09~Lembranças nem sempre são boas

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Elizabeth Grimes.
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Traumas. São reações a um acontecimento que deixou feridas na memória. É difícil superar um trauma, as vezes nunca superamos, só aprendemos a viver com eles.

É o meu caso, nunca iria superar aquela noite, não conseguia superar com os pesadelos me fazendo lembrar dela. Então sempre que ela vinha a tona novamente, eu acordava, fumava alguma coisa e voltava a dormir, ou tentava.

Eles nunca esqueceriam, eu sei disso, mas eles não poderiam fingir? Fingir que não lembravam, apenas entender que eu não queria lembrar cada vez mais daquilo. Eu entendia o Rick nesse caso, mas ele nunca me lembrou daquilo, ele entendia a dor.

Toda noite, assim que meus olhos se fecham, eu lembro... lembro do que aquela viagem deveria ser e o que realmente foi.

-Vamos querida, ou não vamos chegar nunca!—Papai exclamava ao lado do carro, ele estava mais ansioso que eu, e olha que era meu aniversário.

-Calma Seb, eu estava pegando minhas maquiagens.—Mamãe disse saindo de casa com uma maleta azul marinho nas mãos.— E por que essa pressa? O aniversário é da Margo não seu!

-É Lizze, Olívia. Você sabe que ela detesta esse nome.—Papai falou colocando a maleta no porta-malas do mazda.

-Isso mesmo.—Falei me encostando no carro.

-Mas... querida, Margaret é um nome tão lindo, a pronúncia é perfeita.—Mamãe falou com seu sotaque impregnado em cada sílaba.

-Sim mamãe, é lindo, mas não é legal ter o mesmo nome que a moça da cantina da escola.—Falei colocando as mãos na cintura, pude ouvir uma risada abafada atrás de mim.— Não ria, papai.

Em um passe uma gargalhada estridente soou pela rua do condado King.

-Desculpe querida, não deu para segurar. — O mesmo disse entrando no carro.—Agora vamos, entrem logo, precisamos chegar a Dawsonville.

Eu e mamãe entramos no carro rapidamente. Depois de algumas horas papai colocou Alphaville para tocar.

"Lest's dance in style, let's dance for a while"
Papai cantarolou enquanto estralava os dedos no ritmo.

"Heaven can wait we're only watching the skies" Eu completei, me curvando entre os bancos.

-Querida sente-se direito, é perigoso assim!

-Vamos Cereja, cante!—Papai falou para mim.

"Let us die young or let us live forever"
Cantei enquanto balançava meus cabelos que estavam com as pontas tingidas de vermelho cereja, fiz jus ao meu apelido de infância.

-Vocês são malucos.—Mamãe falou rindo enquanto eu e o papai gritavamos o refrão de "Forever Young" juntos.

-Nossa música é perfeita,não é Carejinha?—Papai se virou para trás me dando a última visão de seus olhos tão iguais aos meus, seu rosto angelical que Rick havia herdado todos os traços, enquanto a risada de mamãe ainda ocupava o carro, a nossa risada se completava...

Foi rápido, o grito estridente da minha mãe ocupou o lugar de sua risada, meu pai se virou rápido mas já era tarde, o caminhão que vinha na contra mão já estava em cima de nós.
Eu apenas senti um corpo em cima de mim me protegendo dos estilhaços. E então apaguei.

Acordei em um quarto de hospital três dias depois com um Rick abalado ao meu lado. Nós deveriamos estar em um almoço de família aquele dia, o almoço do meu aniversário de dezessete anos.

Love Between Arrows-Daryl DixonKde žijí příběhy. Začni objevovat