CAPÍTULO 4 - HOJE

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Após uma madrugada inteira, desmaiado, Roberto finalmente acorda, mas sentindo-se ainda zonzo e desnorteado. Mesmo assim ele senta-se e olha ao redor a procura de sua esposa, mas não a encontra em parte alguma. Neste meio tempo, entra um policial em seu quarto de hospital e quer saber se ele pode responder a algumas perguntas, contudo quem tem perguntas a fazer é o próprio Roberto. E a primeira é:

— Onde está minha esposa e meu filho?

— Calma, senhor, tudo lhe será respondido ao seu tempo, mas antes eu gostaria de sa-ber o que aconteceu no local. – O policial tenta tranquilizar o rapaz.

Após respirar fundo, Roberto começa a relatar o acidente da qual participou na volta da capital e os detalhes do que fez. Ele conta detalhadamente como agiu antes e depois da batida, principalmente de como tentou de todo modo evitar a colisão. Nesta parte do relato, o policial passa a entender o hematoma na cabeça da mulher e o desmaio do marido dela no asfalto, inocentando os garotos quanto a esta acusação. Na sequência Roberto conta o que viu no outro carro, mais precisamente dentro dele, e desta acusação eles não seriam absolvidos tão facilmente, embora não tenha conseguido informação alguma que ele já não tivesse teste-munhado naquela noite.

Ao fim de toda a história, a única coisa que lhe resta é desejar melhoras a sua testemu-nha e voltar para o quarto onde se encontra seu amigo. Lá, ele e seu parceiro Davi, esperarão a liberação médica para que possam ir direto à delegacia e tirarem com o garoto as respostas que faltam. Já Roberto ainda permanece sem as suas, o que o deixa cada vez mais nervoso.

De certa forma ele já sabe o que aconteceu com a esposa. Mesmo perdendo a consci-ência e sua vista se turvando, ele pôde ver claramente o estado dela naquele assento. Portanto sua maior preocupação é com seu filho de apenas seis anos de idade que chorava no banco de trás do carro sem ninguém para lhe proteger.

Felizmente não demorou muito e finalmente alguém que ele desejava ver aparece. É justamente um amigo de trabalho quem cruza a entrada. Sem delongar, já começa a interrogar sobre sua família, contudo o médico e também amigo pede que se acalme e pergunta como se sente, o que deixa Roberto ainda mais irritado e o faz esbravejar contra o médico:

— Que brincadeira é essa que estão me fazendo? Primeiro foi um policial que veio aqui cheio de perguntas e nenhuma resposta para o que lhe perguntei, agora é você quem me aparece aqui só para me irritar?

— Somos amigos há bastante tempo para achar que tudo que eu quero é te fazer algum mal. – O médico tenta acalmar seu amigo pacientemente. — Vou responder a todas as suas perguntas tão logo saber se você está bem.

— Desculpa. Você tem razão. – Roberto dá uma respirada e relaxa. — Faça o que tem que fazer.

Os reflexos, a pressão e seus ferimentos são examinados, em seguida perguntas simples são feitas para atestar sua memória, até que por fim tudo acaba e ele pode conversar com seu médico a respeito da esposa e do filho.

Claro que tudo começou com aquela velha embromação de sempre para no final cons-tatar o que ele já deduzira: sua mulher falecera.

— E como foi isso?

— Ela sofreu múltiplas fraturas, inclusive na medula espinhal, acarretando em morte cerebral – explica o médico. — Já seu filho está excelente e sendo cuidado pelos seus outros filhos mais velhos. Quanto a você, poderá sair quando se sentir bem para isso.

— Muito obrigado. Você é mesmo um amigão.

Quando seu amigo disse que ele poderia partir quando se sentisse bem para fazê-lo, Roberto não imaginava que a parte mais difícil seria justamente ter força de vontade para le-vantar-se da cama. Mais do que isso, ele não sabia o quanto complicado e demorado seria tirar aquele avental de hospital e recolocar suas roupas. No entanto, a parte mais dolorosa de todas foi estar diante de seus três filhos: Felipe, Fernando e Danilo.

Sob os olhos da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora