Capítulo Doze

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Sou filha única e neta única dos meus avós paternos isso foi algo maravilhoso, pois sempre tive atenção, carinho e o amor deles  só para mim, sempre recebi o que desejei e nunca fui privada de nada financeirame falando, como dizia Charlotte "Sua vida é  um conto de fadas", mas não era, às vezes, quase sempre, é pesado demais levar nas costas as expectativas de tantas pessoas.

Sempre tive de tudo, mas sempre fui cobrada por tudo.  Tinha obrigação de tirar boas notas e nunca receber repreensão na escola, sempre tive que ser a menina comportada, sempre tive que calar quando queria falar e falar quando não queria, apesar de amar meus pais e saber que sempre fizeram tudo para o meu bem me sentia como marionete em suas mãos  sendo levada para caminhos que eles queriam para mim e não os que eu queria verdadeiramente trilhar.

Terminei o ensino médio e no mesmo ano entrei na melhor universidade da cidade para fazer direito não por opção própria, mas por pura pressão dos meus pais que são advogados e do meu avô que me fez jurar assumir o escritório da família já que sou a única herdeira.

No meio disso tudo Pedro sempre foi minha válvula de escape, a pessoa para quem eu fugia buscando um abrigo e quem nunca me negou um abraço apertado e um carinho quando eu não conseguia mais suportar toda pressão da minha família. Depois de servir a Deus Pedro foi a escolha que eu fiz por mim e não pelos outro, sem pressão, sem medo, sem preocupação.

Eu tinha certeza absoluta de que viver com ele era o certo, eu o amava desde sempre e viver ao seu lado como pude confirmar com os anos de relacionamento era realmente a melhor coisa que alguém poderia querer. Pedro era um sonho de filho, de esposo, de pai. O problema foi que quando ele tomou atitudes distintas das que tomaria em seu lugar  eu não soube passar a borracha e seguir escrevendo nossa história, eu simplesmente tomei o lápis e a borracha da sua mão e tentei escrever sozinha. O que eu não sabia era que era difícil  demais segurar os dois na mesma mão, ou eu escrevia ou apagava, fazer os dois ao mesmo tempo era impossível.

***

Acordei sentido dores no pé da barriga era um incômodo, mas dava para suportar. Olhei para Pedro dormindo serenamente e agradeci a Deus mais uma vez por poder dormir e acordar com o homem da minha vida.

Acariciei  seu rosto e contornei seus lábios com o polegar, Pedro era perfeitamente desenhado cada parte do seu rosto parecia ser milimetricamente pensado e eu não tinha dúvidas de que Deus orquestrou tudo para que ele nascesse tão bonito assim.

- Bom dia, linda!

- Bom dia, Vida!

-Tá tudo bem? -Perguntou me encarando, era estranho como Pedro me conhecia tão bem.

-Um pouco de dor no pé da barriga, mas nada demais.

-Quer ir ao médico? Vamos agora!-Falou sentando na cama.

-Não amor, tudo bem.

Depois de convencê-lo de que estava tudo bem ele foi fazer sua higiene matinal e eu resolvi levantar e vê se estava tudo bem com a Julia. Mas ao ficar de frente para cama vi uma mancha vermelha no lençol branco da cama. Eu estava sagrando e isso me apavorou.

-Pê! PEDRO! AMOR! -Gritei quando ele apareceu em segundo no quarto.

-O que foi, a dor aumentou? -Perguntou preocupado.

-Eu estou sagrando!. -Falei sentindo as lágrimas descerem e o medo de perder meu bebê aumentar em mim.

-Fica calma, eu vou... vou procurar uma roupa pra você trocar e vamos para o hospital .

Não demoramos muito para dar entrada na emergência da maternidade que eu fazia acompanhamento gestacional. Meu coração estava acelerado e meu corpo naquele momento sentia as dores que tinha voltado e de forma muito pior que no início.

Pedro estava tentando ser forte, mas como o conheço bem sabia que estava desesperado e vê-lo desestabilizado fez o medo aumentar.  Orei pedindo a Deus que nada tivesse acontecido com  o bebê.

-E então doutora? -Pedro perguntou a minha obstetra.

-Infelizmente sua esposa está  com descolamente de placenta.

-E isso quer dizer o quê?

-Que a placenta dela não se fixou no útero e por isso sagramento, é  como se estivesse solto dentro dela.

-E o que temos que fazer.

-Repouso total e absoluto, nada de andar, abaixar, nada que a faça se movimentar. O ideal é se levantar a partir de agora somente para ir ao banheiro.

-Devo ficar imóvel?

-Infelizmente para salvar seu bebê é  preciso esse sacrifício...

Nada mais que ela falou eu ouvi, só pensava em duas coisa. Eu faria de tudo para que meu bebê  ficasse bem, para dar a ele a oportunidade se crescer e se desenvolver bem nem que para isso eu precisasse ficar como uma múmia. Mas ficaria longe , minha maior dor era saber que eu não estaria por perto para colocar minha filha para dormi ou mesmo para brincar com ela e pensar nisso me fez chorar em dobro.

-Vai ficar tudo bem , linda! -Falou fazendo cafuné em mim. 

-É tudo que eu mais quero, Pê.

-Te amo. -Beijou minha testa.

CONTINUA....

RestituiçãoWhere stories live. Discover now