Capítulo Um

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Manuela 

Fato número 1 sobre mim, eu tenho renite alérgica. E embora isso pareça extremamente comum, e é. Não é nada legal ficar com o nariz escorrendo, entupido ou com coceira, não é bom ficar com os olhos lacrimejando ou coçando, não é mesmo confortável ter tosse seca e muito menos sentir tudo isso junto. E Bom, eu quando estou em crise de renite sinto exatamente tudo isso junto.

Hoje é um desses dias, eu simplesmente não sairia da minha cama e cobertor se não tivesse que ir a uma reunião inadiável na empresa. Ter seu próprio negócio é maravilhoso não posso reclamar de ter recebido de Vovô o escritório de direito como herança, mas gostaria realmente de ficar em casa em dias como esse.

-Você vem hoje?

- Sim, atchim! -estou sa...atchim! Estou saindo.

-Uma de suas crises?

-Atchim!

-Com certeza sim! Espero que fique boa, o dia hoje vai ser cheio, Pedro está aqui.

- Eu imaginei... atchim! Nos vemos lá!

Eu e Pedro nos conhecemos ainda na infância ele aos 7 e eu ao 4 anos de idade quando comecei a estudar na mesma escola que ele e Charlotte sua irmã mais nova e também minha melhor amiga até hoje.

Com o passar dos anos tornamos grandes amigos, Pedro sempre foi cristão, gentil, carinhoso, estudioso, trabalhador e dedicado a tudo que fazia e então quando eu menos imaginei estava pela primeira vez na vida perdidamente apaixonada, e o pior, aos 20 anos de idade e pelo meu melhor amigo. Passei dias sem falar com ele logo que percebi isso, sabia que não conseguiria esconder mais dele todo meu sentimento, mas tinha medo de perder sua amizade ou magoa-lo. Quando percebeu que eu estava tentando evita-lo ele simplesmente apareceu na porta da minha casa.

-Manu, eu sei eu você está me evitando e eu quero saber o porquê, mas como eu te conheço como ninguém também sei que chocolate pode me ajudar a saber o motivo. –Falou me entregando uma caixinha de bombons.

-Não foi nada Pê, eu só estava de TPM.

-E desde quando isso é motivo para se esconder, eu sempre sofro com seu mal humor de TPM e nunca reclamei disso. Fala verdade, eu te conheço.

-Eu... eu...

-Eu...-Ele me incentivou a falar.

-Eu te amo! –Falei num sopro só.

-Eu também te amo. –Ele falou sorrindo. Eu sorri também já tinha dito aquilo tantas vezes antes, mas daquela vez era diferente.

-Eu amo diferente Pê.

-Vai me dizer eu convivi com uma E.T a vida inteira?

-Não seja idiota Pedro Gabriel! –Falei me fingindo de brava, eu realmente amava aquele idiota. –Eu sou apaixonada por você, eu gosto de você mais do que como amigos e esconder isso estava me matando por isso eu me afastei.

Ele riu, gargalhou.

-Eu te amei mais do que como amigos desde os seus 15 anos, eu tenho crises de ciúmes dos idiotas que se aproximam de você não apenas porque eu sou seu melhor amigo, mas porque eu sou apaixonado por você e eu orei tanto para eu Deus fizesse seu coração se abrir para mim ou simplesmente me fizesse voltar a gostar de você apenas como amiga, mas .... –Ele sorriu e fez meu coração falhar uma batida com isso. –Manuela eu...

Eu o interrompi e me joguei nos braços dele como já tinha feito  tantas outras vezes e desabei a chorar enquanto ele fazia carinho em minhas costas e beijava minha cabeça.

-Quer namorar comigo. –Ele perguntou enquanto eu ainda estava em seus braços.

-Sim! –Falei o apertando mais forte.

Lembrar que isso aconteceu há 8 anos atrás me faz chorar mais uma vez, eu ainda não acreditava que tudo que construímos desde aquele dia simplesmente havia acabado e que o não havia ido embora estava prestes a desaparecer. A única certeza que eu tinha é que eu amava o meu marido, quase ex-marido isso porque eu estava adiando tanto quanto podia para assinar aqueles malditos papeis de divórcio.

Eu e Pedro nos casamos pouco mais de dois anos depois daquele pedido de namoro, eu estava com 22 anos de idade e quase terminando a faculdade de direito, ele aos 26 já tinha concluído quando começamos o namoro e por isso manteve nossas finanças até eu assumir o escritório assim que conclui a faculdade.

Nós fomos imensamente felizes, íamos aos cultos juntos, cozinhávamos juntos, trabalhamos em vários casos juntos, riamos de tudo e éramos o mesmo casal de amigos de infância que sempre fomos só que casados até tudo desandar.

Tomei meu antialérgico e bebi um copo de leite só para não sair de casa sem ingeri nada, eu tinha perdido a fome nesses 6 meses que estávamos separados, já tinha perdido uns bons quilos com isso. Eu realmente não queria que tudo terminasse como estava terminando, eu me casei para viver com ele até a volta do Senhor, mas nada saiu como planejado e eu não entendia o porquê.

Fui até o quarto da minha filha e vi tudo arrumado completamente diferente de quando ela está aqui, ela adora uma bagunça- sorrir ao lembrar de como ela derrama os brinquedos da caixa todos pelo tapete do quarto. –Peguei uma de suas bonecas de pano que mamãe fez para ela e cheirei, lá estava o perfume doce e encantador da minha pequena. Eu odiava aquela situação, odiava ter que ver minha filha sendo dividida, mas eu não podia privá-la de estar com o pai e não podia sequer me imaginar vivendo sem ela. Eles eram minha vida e naquela  momento eu só tinha ela.

Cheguei no horário combinado na casa da minha ex-sogra, que eu nunca iria me acostumar a chamar de dona Angelina, ela sempre foi uma  mãe para mim.

-Bom dia Mãe-sogra! –Falei assim que ela apareceu no portão, Pedro estava morando com ela desde que saiu de casa mesmo com toda minha insistência para que ele ficasse.

-Bom dia meu amor! –falou me abraçando. –Manu, você está tão magra, precisa reagir minha filha.

-Estou tentando, eu juro que estou. Aonde está minha princesa-fada-bailarina. –Falei sorrindo ao me lembrar do dia em que ela mesma se intitulou dessa forma.

Eu, Pedro e Julia estávamos no parque, ela estava correndo com Pipoca nossa cadelinha quando parou em frente ao banco onde eu e o pai estávamos a assistindo, sorriu em nossa direção e começou a dançar com sua saia de tule rosa e tênis branco que ela mesmo havia escolhido.

-Olha pra mim mamãe, eu sou uma princesa-fada-bailarina! –Falou girando enquanto sorria.

-Julia, meu amor –A avó a chamou. –Sua mãe está aqui! –Foi então que meu pingo de gente saiu correndo em minha direção e pulou em meus braços.

Segurei as lagrimas e a abracei com força, não existiam palavras que descrevesse o amor que sentia pela minha pequena.

-Mamãe te ama! –Falei apertando-a mais forte.

-Eu também te amo mamãe! –Falou deixando um beijo molhado em minha bochecha.

Levei minha filha para escola e de lá fui para o escritório, eu realmente não queria ver Pedro, mas éramos além de tudo colegas de trabalho e acionistas daquele lugar.

-Bom dia! –falei sorrindo para Bianca minha secretária e amiga.

-Bom dia, estou indo buscar um café vai querer. –perguntou.

-Sim, por favor!

Arrumei os documentos que precisaria para reunião e coloquei dentro da pasta preta. Abri o notebook e comecei a rever os relatórios que Charlotte havia me mandado sobre alguns de seus casos.

-Char, pode vir a minha sala?

-Claro Manu, algum problema?

-Não, só preciso que tire algumas dúvidas sobre o caso dos Ribeiros.

-Estou indo aí.

Continua...

RestituiçãoWhere stories live. Discover now