Capítulo Quatro

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Manuela

Raras vezes Pedro aparecia na porta de nossa casa desde a separação fazia isso  ou para levar Julia ou para buscar algo dela. Estava me evitando a todo custo e mesmo na empresa nunca  falava mais que dois ou três minutos isso quando era algo que sua secretaria não podia resolver por ele.

Ele tinha deixado de ir aos cultos da nossa antiga congregação para frenquentar a igreja que a mãe fazia parte, mas eu me perguntava todos os dias se ele ainda estava indo. Ele decidiu que era melhor que eu ficasse e ele fosse procurar uma nova igreja já que aquela igreja em que congregavamos foi a igreja em que eu cresci e que nós  dois queríamos que Julia crescesse também, por isso eu fiquei.

Mas os primeiros meses da separação foram os piores da minha vida, além da falta e saudades absurdas que sentia dele eu ainda tinha que lidar com Julia me pedindo para ver o pai o dia inteiro e como se não bastasse ia para os cultos em busca de paz e lá encontrava muito mais pessoas para me julgar e acusar do que pessoas que me ajudassem a levantar.  Sei que não devemos olhar para as pessoas e que o nosso foco deve ser Deus, mas em determinadas situações queremos ver nas pessoas que se dizem seguidores Dele um pouco de compaixão  e solidariedade. 

Eu não estava pedindo a ninguém para achar lindo ou certo o que tinha o que tinha  acontecido, eu não achava, era errado, era loucura e era algo que eu nunca imaginei passar principalmente  por ter me casado com o meu melhor amigo e o único homem da minha vida, o verdadeiro amor da minha vida. Eu não queria ter me separado eu não queria que ele pegasse as malas e saído de casa mesmo diante do meu choro copioso e dos puxões na calça  e choro fininho de minha filha, me dói o coração só de lembrar o quanto ela sofreu com isso.

-Por favor, Pedro. - Eu segurei seu braço  enquanto ele colocava as roupas na mala que nós tínhamos  usado na nossa última viajem em família. -A gente pode continuar tentando  e... -Não conseguir segurar as lágrimas. 

Meu peito estava apertado e uma dor que me cortava por dentro fazia meu coração se partir em milhares de pedaços. Eu não fazia ideia de quanta dor  alguém poderia sentir, mas eu estava sentindo muita e muito forte.

-Olha, você fica no quarto de hóspede até tudo  se resolver, nós não precisamos ficar juntos agora, não sai de casa.

Ele não respondia nada, colocava as roupas dentro da mala. E isso me matou. Pedro sempre falou muito e quando ele calava era porque estava muito irritado ou quanto não queria machucar com suas palavras.
O que ele não sabia era que seu silêncio me feria e machucava.  As palavras não ditas podem machucar tanto ou mais do que aquelas faladas que saem como farpas, pois elas destroem em silêncio.

-Amor! Pê , por favor!  -O abracei por trás como tinha feito tantas vezes antes, mas desejei que aquele abraço fizesse ele desistir, fizesse ele ficar.

-Não! - Ele falou baixo quase num sussuro tirando minhas mãos  do seu entorno.

-Você não pode fazer isso! -Gritei virando ele para mim, ele não estava chorando, mas seus olhos narrados mostravam que ele estava sentindo dor. -Você prometeu que ficaria comigo em todos os momentos bons ou ruins, você prometeu ! PROMETEU! -Disse batendo em seu peito com toda força que pode enquanto ele estático apenas observa meu acesso de fúria.  -Até a eternidade... você disse que estaria comigo até o fim.

Ele me puxou para seus braços e me apertou no abraço, afagou meus cabelos e beijou minha cabeça várias vezes.

-Me desculpe por quebrar seu coração e todas essas promessas, mas eu não posso ficar.

-Pê! - Falei me afastando para encontrar um par de olhos azuis me encarando  com um misto de tristeza e ressentimento. -Fique por ela então, fique pela nossa filha, pense o quanto ela vai sofrer com tudo isso.

-Ela  é  uma criança Manuela. -Ali eu  sabia que ele estava realmente decidido, ele nunca me chamava pelo nome. -Ela se adapta as mudanças rapidamente, eu sinto muito por ela ter  que sofrer no início de tudo isso, mas não  eu não posso ficar.

Se havia alguma esperança ela estava acabando naquele momento, eu conhecia Pedro muito bem para saber que ele não costumava mudar de ideia depois de tomar uma decisão  e eu nunca quis tanto estar enganada. Porém naquele dia eu estava perdendo o meu melhor amigo e o meu marido de uma só vez.

-Pedro! - Falei quando ele abria a porta para sair.

-Oi! -Falou se virando em minha direção.

-Você quer jantar aqui?

Ele me olhou surpreso pelo convite e inesperadamente balançou a cabeça em afirmação.  Obrigada Deus! Agradeci internamente.

CONTINUA...

RestituiçãoWhere stories live. Discover now