CAPÍTULO 3 - TERÇA-FEIRA

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Na rádio local não se fala em outra coisa além da morte de uma moça de aproximadamente quarenta e quatro anos, encontrada já sem vida em um escadão há duas quadras do hospital, por volta das dez horas da manhã de ontem. Ainda hoje não se sabe ao certo o que pode ter lhe acontecido, mas tudo leva a crer que foi um ataque animal, pois existe marca de mordida em seu pescoço. O locutor também brinca ao dizer que o pouquíssimo sangue no corpo também pode dar indícios de um começo de invasão vampiresca em Miraranquara.

— O investigador Davi, encarregado do caso juntamente com o perito da polícia civil, Sérgio Alzere, diz que seja um animal ou um homicida querendo ser original nas suas ações, eles o encontrarão e darão fim nisso tudo, antes que as coisas saiam do controle – noticia o locutor. — Resta saber se a polícia atacará com estacas de madeiras, focinheiras ou se usarão suas algemas de sempre.

André, que costuma ir por esse caminho para chegar mais rápido ao trabalho, resolve que irá fazer o percurso mais longo dessa vez. Seu pai Papoulo o aconselha a tomar cuidado durante o trajeto, principalmente na volta da universidade, pois já é noite quando retorna da aula.

Dona Maria adverte sua filha Juliana quanto ao perigo e pede que tome cuidado ao sair da escola e que não fique sozinha e de bobeira na rua.

Um dos moradores, que tem a saída da sua casa para o escadão, procura manter tudo bem fechado. Ele nunca achou o lugar confiável, pois já viu muita coisa errada acontecer nestes degraus. Coisas que vão desde vendas a usos de drogas, sexos a estupros e também assassinatos a sangue frio. No entanto, durante essa ocorrência ele não notou nada estranho acontecendo e não pôde ajudar os policiais no depoimento que prestou. Aliás, ninguém viu ou ouviu absolutamente nada sobre o caso, o que torna tudo ainda mais estranho.

— E aí gênio do crime, o que faremos agora? – pergunta Marcelo ao Davi.

— Estou pensando. Quem fez isso é especialista. Os furos foram direto na jugular e foi utilizada alguma coisa para extrair cuidadosamente seu sangue, sem deixar que ela se banhasse nele e nem manchasse o lugar.

— Ou talvez essa pessoa tenha levado a mulher para seu esconderijo, extraído o sangue rapidamente, lavado o corpo e depois largado nos degraus do escadão – opina o parceiro.

— É provável. Por isso ninguém viu nada. O problema é que o legista disse que o corpo veio a óbito por volta das vinte e uma horas de domingo. Ela saiu do trabalho, vejamos... – Davi olha suas anotações — loja de bijuterias "Mais linda"... fica lá no shopping... às vinte e trinta e cinco, precisamente, e foi encontrada na segunda, exatamente às cinco da manhã. Não sou matemático, mas posso presumir que o tempo é curto demais para alguém conseguir raptar uma moça, arrastá-la até seu esconderijo, extrair o sangue da vítima e depois desovar o corpo no local onde a encontramos.

— Tem razão. A não ser que o local seja ali próximo.

Enquanto os policiais prosseguem com as investigações sobre a morte da mulher, Roberto se mantém na investigação de outra coisa: o livro misterioso da Safira.

2

Sempre que encontra um intervalo entre um paciente e outro, ele aproveita para dar uma folheada em suas páginas que, embora aparentem ser bem antigas e escritas à mão, seu texto é totalmente simples, com termos voltados mais para o nosso tempo.

Basicamente esse livro conta a história dos anjos caídos, como se fosse uma espécie de narrativa biográfica. Ao passar os olhos pelo texto, Roberto logo descobre que o nome do protagonista da história é Demócktro, entretanto nada encontra sobre o significado dessa denominação, apenas sua trajetória ao longo do tempo, além de seus encontros com outros personagens bastante interessantes, como por exemplo, Lúcifer e até Jesus Cristo. Mas o encontro que lhe chamou maior atenção foi com alguém denominado como o anjo da morte, mas essa terceira figura pouco consta nas páginas que ele folheia invariavelmente. Na verdade o que mais aparece nos textos são alguns sortilégios que envolvem sacrifícios humanos e até mesmo o suicídio como forma de aquisição de poder; além de contar sua jornada de vida no Céu e mais adiante aqui na Terra. Contudo, pelo que o Roberto pôde constatar em sua leitura superficial, esse tal de Demócktro não se mostra como sendo algum tipo de anticristo que luta contra Deus, e sim um oponente de Satanás, que constantemente vem duelando contra ele pelo reinado na Terra. Mas quem será de fato esse ser que se intitula o imperador das trevas e protagonizou tantas batalhas horrendas, repletas de conquistas e derrotas? Apesar da crescente curiosidade, para Roberto isso pouco interessa. A parte que realmente lhe chama a atenção é um trecho muito pequeno sobre uma entidade espiritual que tentou, inutilmente, subjugar a alma desse tal ser demoníaco, juntamente com seu exército. Ela é denominada como Morte, mais precisamente como sendo o mensageiro da morte de Deus. Talvez o mesmo relacionado na história de Moisés na Bíblia e que o Helmiton e o Jorge tanto comentam.

Sob os olhos da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora