PERFUME

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Eu estava deitada sobre o colo do meu avô; aconchegada, conseguia sentir os batimentos do seu coração; algo que me embalava e me deixava vestida de mimos e de segurança depois da noite inesperada e agitada. Daniel Cortez. Essa lembrança do paraiso pintou ainda mais a bela manhã que nascia, um morena‑ ço de cortar a respiração tinha roçado em mim daquela maneira, aqueles olhos cortantes me sufocavam a cada minuto que meu cerebro viajava ao passado me perdi em alguns sorrisos bobos, carregada de luz no olhar até que meu avô chamou meu nome.

‑ Lucia...Luciana ‑ Oh, ele pronunciava o meu nome de uma forma tão doce, tão cheia de espirito que só de o ouvir eu me senti fragil e com vontade de chorar ‑ Estou aqui avô, a Lucia está contigo meu velho.

Ele mexeu um dos dedos e rodou bem devagar o pescoço para o lado esquerdo dele e me enxergou meio zonzo. As vezes tenho pena dos meus pais, meu pai é filho dele mas pouco se impor‑ ta com ele, mal abriu os olhos perguntou por mim, coitada da minha mãe que também passou a noite no hospital cabeciando numa cadeira no corredor. A coitada mal acabara de partir e meu avô emitia as primeiras pulsações. Os copos descartaveis com cheiro a café, ainda estavam pela sala que era envolvida numa mistura de cafeina, remédios e algum ar abafado. Hospital pu‑ blico tem dessas coisas. Meu pai estava doido para leva‑lo para uma clinica privada, mas o velho era duro e gostava de coisas simples. Levantei meu rosto amarrotado e selei um beijo na tes‑ ta do meu querido avô.

‑ Bom dia amor da minha vida ‑ Fiz um carinho gostoso nas bochechas dele, fazendo‑o sorrir, eu sabia que ele gostava das minhas palhaçadas.

‑ Posso abrir a janela?

‑ Oh filha,obrigado por estares aqui

‑ Eu sou contigo meu velho, tal como o peixe e a água ‑ Afastei aquele cortinado imundo e deixei o sol lançar vitalidade para aquele quarto meio adormecido.


‑ Está com fome? Quer uma sandes cheia de colesterol? Já sei, quer um cigarro?

‑ Você consegue ser tão expontânia minha querida filha, eu não quero nada, alias,quero tudo.

‑ Tudo? Você não tem juizo, louco para ir no bar do Felisberto comer uma picanha e beber uma loira.

‑ Nada disso sua doida. Eu quero as tuas mãos, são elas que me aquecem,são elas que me fazem sentir vivo, eu te amo muito minha neta.

Oh, eu fiquei sem palavras; o meu avô tinha o dom de regar com delicadeza, a flor da emoção que vive dentro de mim, a mi‑ nha euforia desfez‑se numa rajada e senti as sensações doces, me consumirem toda alma e as minhas mãos foram teleguidas, até a cama e as entreguei com os olhos molhados de lágrimas. A maquiagem ainda estava quase intacta, e quando me sentei ao seu lado outra vez, ele juntou as minhas duas mãos as dele e me murmurou.

‑ Olha para a tua cara de coruja. Não gosto desta cor de luto que têm as tuas lágrimas, eu ainda não morri‑ Ele riu‑se da ma‑ quiagem que se derretia na minha face.

‑ Avô para com isso, você sabe o quanto me custa te ver aqui, assim doente, metade de mim também fica doente.

o assassino de corações - Falsa SubmissãoWhere stories live. Discover now