CAPÍTULO 1 - DOMINGO

5 1 0
                                    

1

Para uns o domingo é dia de acordar tarde, relaxar na frente da televisão e se divertir pela cidade com os amigos e a vizinhança, mas para a Juliana é difícil encontrar diversão neste lugar tão sem graça e monótono. Sua melhor opção é o shopping, e para isso é preciso dinheiro, portanto ela liga para seu namorado e pede que ele a encontre lá hoje, por volta das três da tarde. André responde que irá sem falta e já planeja seus passos assim que deixar o serviço à uma e meia da tarde, como todo domingo.

Ela coloca uma calça jeans branca bem justa que apresenta sua calcinha fio dental; uma camiseta amarela de alça, com o desenho de uma margarida banhada em purpurina, logo abaixo dos seios; em seu ombro pendura uma pequena bolsa amarela e branca enquanto nos pés, uma sandália também de cor amarela cria uma combinação bem alegre e radiante para este domingo ensolarado. O cabelo ruivo é preso em rabo de cavalo, como sempre costuma deixar. E assim ela sai de casa, pronta para se encontrar com seu namorado e arrancar suspiros de quem a olhar.

André já está em casa e pronto para o encontro. Tomou banho, perfumou-se, agora segue até o local marcado. Seu relógio marca duas e quarenta e seis. Será que dará tempo?

Juliana olha no smartphone inúmeras vezes, ficando a cada instante mais impaciente e irritada com a espera, mas tudo bem. Ainda não deu o horário que marcaram.

Quatorze e cinquenta e sete: André entra no shopping e corre em direção à escada rolante, contudo um segurança o barra e pede para que não corra. Ele assente com a cabeça e diminui os passos, ainda assim os mantêm acelerados.

Quatorze e cinquenta e oito: Juliana olha para os lados e não acredita na tamanha ousadia dele. Sua vontade é de ir embora e esquecer que um dia o conheceu.

Quatorze e cinquenta e nove: André já avista a loja da qual ela disse que estaria lhe esperando, mas nada da garota estar na entrada. Ele olha para os lados, olha para dentro da loja e pensa se sua amada já entrou. Uma nova olhada no relógio mostra que acaba de dar três horas, o que o faz perceber que não poderá mais perder tempo. Portanto resolve que a procurará lá dentro, porém assim que dá os primeiros passos para entrar, um chamado o faz parar e olhar a sua volta, no entanto ninguém conhecido é encontrado, dando-lhe a entender que tenha sido alguém chamando por outro André. O estranho é que o chamado pareceu tão próximo e direcionado a ele, quase como um sussurro em sua cabeça. Seja quem for que o chamou, o problema é que essa parada lhe valeu outro minuto precioso que lhe custará muito caro. Novamente ele caminha para dentro da loja e inicia sua nova busca.

— Finalmente cê apareceu. Nem quero saber que horas são. A última vez que tive que tirar meu celular da bolsa já era quinze e quatro. E isto já faz um longo tempo.

— Desculpe, não pude evitar. Achei que você estaria do lado de fora da loja. E para me atrasar ainda mais, pensei ter ouvido alguém me chamar, só que não achei ninguém. Aí vim te procurar aqui dentro, mas veja como está cheio. Foi difícil.

— Não importa. – Ela muda repentinamente seu humor de raivosa para alegre. — Veja estas coisas que encontrei. Esta blusinha não é linda? E combina perfeitamente com este cinto aqui, não acha?

— Hum-rum. É verdade. Mas esta calça não combina.

— Ah, mas eu gostei mesmo assim. Agora veja só a fila, culpa sua por ter demorado tanto. Pegue tudo e vá logo que eu quero comer.

— E quanto é tudo isto aqui?

— Não ficou caro, não. E não se esqueça de que agora você trabalha e está ganhando muito bem.

André fica na fila calculando os gastos da compra de sua namorada, enquanto esta se senta em um banco de frente para a loja à espera dele. De onde está é possível ver a escada rolante e também lhe é possível ser vista pelo grupo de jovens que sobem sorridentes e conversando. Juliana faz-se de distraída para que seus colegas da escola a surpreenda.

Sob os olhos da MorteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora