capítulo catorze

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Davi se olhou no espelho. Encarou a pele retorcida, o sangue represado e o inchaço que deformava o seu rosto. Tentou se convencer de que não era tão grave assim, provavelmente desaparecia em uma semana e ninguém perceberia desde que usasse óculos escuros para disfarçar.

Pela primeira vez, agradeceu por ter poucos pertences. Tudo que não coubesse na mochila deveria ficar para trás. Colocou algumas roupas, escova de dentes, carregador do celular, desodorante, sabonete...

A estante de livros encarou Davi de volta. Nove ou dez livros velhos que o garoto juntou ao longo comprando em sebos e roubando da biblioteca da escola. Apenas um poderia lhe acompanhar. Folheou cada um dos seus amigos com pesar. Guardou o exemplar de O Apanhador no Campo de Centeio no bolso maior da mochila e a colocou nas costas. Certificou-se de que não deixaria nada de importante para trás. Nada além do seu quarto, é claro. Na pior das hipóteses, ele nunca mais dormiria naquela cama.

Saiu de casa antes que os seus pais acordassem. Chegou na escola antes de todo mundo. Caminhou pelos corredores vazios, sentou no chão da biblioteca, colocou o seu headphone preto e, inesperadamente, caiu no sono. Dormiu melhor do que conseguira na sua ex-cama.

Juliana estava se sentindo particularmente naquele dia

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Juliana estava se sentindo particularmente naquele dia. Descobriu durante a primeira aula do dia que fora a única a tirar nota 10 na prova de física que aterrorizou todos os seus colegas de classe. Seu cabelo estava mais bonito do que o normal, com um brilho de gente saudável e o seu humor estava apenas 50% rabugento ao contrário do habitual 100%.

Assim que o sinal do intervalo tocou, foi até a lanchonete e descobriu que (finalmente, finalmente, FINALMENTE) a escola parou com a besteira de proibir fritura e que suculentas coxinhas de frango com catupiry estavam sendo vendidas.

— Oi, Ju... — Maria apareceu pela tangente e a sua expressão preocupada não combinava nada com o clima em que Juliana se encontrava.

— Oi, Maria — Juliana respondeu enquanto pegava duas coxinhas e saía da fila. — Você está bem? Parece abalada...

— O Davi não respondeu nenhuma das minhas mensagens e nem atendeu as minhas ligações. Eu to me sentindo muito culpada pelo o que fiz com ele ontem — respondeu.

— Bom, você deveria, né? — Juliana sentou-se numa das mesas e Maria ocupo a cadeira ao lado. — Você vacilou legal com o menino. Um menino que claramente tem um crush por você, ainda por cima.

— Eu me distraí com...

— Eu sei MUITO bem com o que você se distraiu, Maria — Juliana interrompeu. — Eu só peço uma coisa, tome cuidado para não se perder!

— Não precisa se preocupar comigo.

— Sim, eu preciso — Juliana já estava quase na metade da primeira coxinha. — Vou explicar isso de uma maneira que você vá entender, ok? Quando te conheci, você era a fofa e inocente Taylor Swift de Speak Now, cantando num castelo e esperando o príncipe encantado. Agora que começou a beijar desconhecidos em festa, bolar aula e se relacionar com esse marginal, podemos dizer que você entrou na fase rebelde e dark de Bad Reputation. Ninguém aqui está te julgando, você é jovem e precisa aproveitar a vida. Mas, mesmo a Taylor Swift soube a hora de voltar atrás e entrar na fase Lover antes que fosse tarde demais. E isso é importante, porque se ela perdesse o momento certo de voltar a ser certinha, ela poderia acabar como a Britney Spears que se perdeu para sempre nessa fase da vida. Entendeu?

O CLUBE DOS JOVENS QUEBRADOSWhere stories live. Discover now