Capítulo dez

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Pedro

Eu aprendi com a vida depois de algum tempo a diferença entre amor e paixão. Entendi o real motivo de se amar alguém e também de estar apaixonado. É a simples diferença entre o apesar de e o porque .

Quem está apaixonado se apaixonou porque se sente amado, porque o alguém é  carinhoso, gentil, porque o faz rir, porque é  bonito, porque é  cheiroso, porque te leva para passear.  Mas quem ama, ama por todos os motivos citados acima e apesar de ser chato, de  machucar as vezes, te não ser tão compreensível,  etc. 

A paixão só abarca as qualidades, os benefícios o porquê é  bom estar com aquela pessoa, o amor vai além disso, o amor abarca os defeitos e mesmo não  gostando faz de tudo para aceita-los.

Quando eu vi Manuela deitada em meu peito no meio da madruga eu entendi que não era apenas um homem apaixonado por ela, eu a amava profundamente, apesar de tudo que tinha feito a ela e que ela  havia feito a mim, apesar de tudo que havíamos vivido, de tudo que havíamos sofrido, eu amava apesar dela se recolher com uma ostra, de guardar todas as dores para ela, a amava apesar dela não querer minha ajuda em muitas coisas, apesar de não suportar a autossuficiência excessiva que ela tem, apesar de não gostar quando ela prende os cabelos, apesar de odiar o tanto que ela me faz esperar quando marcamos algum compromisso...

Eu amava apesar de todos os seus defeitos, apesar de todos os problemas, apesar de tudo que seria contrário a esse amor e foi por isso que naquela manhã eu decidi voltar e recomeçar o que nunca deveria ter terminado.

***

Depois que arrumamos Julia peguei o carro e levei as duas para o parque central, o lugar era lindo e a Lagoa com ganços parecia ainda mais bonita naquele dia ensolarado de domingo. Deus havia realmente nos presenteado com um dia maravilhoso.

Assim que saímos do carro Julia saiu puxando pipoca e a mãe pelo braço e as três começaram  a correr pela grama recém cortada do local.  Julia e Manu eram lindas, mas definitivamente diferentes, Julia era minha cópia em versão feminina.

Me sentei num banco de madeira do local e as observei brincando. Lembrei de uma conversa que tive com Manu antes mesmo de começarmos a namorar.

-A mulher que casar com você vai ser uma mulher sortuda por ter um marido gentil, prestativo e bonito, imagina como seus filhos vão ser lindos , principalmente se puxarem esses seus olhos azuis. -Falou me encarando.

-Com certeza seu marido vai ser um cara de sorte, com uma mulher inteligente, bonita, divertida e crente. -Brinquei colocando uma mecha de cabelo dela atrás de sua orelha. -Na tenho dúvida de que seus filhos serão lindos, tem uma coisa que seu marido vai ter que ter muito.

-O quê?

-Paciencia porque você é  insuportável de TPM e não sabe o quanto é  irritante quando sempre se acha certa. - Falei segurando a mão dela no ar, evitando o tapa no ombro que receberia. -É mentira, você é  incrível, mas é  chata...

Sorri ao lembrar disso, Deus realmente vê além de onde nós vemos. Eu não fazia ideia de que um dia estaríamos juntos, casados e com uma filha linda de olhos azuis e cheia de personalidade e língua afiada como a mãe.

-O que foi? -Manu perguntou sentando ao meu lado.

- Estava lembrando da gente a uns 10 anos atrás. 

-Faz tempo. -Sorriu. -Coisa Boa?

- Estava lembrando que você disse que minha esposa seria uma mulher de sorte.

-E ela é, quer dizer, eu sou.-Falou gargalhando me fazendo sorrir. -Sou  uma mulher muito grata a Deus por ter você.

- Eu te amo. - Falei e beijei  seus labios.

- Eu também te amo.

-Pai,me empurra no balanço?.  -Julia perguntou parada em minha frente com as bochechas já rosadas pelo tanto que tinha corrido atrás de nossa cadelinha.

-Claro, filha. -Me levante indo com ela até o brinquedo.

***

Manuela

Eu sabia que precisava conversar com Pedro , precisávamos esclarecer  todos os maus entendidos, eliminar de vez toda e qualquer coisa que um dia foi motivo para nos afastarmos. Mas naquele momento o vendo gargalhar com nossa filha enquanto a empurrava no balanço apenas afastei todo pensamento  a respeito dessa conversa.

Estava feliz, muito, muito feliz. Deus havia ouvido minhas orações que por vezes havia sido tão  repetidas e fadigantes. Desde que me dei conta da burrada que tinha feito com meu casamento eu busquei por ele, entendi que Deus  precisava voltar a ser o centro e enquanto á  ordem daquela relação não fosse restabelecida nada ficaria bem. Quando enfim  entendi que não dependia de mim, mas Dele  depositei no senhor todos os meus anseios, medo e dúvidas e ele operou o milagre.

Meu marido estava de volta e mal podia aguentar para ligar para mamãe e contar a novidade, sabia o quanto estava orando por nós e o quanto amava meu marido como se fosse seu  próprio filho, a quem ela chamava de filho do coração.

-Mamãe posso tomar sovete . -minha filha perguntou cheia de expectativas. 

Embora  ainda não tivéssemos almoçado não podia negar  isso a minha filha, não depois de tudo que nós havíamos privado-a de viver e fazer naqueles últimos meses.

-Só hoje em mocinha, depois nada de sobremesa antes do almoço. - Falei deixando um beijo estalado em sua bochecha.

Ela saiu correndo em direção ao pai que aguarda já próximo ao carrinho de sorvete.

-Creme com passas e chocolate.  -Pedro falou estendendo um sorvete na casquinha para mim.

-Obrigada. Ainda conhece meus gostos?

-Uma vida inteira não se esquece em seis meses.

-Tem razão. 

-Nós precisamos conversar. - Ele falou me encarando.

-Sei disso, mas pode ser depois do culto.

-Pode. -Respondeu. Naquele momento eu esperava realmente uma direção de Deus para aquela conversa que sabia que iria abrir todas as feridas novamente.

CONTINUA...

RestituiçãoWhere stories live. Discover now