CAPÍTULO 2 - SEGUNDA-FEIRA

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— Bom dia, Roberto?

— Helmiton! Que bons ventos o traz até aqui?

— Vim te visitar.

— Apenas uma visita de cortesia?

Embaraçado ele responde que não. Na verdade Helmiton tem algo importante a dizer ao seu amigo. Afinal Roberto nunca foi realmente seu médico, já que a enfermidade que ele possui não é um caso tratável por um cardiologista ou mesmo por um psicólogo ainda em formação. Todavia o assunto que ele traz consigo é algo da qual ambos se interessam e apenas Roberto se mostra bastante paciente e audível às suas palavras. Mais que isso, Roberto é o único que parece acreditar nele.

— E o que te aconteceu, meu bom amigo?

— Tenho uma coisa incrível pra te contar. – Roberto se mostra bastante atento as palavras do visitante. — Ontem à tarde eu não recebi nenhuma visita, entretanto fui chamado. Procurei por todo lado, mas não encontrei ninguém.

— Calma. Você está dizendo que podia se mover? Não estava sob o efeito da catalepsia?

— Exatamente isso. Não podia ser uma alucinação, pois estava bem desperto.

Roberto intriga-se com essa ocorrência, mesmo ele não tendo conhecimento de que outras pessoas mais foram chamadas naquela tarde. Mesmo sem saber que membros de sua própria família tiveram seus nomes pronunciados por uma voz oculta no ar. Ainda assim ele fica intrigado e procura saber mais a respeito do caso. Pergunta sobre esse tal chamado e o motivo de chamá-lo, mas o confuso homem não tem a resposta. Ele nada mais ouviu além de seu nome chamado dentro de sua cabeça.

— E como é que você se sente sobre isso?

— Doutor, não me venha psicanalisar como se eu fosse um louco. Sei que nem psicólogo de verdade cê é ainda.

— Desculpe pela minha forma de expressão. Quero saber se você está bem, se não está assustado... Vou pedir que alguém lhe traga um copo-d'água.

— Prefiro explicações. O que pode ser isso, Roberto?

No entanto ele nada tem a dizer, então apenas se limita a balançar a cabeça negativamente com uma expressão de interrogação. Algo da qual Helmiton já esperava e que mesmo assim foi uma visão decepcionante.

Os dois ficam calados. Ora se entreolham, ora olham para baixo ou mesmo para a decoração que compõem a sala, porém nenhuma palavra lhes vem às mentes, nada sai de suas bocas. O médico o observa atentamente e percebe a aflição em seus gestos. Quase se dá para ouvir o coração do seu paciente, tamanho é o silêncio na sala e o nervosismo do homem. Cada olhar, cada movimento... Até sua respiração demonstra uma enorme angústia que é analisada pelo cardiologista que agora o assiste como um psicólogo.

O tempo que muitas vezes se mostra um passageiro apressado, neste momento está penoso e vagaroso. Ambos querem cortar o silêncio que se arrasta por intermináveis segundos que não passam. Quantos minutos já se formaram sem que nenhum dos dois dissesse nada? Cinco, seis, oito ou apenas um ou dois minutos? A única coisa sabida do tempo é que em dez minutos entrará um dos pacientes marcados para hoje. Jorge pode ser um homem rabugento, entretanto será uma companhia melhor do que Helmiton está sendo agora. Aliás, Roberto também não está sendo uma das melhores pessoas neste momento e talvez por este motivo, seu amigo decide se levantar e despedir-se do médico. Talvez ele vá procurar consolo com outra pessoa ou talvez, simplesmente, vá para o trabalho e termine de pirar de medo com todo esse mistério. Roberto consente desanimadamente e se pergunta no por que dele não conseguir pensar em nada para lhe ajudar. Ainda assim pede ao amigo que volte mais tarde. O homem desolado concorda com um sorriso fraco e desanimado e vai embora.

Sob os olhos da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora