CAPÍTULO 4 - SÁBADO

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O Sol já surgiu há algum tempo, mesmo assim muitos ainda dormem, afinal hoje é sábado e nem todos trabalham e nas escolas não há aula, entretanto, justo hoje que não é preciso acordar cedo, algumas crianças já estão levantadas. Como é o caso de Felipe. Roberto é acordado aos gritos, pelo seu filho caçula que pula em sua cama e o sacode. O pai boceja, puxa a coberta e rola para o outro lado da cama, o que derruba Felipe que estava em cima dele e vai parar para debaixo do pai. O menino começa a gritar por ele e este parece não ouvir o chamado do pequeno garoto que de repente começa a rir. Roberto lhe faz cócegas e grita com uma voz grossa e monstruosa, dizendo que irá lhe pegar e o punir por acordá-lo.

Após muitas risadas e brincadeiras na cama, eles se levantam e vão até a cozinha, onde encontram Danilo já acordado e preparando a mesa para o café da manhã.

— Nossa, filhão! Já acordou?

— É! E tem como não acordar com esse monstro querendo pegar e punir todo mundo? – sorri o rapaz.

— Bem, o Fernando ainda dorme.

— Deixa ele comigo. Comam logo senão vão se atrasar.

— É, papai. – Felipe olha sério para o pai. — Você pometeu que a gente ia bincá bem cedo hoje.

— E vamos sim. Logo após esta deliciosa refeição que seu irmão preparou para nós. Vamos comer? – Cantando eles começam a se alimentarem: — Forte, forte, forte. Vamos ficar muito forte. Para brincar de montão, até o dia acabar.

Terminado o café da manhã pai e filho se preparam para saírem. Roberto ainda pergunta ao mais velho se ele não vai querer os acompanhar, mas este diz que irá encontrar os amigos no shopping logo mais. Assim sendo a dupla parte para fora correndo enquanto Danilo volta para o quarto.

Enquanto caminham, observam um céu cheio de luz e calor. Não demora muito e finalmente chegam ao parque que fica em frente à delegacia. Lá já estão algumas crianças e alguns pais também. Dentre os adultos está o policial que o encarou no dia anterior, sentado em um banco de cimento e lanchando calmamente sem sua farda.

Felipe corre para os brinquedos e lá encontra dois de seus amigos da escola. Roberto, por sua vez, senta-se em um banco próximo ao do policial e, de onde está, observa o homem que tanto o fitou no hospital. Um homem fardado que, por meros segundos, lhe gelou a alma com seu olhar perplexo, sem nada a dizer naquela ocasião.

"Será que ele desconfia de mim em algo?" – pensa Roberto. "Não posso simplesmente chegar nele e perguntar isso."

— Olá, doutor – sorri o policial. — Bom dia.

— Bom dia... Hã...

— Davi.

— Prazer. Roberto.

O policial levanta-se, caminha até o médico e senta-se ao seu lado.

— Pão com mortadela? – oferece Davi.

— Não, obrigado.

— Suco de maracujá?... Mas não é natural.

Roberto nega com a cabeça, seguido de um sorriso.

— Como está a moça que foi baleada?... Você sabe... Aquela que levei ao hospital.

— Bem melhor, mas parece traumatizada. Deixei-a aos cuidados da enfermeira.

— Certo... certo.

Logo estão sem assunto e passam a assistirem seus filhos brincarem, entretanto Roberto ainda tem um tema a tratar. Ele está encucado com aquela fixação nele, e quando finalmente abre a boca para lhe perguntar isso, o policial levanta-se e grita ao filho:

Sob os olhos da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora