Capítulo IV

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O velho imundo percebeu, claro. Então, ele chamou o carcereiro, desejando-me morte por inanição. Expliquei-lhe o ocorrido. Humano como era, determinou que o velho provasse a minha sopa. Ele recusou. "Velho maldito! Acha que não desconfiei?" O carcereiro chamou os guardas. Dois vieram e seguraram o velho, enquanto a sopa lhe descia à força pela garganta. O que presenciei foram gritos e vômitos a intervalos intermitentes. Encolhi-me no canto e tampei os ouvidos. Alguns chutes foram dados e o velho jazeu naquele piso sujo, como o rato que provara ser.

 Alguns chutes foram dados e o velho jazeu naquele piso sujo, como o rato que provara ser

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"Liberdade". Essa palavra tinha um som amargo. Não havia para onde ir ou quem encontrar ou realidade para a qual retornar. Eu poderia caminhar para qualquer direção que decidisse. O que me assustava era não saber nem remotamente o que veria depois desse horizonte.

Um dia antes de partir, Hélio deu-me um dracma, o único que possuía, para o caso de eu precisar pagar o barqueiro, fiquei emocionado. Tormento tocou outra canção do litoral e disse que se algum dia eu quisesse conhecer um lugar bom de verdade para viver, deveria procurar por "Neata", uma aldeia centenária, pacífica e de grandes homens. Guardei isso no coração. Quando estivesse perdido, procuraria por esse lugar.

 Quando estivesse perdido, procuraria por esse lugar

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Não nasci um vagabundo. Fiz-me assim. Quando criança, passava por muitas pessoas que não desviavam os olhos da opulência da minha família. Minha mãe morreu no parto. Meu pai possuía inclinação para os pecados.

Enquanto meu avô viveu, as coisas não descambaram. Mas, em pouco tempo, meu pai conseguiu dilapidar boa parte da herança em jogos e prostitutas, o de sempre. Nessa época, eu já era moço e frequentava as rodas de filosofia. Ouvia sempre um tal de Sócrates, que acabou sendo condenado à morte por envenenamento pelo mesmo tribunal que me sentenciou.


Fragmentos da vida de um pescador (Conto)Where stories live. Discover now