CAPÍTULO 2 - SÁBADO

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1

"Não existe sossego mesmo quando se quer dormir. Este pessoal conversa mil coisas diferentes e andam sem parar como se fossem muito mais do que apenas duas pessoas. Na verdade aqui mais parece um vestiário de escola de samba" – pensa consigo mesmo o homem deitado na cama. "O que torna a missão de dormir quase impossível para mim."

Ele já perdeu completamente o sono, mesmo assim sua vontade é de continuar ali um pouquinho mais, e se não fossem pelos compromissos do dia é o que todo mundo faria. No entanto ficar na cama cansa bem mais do que os afazeres diários, então o melhor é levantar logo, fazer xixi, lavar o rosto, escovar os dentes e tomar o café da manhã, afinal esta é a ali-mentação mais importante do dia, "será que isto já foi comprovado?" E outra coisa ainda pior do que a preguiça é acordar sem noção de tempo.

"Este barulho do relógio é muito incômodo. Ele é analógico, pois relógios digitais não emitem som; aliás, nesta casa só há um lugar que possui relógios analógicos e fica lá na cozi-nha. Onde raios eu estou?" – Uma pergunta vem-lhe a cabeça.

Davi custa a abrir os olhos e ao fazer isto se depara com um lugar branco e totalmente diferente de seu lar. A cama onde está deitado não é a sua e nem mesmo é de casal, o pijama também não é seu e ao tentar se levantar uma dor alucinante o faz perder a força de seu braço esquerdo e seu corpo cai de novo na cama. Ele olha para seu peito e vê faixas o cobrindo, en-tão tudo começa a fazer sentido, as lembranças começam a voltar e uma vez mais ele se sente aliviado por ter saído vivo de outra noite de trabalho.

2

— E aíííí, parçaaaa! Acordou bem?

— Hei, que bom te ver, cara? Onde eu estou?

— Não se lembra do que nos aconteceu na outra noite? – pergunta seu parceiro de tra-balho.

— Lembro sim, mas só até uma parte. Depois que me veio uma dor insuportável no peito, tudo mais ficou branco em minha mente – responde Davi.

— É que você desmaiou, cara. Ainda bem que foi só isso. A facada não foi fatal, ape-sar de ter sangrado muito. Mas na hora me deu o maior susto! E aquele moleque não queria apenas assustar a gente – explica seu companheiro de serviço.

— Facada? E onde ele está agora?

— Não faço ideia e nem imagino quem seja, mas peguei o primeiro moleque que de-temos e o levei pra delegacia. Agora amigo, só tenho uma coisa pra te dizer: esta cidade está caminhando pro inferno.

— Concordo plenamente. Ultimamente esta cidade está ficando cada vez mais perigo-sa com toda esta crescente criminalidade. Mas beleza. Quero interrogar pessoalmente o com-parsa daquele filho da puta que me fez isso.

— Relaxa que cê ainda tá em recuperação.

— Recuperação uma porra! – Davi bate no colchão da cama usando a mão do lado fe-rido e sente a dor apontar forte no peito.

— Viu só? Mal se aguenta, oh doidão.

— Cala a boca! Cadê minha esposa e meu filho?

— Lá fora... Agora fique aí com sua família e seus pensamentos que eu irei dar uma olhada na vítima que encontramos desmaiada na rua.

É justamente o que Davi faz. Ele senta-se novamente e fica a espera de sua esposa e enteado enquanto pensa no quanto ama seu trabalho e dedica-se ao máximo nele, mesmo que por diversas vezes tenha se visto entre a vida e a morte e em alguma dessas ocasiões quase chegasse a morrer mesmo. Como na noite passada.

Sob os olhos da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora