que Simas usara para guardar cacarecos e coisas que não tinham mais utilidade. Os livros com defeito ou que não venderam também ficavam lá. No meio da bagunça, havia um colchão e um travesseiro, onde o próprio Davi já dormira anos antes.

— Quanto tempo pretende ficar? — Simas perguntou.

Davi jogou a mochila com todos os seus pertencer ao lado do colchão sem lençol.

— O menor tempo possível. Prometo.

Simas suspirou.

— E como você está?

— Bem — Davi sempre mente para essa mesma pergunta. — Estou de boa.

Simas colocou a mão enrugada nos ombros do garoto.

— Pessoas boas são cercadas por pessoas ruins. Pessoas ruins são cercadas por pessoas boas. Pessoas ruins são cercadas por pessoas ruins. Pessoas boas são cercadas por pessoas boas. A vida é assim, menino Davi. Não se culpe por isso. Vou checar se sobrou alguma coisa do almoço para você.

***

Nota do Sali

Oi, pessoal. Tudo bom?

O capítulo de hoje foi curtinho, eu sei. Propositalmente, não abordei o tema que todos vocês estavam esperando: seria Damien um stalker maluco? Tcham, tcham tchaaaaam (isso foi uma trilha de suspense, caso alguém não tenha entendido). 

Eu senti que precisava, antes de qualquer coisa, contar onde o Davi vai passar a noite desde que fugiu da casa dos pais e eu sou APAIXONADO tanto pela livraria quanto pelo Simas e estava louco para te apresentar esses personagens. Então, espero que tenha gostado. 

Vou tentar publicar mais alguma coisinha antes do final do ano, mas não prometo nada. Até porque, sempre acabo quebrando as minhas promessas. Enquanto isso, a produção na Sali TV, nosso canal no YouTube, está a todo vapor (ok, não a tooodo vapor, mas estou postando vídeos). 

Preciso confessar uma coisa, eu sinto muita falta de vocês quando não publico nada aqui. Por isso, não deixe de me encontrar nas redes sociais para continuarmos mantendo contato diário. Sempre posto besteirinhas por lá e às vezes até um texto inédito no Instagram. 

Beijos!

Felipe Sali

MELHOR RESPOSTA

Todo capítulo coloco uma pergunta e a melhor resposta aparece no capítulo seguinte. Essa foi a melhor resposta para "qual é o melhor filme de todos os tempos?".

 Essa foi a melhor resposta para "qual é o melhor filme de todos os tempos?"

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PERGUNTA DO CAPÍTULO

QUAL É A SUA RESOLUÇÃO DE ANO NOVO?

O CLUBE DOS JOVENS QUEBRADOSWhere stories live. Discover now